quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Subsistema Lateral

Dando continuidade à série dos subsistemas, desta vez apresentando o Subsistema Lateral.

Aos que não leram os artigos anteriores:
Subsistema Longitudinal Profundo.

- Subsistema Oblíquo Anterior.

Link do artigo original: Lateral Subsystem.  






Subsistema Lateral

Brent Brookbush


O Subsistema Lateral é composto por:

  • Glúteo Médio
  • Adutores
  • Quadrado Lombar Contralateral
  • Tensor da Fáscia Lata
  • Nota: O tensor da fáscia lata não é tradicionalmente visto como parte do Subsistema Lateral. No entanto, baseado nas minhas considerações de anatomia, função, pesquisas disponíveis e observações na prática, adicionar este músculo ao subsistema adiciona congruência ao nosso entendimento de sinergias musculares, comportamento motor e modelos preditivos de problemas de movimento. 

(N.T: A imagem abaixo mostra uma outra representação desse subsistema. Com a adição do tensor da fáscia lata)




Função (resumida):

Estabilização no plano frontal do Complexo Lombopélvico/Quadril, transferência de força entre as extremidades superior e inferior, papel ativo em todos padrões integrados (que usam o corpo todo) no plano frontal e em padrões de movimento unipodais (N.T: Em uma perna só, como quando nos apoiamos em uma perna ao subir em um degrau por exemplo)





Artrocinemática Funcional:

Este subsistema desempenha um papel chave no bom alinhamento da articulação do quadril, pelve, articulação sacroilíaca e coluna lombar. Mais notadamente na manutenção da pelve neutra no plano frontal, com a coluna perpendicular à ela. Este subsistema provavelmente é mais ativo durante padrões de movimento unipodais e no plano frontal.

A incapacidade do subsistema lateral de manter estas posições, resulta em flexão ipsilateral da coluna, depressão da pelve contralateral (ponto de referência: crista ilíaca) e adução relativa do fêmur ipsilateral. 

(N.T: Tomemos como ponto de referência os adutores e abdutores da figura acima. Então quando falarmos em ipsilateral, isto é, do mesmo lado, estaremos nos referindo ao lado esquerdo da figura acima, que é onde estão os adutores/abdutores. Quando nos referirmos a contralateral, isto é, o lado contrário, estaremos nos referindo ao lado direito da figura.
Quando ele fala em adução relativa do fêmur, está se referindo a "movimento relativo" do fêmur em relação à pelve. O fêmur não move, mas a queda da pelve faz com que ele "em relação à pelve", esteja aduzido).

Isto tudo resulta em uma disfunção artrocinemática, incluindo:
- Compressão das articulações facetárias e discos intervertebrais ipsilaterais.
- Rotação e deslizamento da articulação sacroilíaca.
- Deslizamento superior da cabeça do fêmur no acetábulo.
                                           
A disfunção do subsistema também pode resultar em "colapso em valgo" dos joelhos (inibição no glúteo médio e dominância sinergística dos adutores anteriores), ou em um "varo" (dominância dos adutores magnos posteriores) durante os movimentos, incluindo a avaliação do agachamento com os braços acima da cabeça (N.T: O que os americanos chama de "Overhead Squat Test"). A propósito, isto pode levar à um encurtamento adaptativo da cápsula articular posterior e inferior, contribuindo ainda mais para o deslizamento superior e anterior da cabeça do fêmur no acetábulo.

Patologias comuns que podem resultar destas disfunções, incluem:
- Síndrome do impacto no quadril.
- Estiramentos musculares nos adutores.
- Mudanças degenerativas do labrum.
- Através do tempo, alterações osteoartríticas da superfície anterior e superior do acetábulo.

