sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva: O Fundamento do Treinamento Funcional - Parte 2

Aí está o complemento do artigo sobre Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva escrito pelo Lee Burton, que como já dito anteriormente é um dos criadores do FMS e será novamente um dos palestrantes do Summit Internacional do Movimento que ocorrerá na ensolarada Fortaleza na primeira quinzena de março.
Aos que ainda não leram a primeira parte do artigo, aqui está o link: Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva: O Fundamento do Treinamento Funcional - Parte 1
Nesta segunda parte Lee Burton fala de algumas das técnicas usadas no PNF bem como alguns de seus padrões.
Agradeço ao auxílio do fisioterapeuta Leandro Giacometti da Silva - Instrutor Assistente IPNFA (sigla que equivale a Associação Internacional de PNF), na tradução dos nomes em inglês das técnicas e as consultas via facebook que me auxiliaram a escrever as notas do tradutor, valeu meu camarada.

Creio que os amigos apreciarão a leitura.
Abraço a todos.


Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva:
- O Fundamento do Treinamento Funcional - 
Lee Burton


As técnicas usadas no PNF para fortalecimento, replicam movimentos e contrações musculares de muitas atividades físicas. A técnica de Iniciação Rítmica é usada tipicamente para auxiliar na educação do início do movimento (N.T: Usada em pessoas que apresentam dificuldade de iniciar e coordenar um movimento). Ela incorpora um padrão passivo, depois ativo assistido e então passa a ativo resistido, evitando um alongamento reativo (N.T: Um alongamento rápido, que por sua vez faz com que os fusos musculares contraiam, sendo que uma vez que os fusos musculares contraem fazem com que as fibras extrafusais, as fibras musculares em si, também contraiam). A técnica de Reversão Dinâmica é usada para a coordenação de um agonista e um antagonista (N.T: Muitas atividades funcionais, incluindo a marcha, requerem movimentos recíprocos. Esta técnica é usada para trabalhar a reversão da direção do movimento, com a fadiga diminuída e a força aumentada). É desempenhada por uma contração de um antagonista contra uma resistência seguida por uma contração do agonista.
O fortalecimento em uma amplitude de movimento específica pode ser completado com diferentes métodos. A técnica de Contração Repetida requer uma contração muscular repetida, uma vez que o músculo se torna fadigado, ela é suportada por um alongamento com uma contração concêntrica e excêntrica através da amplitude de movimento (N.T: Desta vez se usa o reflexo de estiramento citado anteriormente. A um padrão que já está alongado, é dado um breve e rápido estímulo de alongamento extra, produzindo então um reflexo de estiramento o que faz com que o movimento subsequente seja mais forte).

As técnicas de alongamento são usadas mais frequentemente para inibir espasticidade (N.T: Uma rigidez muscular excessiva, patológica). Existem 2 conceitos inibitórios que são aplicados durante os alongamentos do PNF. Inibição Autogênica depende das fibras nervosas de um músculo em alongamento causarem um relaxamento a esse músculo, causando portanto um maior alongamento (N.T: A inibição autogênica ocorre quando há uma tensão excessiva às fibras musculares, fazendo com que o Órgão Tendinoso de Golgi entre em ação, ele envia um sinal ao sistema nervoso central, cuja resposta é um sinal inibitório fazendo com que as fibras musculares envolvidas relaxem).
Inibição Recíproca envolve um efeito entre agonista e antagonista. A fim de um agonista contrair para gerar movimento o antagonista entra em um relaxamento reflexo para permitir a ocorrência do movimento. Prentice4 identifica as seguintes técnicas de alongamento do PNF para aumentar força muscular, resistência e coordenação:

1 - Contrair-Relaxar: Contrair-Relaxar é usado para ganhar amplitude de movimento restrita por encurtamento muscular. O paciente deve ser colocado em uma posição alongada. Ele é então instruído a contrair (N.T: Contração isotônica, o que significa que ele deve tentar vencer a resistência do terapeuta) contra a resistência do terapeuta e então relaxar. O paciente pode então ser colocado de volta a posição alongada. 
2 - Manter-Relaxar: é uma técnica similar, exceto que a contração ocorre isometricamente (N.T: Ambas as técnicas são similares e promovem relaxamento e um aumento subsequente na amplitude de movimento. Além da diferença no tipo de contração, geralmente a técnica de Contrair-Relaxar é utilizada quando não há dor envolvida no movimento, enquanto que a técnica de Manter-Relaxar é geralmente utilizada quando existe a presença de dor no movimento ou nos segmentos envolvidos).

3 - Reversão Dinâmica - Manter-Relaxar:  Envolve a contração de agonista e antagonista. Primeiro o antagonista contrai as articulações envolvidas na amplitude de movimento, o que causa um efeito de relaxamento e alongamento ao antagonista. Então, o agonista relaxa enquanto o antagonista contrai isometricamente. O passo final é outra contração do músculo agonista. Esta técnica de alongamento deve ser considerada sob o ponto de vista do antagonista (N.T: Ou seja, ele é o músculo alvo a ser alongado), que é Relaxa-Contrai-Relaxa.


