Entendendo a Dor no Cotovelo – Parte 5: A Verdade sobre o Cotovelo de Tenista
Eric Cressey
Hoje eu vou cobrir um problema muito comum, ainda que extremamente teimoso que nós vemos no cotovelo: cotovelo de tenista.
É também chamado epicondilite lateral, embora esse sufixo ite possa não ser correto (como discutido anteriormente nesta série) - em virtude de ser mais provável que seja uma condição degenerativa e não inflamatória – na esmagadora maioria dos casos de pessoas que a experenciam. Para levar esse enigma do nome um pouco adiante, enquanto o termo “Cotovelo de Tenista” é usado para descrever dor na face lateral do antebraço próximo ao cotovelo, jogadores de tênis frequentemente experenciam dor na face medial também (cotovelo de golfista), secundário ao stress em valgo que se vê no forehand e no saque.
Em uma população de tenistas, “cotovelo de tenista” surge quase que exclusivamente a partir de backhands (com o golpe com uma mão sendo muito mais problemático), que requerem uma enorme contribuição dos extensores do punho, não só para segurar a raquete, mas para estabilizar o punho contra as vibrações da raquete no momento que ela redireciona a bola. O trajeto da bola contra a raquete cria um torque de desestabilização que força o punho em flexão, e é trabalho destes extensores resistir a este movimento.
A pergunta lógica para muitos é: Por que ocorre dor no cotovelo quando as forças são aplicadas muito mais abaixo? A resposta se encontra nas zonas de convergência (Parte 1): existem muitos tendões reunidos em uma área congestionada, criando atrito e afetando negativamente a qualidade dos tecidos moles. No epicôndilo lateral se encontra o tendão extensor comum, que é compartilhado pelo extensor radial curto do carpo, extensor ulnar do carpo, extensor dos dedos, supinador e extensor do dedo mínimo (o extensor radial longo do carpo e o braquiorradial inserem apenas superiormente).
Se isso não convencê-lo do papel preventivo e de reabilitação do trabalho nos tecidos moles, então você poderia muito bem viver a vida com um saco sobre a cabeça. No entanto, espanta-me como muitos planos de tratamento para cotovelo de tenista não tem sequer o menor elemento de trabalho manual. Aqui está uma pequena demonstração do Dr. Nate Tiplady, com as técnicas Graston e Liberação Ativa.
Tratamento de tecidos moles, trabalho de flexibilidade e exercícios de fortalecimento progressivo para estes tecidos em degeneração fazem a bola rolar – e você pode encontrar milhares de exercícios e alongamentos online. Além disso, como Mike Reinold relatou, existem pesquisas que sugerem que órteses de cotovelo são levemente eficazes em acelerar o processo.
E o exercício excêntrico para os extensores do punho tende a mostrar a maior promessa para o retorno do tecido específico à função. Tudo isso é muito bom – mas eu acho que as vezes deixa passar um grande elefante branco na sala.
Eu trabalhei em um clube de tênis durante oito verões, fazendo de tudo desde manutenção da quadra, encordoamento de raquetes, aulas, até agendamento do horário das quadras. No final deste tempo (na época que eu comecei a me envolver com a industria do fitness), comecei a notar alguns padrões interessantes.
Quando eu olhei para fora das quadras, cerca de ⅓ dos participantes estavam usando órteses no cotovelo (na realidade pesquisas mostram que cerca de 40 a 50% de jogadores recreacionais de tênis tem “cotovelo de tenista”). Ainda que, quando eu estava no escritório com algumas partidas de tênis profissional ao fundo, eu NUNCA – e eu realmente quero dizer que não me lembro de uma única vez – ouvi falar de um jogador profissional perder jogos por causa de “cotovelo de tenista”. Como não seria no mundo profissional – que pode passar cerca de 5-6 horas por dia na quadra – não quebrar mais rápido que uma mulher idosa que joga:
a) 5-6 horas por semana, b) a um ritmo mais lento, c) predominantemente em partidas de duplas (metade de contatos na bola), d) contra adversários que batem muito mais leve na bola que um adversário profissional? Realmente não faz sentido – até que eu me envolvi com a fisiologia do exercício. Por quê?
1. Os membros eram em grande parte de idade superior a 40 – significando que eles estavam obviamente com um risco aumentado de problemas degenerativos como “cotovelo de tenista”, especialmente à luz de seus padrões de atividade.
