domingo, 26 de outubro de 2014

Notas Sobre Anatomia Funcional - Parte 4

Dando continuidade a série de anatomia funcional...uma das frases contidas no material, que creio melhor descrevem a importância de se ter esse conhecimento anatômico é: "A estrutura dita a função, se não entendemos a estrutura, não seremos capazes de entender a função e programar de acordo". 

Aos que não leram as 3 primeiras partes, aí vão os links:
Notas Sobre Anatomia Funcional - Parte 1
Notas Sobre Anatomia Funcional - Parte 2
Notas Sobre Anatomia Funcional - Parte 3


Notas Sobre Anatomia Funcional - Parte 4
Marcus Lima

Antes de começar com o primeiro músculo, as fibras posteriores do glúteo médio, revisemos o que foi dito a respeito das fibras anteriores dele:


Glúteo Médio (fibras anteriores): 

Função Primária: Abdução, FLEXÃO e rotação INTERNA do quadril.

Implicações:
- Funciona de maneira similar ao tensor da fáscia lata e glúteo mínimo.

- Contribuinte para dor ântero-lateral no joelho.

- Tem uma arquitetura semelhante ao deltóide (pensar nas funções do deltóide anterior x posterior). Diferentes porções dos músculos as vezes desempenham diferentes funções.

- Uma compensação comum causada por esta por porção do glúteo médio anterior é a flexão com rotação interna do quadril (no momento da flexão do quadril acima de 90º).
  

- Tem a tendência de se sobrepor às fibras posteriores. Assim como outras estruturas anteriores do quadril, tende a ser sobrecarregado, tornando-se rígido.



Glúteo Médio (fibras posteriores): 

Função Primária: Abdução, EXTENSÃOrotação EXTERNA do quadril.

Implicações:
Devido à posição de adução e rotação interna do quadril, acaba ficando em uma posição que coloca suas fibras em alongamento e por conseqüência incapazes de exercer tensão apropriada e por conseguinte afetando a estabilidade do joelho (por isso é considerado geralmente como: alongado/fraco).
Adução e rotação interna do quadril. Teste: Step Down

- Considerado o estabilizador chave do quadril. É necessário haver um equilíbrio de forças entre estruturas anteriores do quadril, como o tensor da fáscia lata e as fibras anteriores do glúteo médio (que exercem força anterior no trato iliotibial – e por conseqüência no joelho) e as estruturas posteriores, as fibras posteriores do glúteo médio (que irão também exercer uma força posterior no trato iliotibial). Esse equilíbrio ou a falta de tem implicações na dor patelofemoral.

- Frequentemente inibido pelo quadrado lombar, músculos anteriores do quadril (tensor da fáscia lata, fibras anteriores do glúteo médio), etc.

- Notem que as fibras anteriores e posteriores do glúteo médio tem a mesma função no plano frontal: abdução do quadril, mas possuem funções antagônicas no plano transverso (fibras anteriores: rotação interna; fibras posteriores: rotação externa) e no plano sagital (fibras anteriores: flexão; fibras posteriores: extensão). 




Vasto Medial: 
Função Primária: Extensão do joelho, rotação interna da tíbia com o joelho em flexão.

Implicações:
- Fundamental na estabilização patelar (ao exercer uma força medial na patela: cabo de guerra contra as estruturas que puxam a patela lateralmente).

- Na maior parte das vezes inibido, com as estruturas que exercem tensão lateral, sendo dominantes (vasto lateral, trato iliotibial), por vezes com a conseqüência de dor lateral no joelho.

- As fibras distais do músculo, o chamado vasto medial oblíquo (chamado assim pela orientação das fibras) são as que se tornam inibidas durante traumas no joelho (o termo inibido representa um atraso no tempo de resposta da ativação do músculo).

- Nas palavras do apresentador do material, o Mike Robertson, uma possível abordagem nesses casos seria:
      - Liberação das estruturas laterais (através das técnicas disponíveis: manuais ou de autoliberação): vasto lateral, glúteo médio anterior, tensor da fáscia lata.
- Ativação da porção posterior do glúteo médio.
A tradicional crença no fortalecimento do vasto medial oblíquo talvez não seja possível de ser realizada. 
E nas minhas palavras, provavelmente após isso, tenhamos de integrar essa abordagem sugerida em outras atividades: treino de força unilateral de membros inferiores, saltos unilaterais com ênfase inicial na desaceleração, etc. Lógico que cada caso deve ser analisado individualmente.
À esquerda: Agachamento unilateral; À direita: salto unilateral na caixa (ou box hops, em inglês)



Reto abdominal: 
Função Primária: Flexão do tronco, depressão do gradil costal, retroversão pélvica. 

Implicações:
- Alongado/fraco (mesmo raciocínio exposto acima em relação às fibras posteriores do glúteo médio), devido a anteversão pélvica, especialmente sua porção distal (que insere na sínfise púbica).

- Prescrever abdominais tradicionais (crunches na língua inglesa) é a solução? Estaremos treinando apenas uma função: a flexão do tronco. Lembrar do encurtamento adaptativo, para aqueles que fazem milhares de abdominais diariamente. Neste cenário, é provável que a função do glúteo sofra, tornando-se inibido e contribuindo para todos tipos de disfunções: lombar, joelho, isquiotibiais, adutores, etc.


