Articulação por Articulação – Mike Boyle
"Nos tornamos velhos muito rápido e inteligentes muito tarde" - Provérbio Sueco
Meu grande amigo, fisioterapeuta Gray Cook, tem o dom de simplificar tópicos complexos. Sinceramente, eu invejo sua habilidade de sucintamente pegar uma idéia complicada e fazê-la parecer simples como nunca. Em uma recente conversa sobre os efeitos do treinamento no corpo. Cook produziu uma das mais lúcidas idéias que eu ja ouvi em minha carreira.
Gray e eu estávamos discutindo a respeito dos achados da "Functional Moviment Screen", as necessidades específicas das articulações e como suas funções se relacionam ao treinamento físico. Uma das grandes virtudes da FMS é que a avaliação nos permite distinguir problemas relacionados com estabilidade dos problemas relacionados com mobilidade. As idéias de Cook eram simples de serem interpretadas e me levaram a concluir que o futuro do treinamento físico deve baseado num conhecimento funcional das articulações ao invés de um embasamento voltado para movimento.
A análise corporal que Gray realizou foi muito simples e direta ao ponto. Na sua opinião, o corpo é um montante de articulações. Cada articulação ou série de articulações possui uma função específica dentro do sistema de locomoção, e é esperado que ocorram disfunções. Como resultado, cada articulação tem uma necessidade de treino específica. O quadro seguinte mostra o corpo dividido por suas articulações e suas necessidades.
Tornozelo → Mobilidade Plano Sagital
Joelho → Estabilidade
Quadril* → Mobilidade Multiplanar
Lombar → Estabilidade
Torácica → Mobilidade
Escapulotorácica → Estabilidade
Glenoumeral* → Mobilidade Multiplanar
A primeira que o leitor deve perceber ao ler o quadro acima é que as articulações simplesmente alternam mobilidade e estabilidade. O tornozelo precisa de melhor mobilidade enquanto o joelho precisa de melhor estabilidade. Na sequência, é aparente que o quadril necessita de maior mobilidade. E o processo segue cadeia acima, com uma simples e alternada series de articulações.
Nos últimos 20 anos, nos progredimos de uma antiquada metodologia de treinamento com base em partes do corpo (com todo perdão aos fisiculturistas ou bodybuilders) para uma processo mais inteligente de treinamento baseado em padrões de movimento. De fato, a frase "movimento, e não músculo" esta quase de tornando fora de moda, e francamente, isso é parte do progresso. Eu acredito que os bons profissionais, especialistas em exercício, já desistiram do antiguíssimo método peito-ombro-tríceps e seguiu em frente passando a se basear em puxar-empurrar-dominante de quadril-dominante de joelho.
Curiosamente, hoje acredito que esse processo "movimento, e não músculo" deve dar mais um passo adiante. Eu acredito que lesões tem relação direta com as funções articulares, ou mais apropriadamente, com as disfunções articulares. Confuso? Não custa nada esclarecer. Problemas em uma articulação geralmente surgem como dor na articulação logo acima ou logo abaixo.
A ilustração mais simples é a lombar. Parece ser óbvio, com base nos avanços científicos na última década, que precisamos de estabilidade de tronco. Também é evidente que muitas pessoas sofrem de dores nas costas. A parte interessante esta em cima de teoria por traz das dores na lombar. Minha teoria do que causa a dor? Perda de mobilidade no quadril. Perda de função da articulação logo abaixo (no caso da lombar, o quadril) parece afetar a articulação ou articulações logo acima (coluna lombar). Em outras palavras, se o quadril não pode se mover, a lombar fará o serviço. O problema é que o quadril foi feito para gerar mobilidade e a lombar para gerar estabilidade. Quando a articulação supostamente mobilizadora perde sua característica, a articulação estabilizadora é acionada para gerar mobilidade compensatória, tornando-se menos estável e subsequentemente desconfortável.
O processo é simples:
• Perda de mobilidade no tornozelo, presença de dor no joelho.
• Perda de mobilidade no quadril, presença de dor na lombar.
• Perda de mobilidade na coluna torácica, presença de dor no pescoço, ombro ou até mesmo lombar.
Essa analise feita através da funcionalidade articular parece fazer muito sentido. Um tornozelo restrito em mobilidade faz com o estresse da queda depois de um salto se transfira para a articulação logo acima: o joelho. De fato, acredito que exista uma relação direta entre a rigidez de um tênis de basquete, a quantidade de tape e estabilizadores artificiais (braces) com a enorme incidência de síndrome patelofemoral em jogadores de basquete. Nosso desejo em proteger um tornozelo instável tem um custo alto. Nós descobrimos que muitos dos nossos atletas com dores do joelho tem um problemas com mobilidade de tornozelo correspondente.
Uma das exceções a regra é o quadril. O quadril pode ser restrito em mobilidade e instável, causando dores no joelho devido a instabilidade (um quadril fragilizado permitira rotação interna e adução do fêmur) ou dores na lombar por restrição em mobilidade. Agora, como uma articulação pode ser restrita e instável é uma pergunta interessante.
É percebível que fragilidade no quadril, em flexão ou extensão, causa ação compensatória na coluna lombar, enquanto abdutores ineficientes (ou mais precisamente, prevenção de adução) causam estresse no joelho. Ativação ineficiente de psoas e ilíaco causarão padrões compensatórios de flexão lombar em substituição à flexão de quadril. Ativação ineficiente de glúteo Máximo causara um padrão de extensão compensatória da lombar que tentara substituir extensão do quadril. Curiosamente, essas compensações alimentam um ciclo vicioso. A coluna gera mobilidade para compensar a perda de mobilidade e força do quadril. Percebe-se que perda de força no quadril gera perda de mobilidade, e essa perda de mobilidade gera mobilidade compensatória da coluna. O resultado final é uma interessante xarada: uma articulação de necessita de estabilidade e mobilidade em planos múltiplos.
Este é um trecho do livro Avanços no Treinamento Funcional de Michael Boyle. Muito bom o livro.
ResponderExcluirDe fato o Boyle incorporou este artigo no livro dele, mas na época, em 2010, ele só tinha escrito o Functional Training for Sports.
ExcluirO fato que a junção do Boyle e Cook é um complementando o outro!! É sensacional
ExcluirNão uso mais esse modelo dos 2, mas trouxeram o que considero um avanço para época.
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