Sinal de Trendelenburg positivo - Notar a queda do quadril direito, resultando numa adução relativa do fêmur esquerdo e a flexão lateral da coluna para a esquerda
(N.T: Sinal de Trendelemburg positivo é quando o quadril cai para o lado da perna que está no ar, quando estamos apoiados em uma perna só)


Função Integrada:

Embora fiquemos tentados a considerar a flexão (lateral) e movimentos laterais como a função primária desse subsistema, ele serve à um propósito mais importante. Flexão lateral e movimentos laterais simplesmente não compõem uma porção muito grande de nossos movimentos diários para serem considerados uma grande preocupação para a maioria dos indivíduos. No entanto, o subsistema lateral funciona como estabilizador primário para estabilização do complexo lombopélvico/quadril. Todas atividades unipodais (N.T: Apoiado em uma perna somente) nos planos sagital, frontal e transverso irão criar uma necessidade de estabilidade do complexo lombopélvico/quadril no plano frontal. Quando o subsistema lateral está disfuncional, podemos notar uma inclinação do quadril, queda no quadril oposto (Sinal de Trendelenburg positivo), joelhos para dentro ou para fora durante posturas estáticas e dinâmicas. É papel desse subsistema manter um alinhamento e postura ideais para assegurar uma relação comprimento/tensão apropriada, eficiência neuromuscular e artrocinemática ideais. (N.T: Relação comprimento/tensão: O músculo tem um comprimento ideal para poder gerar o máximo de tensão. Se ele se encontra alongado ou encurtado em demasia no começo da contração, não irá gerar a quantidade ideal de tensão, ou seja, menos força será produzida).
A função integrada deste subsistema pode ser resumida como:
"Manter a coluna reta, pelve nivelada e fêmur alinhado" 

A falha do subsistema lateral (na figura representado apenas pelo glúteo médio) levando à queda do quadril oposto, o esquerdo nesse caso, elevação do quadril direito, adução relativa do fêmur direito e flexão lateral da coluna para a direita

A falha no subsistema lateral também pode afetar a posição dos joelhos


Comportamento Motor:

O subsistema lateral pode ser apelidado de "Subsistema Vítima" já que ele frequentemente se torna disfuncional como resultado de problemas em outros subsistemas e/ou discinesia da coluna lombar, articulação sacroilíaca ou quadril. Ele frequentemente faz par com o Subsistema Posterior Oblíquo que se encontrará sub-ativo e com o Subsistema Longitudinal Profundo que se encontrará hiperativo. 

Geralmente, disfunção neste subsistema leva à dominância sinergística do quadrado lombar, tensor da fáscia lata e adutores. A propensão do quadrado lombar de tornar-se hiperativo parece ser reforçada pela relação com a articulação sacroilíaca que se torna "presa" ou deslocada (Mais sobre disfunção da articulação sacroilíaca nesse artigo: Sacroiliac Joint Dysfunction) resultando em uma hiperatividade reflexa desse músculo.  

Seja por meio de uma inibição recíproca alterada estimulada pelos adutores
(N.T: Os músculos trabalham em conjunto para produzir movimento, enquanto alguns devem contrair para produzir movimento, outros contrair para estabilizar determinadas articulações, enquanto outros devem relaxar para permitir movimento. Quando há uma alteração nessa coordenação, um ou mais músculos se tornam dominantes. Geralmente se referem à inibição recíproca dando o exemplo de um músculo que deve contrair enquanto outro deve relaxar, como no caso de uma flexão de cotovelo: Bíceps deve contrair e o tríceps deve relaxar. Porém o conceito é mais amplo, dada a complexidade envolvida no movimento).


ou um atraso na ativação do glúteo médio em relação à um tensor da fáscia lata hiperativo, a disfunção no subsistema lateral quase sempre resulta em hipoatividade do glúteo médio, e isto é comumente notado durante a avaliação sob a forma de um Sinal de Trendelenburg positivo - A inabilidade de manter a pelve neutra durante a postura unipodal.
Como mencionado em um artigo sobre o quadrado lombar (N.T: Artigo: Quadratus Lumborum), hiperatividade dos estabilizadores globais provavelmente resultam em inibição 
do Subsistema Intrínseco de Estabilização (N.T: Inibição é um termo corrente usado pelos praticantes do Método NKT para se referir à músculos que sofrem de hipoatividade, atraso de estabilização ou qualquer outro sinônimo que indique um estado não ideal da função muscular). 