- Na primeira implicação, vemos um cenário: posição alongada; na segunda, outro cenário: posição encurtada. É necessário que haja um alinhamento neutro da pelve.

- Talvez seu papel mais importante seja a de prevenir movimento: Função "anti-extensão lombar", e não produzi-lo, embora possa fazê-lo e muitas vezes seja necessário que o faça em muitas atividades.

- A estrutura dita a função, se não entendemos a estrutura, não seremos capazes de programar de acordo.

- De acordo com Stuart McGill (reconhecido expert na área da coluna lombar), necessitamos de estabilidade na lombar, mobilidade nos quadris e coluna torácica, a fim de poupar a lombar de carga excessiva. Um conceito já bastante conhecido, estabilidade no centro, mobilidade acima e abaixo dele.



Peitoral maior: 
Função Primária: Flexão e adução horizontal do ombro, rotação interna da articulação glenoumeral (com uma puxada anterior da cabeça do úmero).

Implicações:
- Roda a cabeça umeral internamente, mas  além disso a puxa anteriormente. 

- Duas porções diferentes: esternal e clavicular.

- Rígido/sobrecarregado em virtude de postura e treinamento.

- Síndrome do "supino", comum em frequentadores de academias, excesso do padrão de empurrar em comparação com a falta do padrão de puxar no treinamento (desequilíbrio entre os padrões no treino de força).

- Quantos pessoas passam horas sentadas? = Postura adaptativa.




Peitoral menor: 

Função Primária: Protração (abdução) da escápula, depressão e rotação inferior da escápula, estabilização escapular. 

Implicações:
- Notar a inserção no processo coracóide: Implicações no deslizamento anterior da escápula ("Síndrome do deslizamento anterior da escápula": Causando impacto nos tecidos moles através da diminuição do espaço sub-acromial).

- Melhor tratamento são métodos manuais de liberação para este músculo.
Rotação superior e inferior da escápula
Espaço subacromial



Trapézio superior: 


Função Primária: Elevação e rotação superior da escápula.

Implicações:
- Rígido/sobrecarregado em virtude de postura e treinamento.

- Dominante em relação ao trapézio médio e inferior.

- Par de forças juntamente com serrátil anterior e trapézio inferior para produzir rotação superior da escápula, precisam trabalhar sinergisticamente de maneira apropriada, a fim de não ocorrer um desequilíbrio que leve a compensações e consequentemente a problemas no ombro. O serrátil anterior é parte importante da equação, tende a ser inibido frequentemente pelas fibras superiores do trapézio.

- Podem estar inibidos, embora não seja comum.  



Levantador da escápula: 
Função Primária: Elevação e rotação inferior da escápula.

Implicações:
- Culpado por associação com o trapézio superior - pessoas com ombros encolhidos no computador por exemplo.

- Implicações em dores de cabeça e dor na borda medial da escápula.

- Compensação em pessoas com impacto no ombro. Se o supraespinhoso por alguma razão, se encontra impedido de realizar a sua função de elevar o úmero nos primeiros 15º do 

movimento (devido a lesão, alguma ruptura ou inibição), o levantador da escápula compensa encolhendo o ombro (provavelmente com alguma participação do trapézio superior) colocando o úmero em uma posição de aproximadamente 15º de abdução para que o deltóide possa assumir o movimento dali por diante. 

- Sempre observar a relação entre a borda medial e lateral da escápula. Em pessoas com "Síndrome de rotação inferior da escápula": Pessoas com a escápula rodada inferiormente, comum em quem senta por longas horas no computador com o teclado ou os braços da cadeira muito baixos, a borda medial da escápula ficará mais próxima à coluna torácica. O resultado comum, é rigidez no rombóide, levantador da escápula e inibição do serrátil anterior, com consequências diversas: dor medial na escápula, dores de cabeça, impacto no ombro, etc.



Esternocleidomastóideo:
Função Primária: Rotação no lado OPOSTO à contração (Ex: quando o lado direito contrai, a cabeça gira para a esquerda), flexão lateral do pescoço (no lado da contração), agindo em conjunto flexionam o pescoço. 

Implicações:
- Protrusão do pescoço (cabeça à frente).

- Dominante em relação aos flexores profundos do pescoço (músculos longo da cabeça e longo do pescoço). 

- Puxa a cabeça anteriormente (postura da cabeça a frente).




Redondo Maior:
Função Primária: Extensão e adução horizontal do ombro, rotação interna da articulação glenoumeral.

Implicações:
- Rígido/sobrecarregado em virtude de treinamento e postura (excessiva rotação interna do úmero).

- “Mini grande dorsal”, funções parecidas, embora não o mesmo comprimento de alavanca do grande dorsal.







Trapézio médio e inferior:
Função Primária: Médio: retração (adução) da escápula; Inferior: depressão, retração e rotação superior da escápula.

Implicações:
- Frequentemente inibidos pelas fibras superiores.

- Difícil de serem treinados, difícil das pessoas terem a percepção do que devem fazer nos exercícios de ativação das fibras médias e inferiores do trapézio.

- Trapézio inferior forma uma combinação de forças com o serrátil anterior e o trapézio superior na rotação superior da escápula (relação explicada mais acima no artigo).


Breve a parte final do artigo...

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