2. Os profissionais também eram mais jovens, e o backhand com as duas mãos é nitidamente mais comum na nova geração de jogadores. O backhand com uma mão continua predominando na “velha guarda”. Pesquisas tem demonstrado uma complexidade marcadamente maior na cinética de rotação para o backhand com uma mão – portanto existem mais maneiras para as coisas irem mal nesta população mais velha.
3. Este é o maior de todos: os profissionais normalmente tem uma fundação sólida de condicionamento, significando que eles tem força, potência, coordenação, trabalho de pés (agilidade) e domínio da técnica para bater na bola de uma posição biomecanicamente segura. Os jogadores novatos com uma técnica ruim frequentemente batem na bola com os punhos flexionados e não em posição neutra; em outras palavras, eles levam com o cotovelo ao invés da raquete, tendo os extensores do punho fora da sua relação comprimento-tensão ideal.
Em uma população de não-tenistas, dor lateral do cotovelo é quase sempre em função do uso excessivo do punho com alguns realmente desagradáveis acúmulos de tecido fibrótico no epicôndilo lateral. Em uma população de tenistas, este não é apenas um problema do cotovelo; é algo que fala a uma falta de preparação do corpo inteiro, tanto física como no contexto do domínio insuficiente da técnica.
À meus olhos, a reabilitação do “cotovelo de tenista” deveria ser tratado muito como o programa de retorno de arremessar de um lançador de beisebol. O indivíduo lesionado deveria ter o cuidado de tecidos moles, flexibilidade e problemas de força no cotovelo, mas ele ou ela deveriam também estar envolvidos em um programa para melhorar a mobilidade do tornozelo, quadril e coluna torácica; core e estabilidade da escápula; força e potência dos maiores grupos musculares nos quadris e ombros que deveriam estar gerando potência, ao invés dos menores músculos agindo no punho e cotovelo.
Se você é lento para rodar seus quadris, você esta batendo na bola atrasado (punho flexionado). Se você não tem mobilidade no quadril para girar até a bola, você esta batendo na bola atrasado (ou mascando sua coluna lombar). Se você não tem estabilidade no core para transferir força a partir dos quadris, você esta batendo na bola atrasado. Se você não tem estabilidade escapular ou força no manguito rotador, você esta batendo na bola atrasado. Será que alguém vê um padrão? Trata-se de tudo, MAS o cotovelo!
Em vez disso o que temos feito? Fizemos exatamente o que pessoas preguiçosas sempre fazem: criamos aparelhos para evitar que trabalhemos realmente duro.
Nos anos 90 as companhias de raquetes introduziram raquetes grandes demais, que tinham uma área de superfície mais larga para minimizar erros (o que aumenta o stress de vibração) e aumentar a potência dos golpes (em detrimento do controle). Dane-se ficar melhor no tênis ou melhorar sua forma física; vamos apenas fazer o tênis ficar mais fácil! Como um aparte interessante para isso, as cordas arrebentam mais frequentemente em raquetes de tamanho maior também – significando que as companhias à longo prazo ganham mais em seguidas compras de cordas.
Essa raquete tem 806,5 cm² (como um quadro de referência, Pete Sampras jogava com uma raquete de 548,4 cm²):
Também na década de 90 foi introduzida a raquete de titânio. Essas coisas são absurdamente leves – ao ponto de requerer o mínimo esforço físico para balançar se você é uma mulher de 60 anos de idade em uma partida de duplas. Tanto para o exercício!
Entregamos-nos às órteses de cotovelos como doces, para que as pessoas possam voltar a jogar o mais rápido possível ao invés de endireitarem seus corpos e então praticar com um profissional qualificado que pode instruí-las na técnica apropriada como parte de um plano de retorno às batidas. Estas órteses podem ser muito valiosas se usadas apropriadamente – mas não se forem usadas como muletas com padrões de movimentos ruins e falta de preparação física.
Ninguém está chocado com a forma como é comparável o retorno à ação apresado e descuidado em jogadores de tênis adultos com o que nós vemos em jovens atletas tentando voltar muito rápido de rupturas do ligamento cruzado anterior do joelho, estiramentos no manguito rotador ou fraturas por stress? Eles dizem que o retiro é a segunda infância; eu acho que eles estão certos!
Então alguns pontos para levar para casa sobre “cotovelo de tenista”:
1. Cuide da qualidade do tecido no epicôndilo lateral junto com quaisquer exercícios de alongamento e de resistência para os músculos do antebraço.
2. Condicione o corpo inteiro como parte da reabilitação.
3. Suavize a volta à participação ao tênis, e volte sob a supervisão de alguém que possa corrigir as falhas mecânicas em seu backhand se você tem um histórico de “cotovelo de tenista”.
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