Resumo das Disfunções no Subsistema Lateral:

  • Dominância Sinergística:
  • Quadrado lombar
  • Adutores
  • Tensor da fáscia lata
  • Inibição:
  • Glúteo médio
  • Subsistema intrínseco de estabilização 

Em disfunções do membro superior, o subsistema lateral raramente desempenha algum papel; no entanto, existem alguns cenários em que este subsistema pode ser afetado. Em alguns casos de disfunção do membro superior, a hipoatividade do subsistema intrínseco de estabilização leva à hiperatividade dos músculos globais de estabilização do tronco.
(N.T: Na realidade, uma crença mais recente entre os praticantes do Método NKT, como o autor desse artigo, é a de que os músculos hiperativos levam a hipoativação de outras funções musculares. O que neste cenário descrito pelo autor seria: "Em alguns casos de disfunção do membro superior, a hiperatividade dos músculos globais de estabilização do tronco levam à hipoatividade do subsistema intrínseco de estabilização". O contrário do que o autor colocou).
Dentre estes estabilizadores globais, se incluem: O latíssimo do dorso, Subsistema oblíquo anterior e o Subsistema lateral.
Os adutores sendo parte dos subsistemas lateral e oblíquo anterior, junto com o quadrado lombar (propensão a se tornar hiperativo) fazem com que isso seja um problema para indivíduos com um longo histórico de disfunção do membro superior. 

Um segundo cenário, envolvendo o subsistema lateral em disfunções do membro superior envolve assimetria. Se um lado do membro superior é mais afetado do que outro, levando à rigidez do latíssimo do dorso em um lado, disfunção da articulação sacroilíaca e assimetria direita/esquerda do complexo lombosacral (Ex: Inclinação do quadril) o subsistema lateral irá desenvolver uma disfunção assimétrica.

Em disfunções do complexo lombopélvico/quadril, o subsistema lateral pode tornar-se disfuncional sob a forma de subatividade do Subsistema Oblíquo Posterior e hiperatividade do Subsistema Longitudinal Profundo, levando à discinesia do complexo lombosacral.

Em disfunções da parte inferior da perna, o subsistema lateral é comumente disfuncional. Isto devido em grande parte à rotação externa relativa da tíbia e rotação interna do fêmur e eversão do tornozelo, levando à instabilidade do membro inferior no plano frontal. Deve ser notado que a disfunção do subsistema lateral é frequentemente pareada com a relação entre os subsistemas descritas abaixo, em que o Subsistema Oblíquo Posterior é subativo e o Subsistema Longitudinal Profundo é hiperativo. A integração entre os subsistemas durante disfunções da parte inferior da perna é o uso mais comum dos exercícios de integração do subsistema lateral.  


Subsistemas, Disfunção Postural e Seleção de Exercícios Integrados:

Os resumos abaixo são destinados à uma referência rápida, na prática, e não ilustram todos os possíveis cenários.
(N.T: Os quadros abaixo são os mesmo apresentados nos artigos anteriores sobre os subsistemas).

Atividades dos Subsistemas Baseado na Disfunção Postural:













     

Efeito no Exercício:







                                          

Resumo:











                           

Seleção de Exercícios:

Se a avaliação de movimento nos leva a crer que o Subsistema Lateral é disfuncional, considere as seguintes mudanças no seu programa de exercícios.

  • Nota: Ao contrário de outros subsistemas, este subsistema não é facilmente rotulado como "subativo" ou "hiperativo". Músculos individuais necessitarão ser avaliados (N.T: Tenho visto na prática que o Método NKT é uma maneira rápida e eficiente de avaliar os componentes dos subsistemas, de maneira individual, isto é, dos músculos que os compõem, para depois avaliar as relações entre as funções musculares desses componentes) para depois então usarmos técnicas inibitórias, de alongamento e de ativação para tratar o comportamento apresentado pelos componentes do subsistema. Somente depois disso usaremos os exercícios de integração do subsistema lateral, resultando em melhores chances do trabalho ser bem sucedido.
    (N.T: Abaixo ele faz várias recomendações baseado no comportamento comum das funções musculares dos elementos do subsistema lateral. Lembro sempre de uma máxima repetida pelo David Weinstock, criador do Método NKT: NÃO EXISTEM ABSOLUTOS! Então as coisas podem se apresentar de maneira diferente).

 Liberar e Alongar:      
        Quadrado lombar
        Adutores
        Tensor da fáscia lata

 Ativar:
       Glúteo médio
       Subsistema intrínseco de estabilização

 Mobilizar: (quando necessário e dentro de seus limites profissionais)
      → Coluna lombar
      → Sacro
      → Quadril


Núcleo:
Use pranchas laterais como parte de sua rotina. Limite a flexão lateral da coluna lombar, já que o quadrado lombar tende a se tornar hiperativo.


Prancha lateral


Integração do Subsistema/Seleção de Exercícios Globais: 
Os exercícios usados para integrar o subsistema podem ser resumidos em "Unipodais com Séries de Ombro - de preferência no Plano Frontal". As roscas (N.T: As famigeradas "roscas bíceps") e séries de ombro são usadas para progressivamente deslocar o centro de massa para cima; criando um maior braço de alavanca para desafiar o subsistema lateral a resistir. 
(N.T: Uma progressão que ilustra o tipo de exercício que o autor usa para integrar o subsistema lateral pode ser visto acima; um step up - ou subida em português - com rosca bíceps e desenvolvimento de ombros).


Treinamento Resistido: 
Não existe diferença entre os exercícios selecionados para Integração do Subsistema e os Movimentos Globais usados no Treinamento Resistido. Se alguém se apresenta com um subsistema lateral subativo, o ideal pode ser continuar com exercícios "Unipodais com Séries de Ombro - de preferência no Plano Frontal". Pode também ser benéfico integrar tanto atividades em uma perna quanto a habilidade individual do executante permitir.
  • Se você escolher usar o mesmo exercício para ambos (Integração dos Subsistemas e Movimentos Globais), então o último exercício do aquecimento será o primeiro do programa de treinamento resistido; sem a necessidade de repetir séries.
  • Se o cliente já solucionou a maioria das suas disfunções, você pode adicionar outros padrões de movimento globais que podem ou não estarem relacionados com sua disfunção de movimento.
  • Poderíamos dizer que uma vez que seja completado um aquecimento integrado; o conhecimento da avaliação de movimento e dos subsistemas irão influenciar, e não ditar, a seleção dos exercícios resistidos.




Bibliografia:

  1. Dr. Mike Clark & Scott Lucette. "NASM Essentials of Corrective Exercise Training". 2011 Lippincott Williams & Wilkins.
  2. Donald. A. Neumann. "Kinesiology of the Musculoskeletal System: Foundations of Rehabilitation" - 2nd Edition. 2012.
  3. Carolyn Richardson, Paul Hodges, Julie Hides. Therapeutic Exercise for Lumbo Pelvic Stabilization - A Motor Control Approach for the Treatment and Prevention of Low Back Pain" - 2nd Edition. Elsevier Limited, 2004.

Um comentário:

  1. Excelente!Tenha uma disfunção que incomoda devido a uma deformação das costelas por choque... ParÉ certo que isso está afetando minha sacroiliaca, pois como sou alto, meu centro de gravidade do esta justamente na lilha dse deformação. Muita carga está sendo transmitida para a sacroiliaca.

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