Os padrões de PNF são usados para as extremidades superiores e inferiores e são divididos em D1 (diagonal 1) e D2 (diagonal 2) (N.T: Na verdade existem muito mais padrões dentro do PNF como padrões de escápula, padrões de pelve, de marcha, etc. que não são discutidos neste texto. Bem como variações dentro das diagonais de membros superiores e inferiores). O padrão da extremidade superior abarca o ombro, cotovelo, punho e dedos. De maneira similar, o padrão de extremidade inferior envolve o quadril, joelho, tornozelo e dedos. Cada padrão diagonal pode ser finalizado em flexão assim como em extensão. 
A diagonal 1 (D1) do padrão de flexão do ombro inicia com o ombro em flexão, adução e rotação externa, antebraço supinado, punho e dedos flexionados. A posição final para a diagonal 1 (D1) de flexão é: ombro em extensão, abdução, rotação externa, antebraço pronado, punho e dedos em extensão.
D1 de Flexão - Início
D1 de Flexão - Final

A diagonal 1 (D1) do padrão de extensão do ombro, reverte as ações do padrão de flexão.

A diagonal 2 (D2) do padrão de flexão inclui flexão do ombro, abdução e rotação externa, supinação do antebraço e extensão do punho e dos dedos.
Da mesma forma que na diagonal 1 (D1), o padrão de extensão da diagonal 2 (D2) reverte as ações do padrão de flexão.
D2 de Extensão - Início


D2 de Extensão - Final

Os padrões diagonais da extremidade inferior reproduzem os da extremidade superior, com os padrões de extensão fazendo as ações reversas dos padrões de flexão.
A diagonal 1 (D1) de flexão inclui: flexão do quadril, adução e rotação externa, dorsiflexão e inversão do tornozelo e extensão dos dedos.
A diagonal 2 (D2) de flexão inclui: flexão do quadril, abdução e rotação interna, dorsiflexão e eversão do tornozelo e extensão dos dedos.
(N.T: Cabe aqui uma nota mais longa, ressaltando que a nomenclatura ensinada na certificação oficial de PNF, emitida pela Associação Internacional - IPNFA, é diferente do que o autor colocou neste artigo. Não se usam mais estes termos D1 e D2 e o nome do padrão é dado à posição FINAL do movimento e não à posição inicial, como o Lee Burton colocou. Então em termos de nome do padrão é justamente ao contrário do colocado no texto. Ex: Na primeira figura ele descreve o padrão de flexão dos membros superiores, o sujeito está com o ombro em flexão, adução e rotação externa, antebraço supinado, punho e dedos flexionados. Da forma como aprendi, aquela seria a posição inicial para o padrão de EXTENSÃO e não de flexão).

O exercício Chop, comumente usado no treinamento funcional, utiliza os padrões diagonais de membros superiores (D1 e D2). O ângulo da resistência vem do alto, o que permite à extremidade superior ir de um movimento de puxar para um movimento de empurrar.
Chop - Início

Chop - Final

O exercício Lift usa o mesmo conceito, utilizando as diagonais 1 e 2 opostas, para puxar e depois reverter para uma empurrada (assim como o chop). Agora a resistência vem de baixo. Na posição ½ ajoelhada é requerido mais estabilidade, aumentando portanto o efeito proprioceptivo para realizar o movimento.
Lift ½ ajoelhado


Um dos padrões tradicionais do PNF usados no treinamento funcional para a extremidade inferior é a Passada Cruzada (N.T: Do original em inglês crossover step). Este movimento requer ambas as diagonais (1 e 2) de cada quadril enquanto se desempenham múltiplos passos. Afim de aumentar o grau de dificuldade podem ser usadas borrachas como resistência.

Ao ser colocada uma borracha ao redor da cintura, um aumento na irradiação pode ocorrer o que deveria aumentar a entrada de informações requerida para desempenhar o movimento5.
Passo Cruzado - Início

Passo Cruzado - Final

Uma vez que técnicas de PNF são introduzidas, é importante checar novamente os movimentos fundamentais que se mostraram disfuncionais (ou o movimento que se mostrou disfuncional). Isto irá assegurar que que o problema de mobilidade e/ou de estabilidade que está sendo atacado está tendo um efeito positivo no movimento. Este tipo de programação sistemática permitirá um contínuo retorno de informações, onde as progressões dos exercícios estão sendo baseadas em uma avaliação do movimento. Quando são vistas melhoras, pode se aumentar as demandas de resistência, agilidade, força, etc. e técnicas de PNF podem ser utilizadas para manter e progredir o indivíduo.

O PNF é projetado para melhorar o movimento através de estímulos neuromusculares apropriados de facilitação ou inibição. A fim de se ter os melhores resultados no treino funcional, os movimentos fundamentais precisam ser adequados, caso contrário, compensações irão surgir. Em muitos casos, os movimentos compensatórios que surgem são devido a rupturas no sistema neuromuscular. Esta pode não ser uma questão de flexibilidade ou força, os músculos provavelmente não são facilitados ou inibidos quando é necessário que o façam, resultando em um problema de mobilidade ou estabilidade. O PNF, é utilizado para melhorar o equilíbrio entre mobilidade e estabilidade através do fortalecimento e/ou alongamento de padrões de movimento. Com a finalidade de se determinar qual a melhor técnica a ser usada para cada indivíduo, é necessário que se tenha um parâmetro de movimento. (N.T: Como comentado antes, Lee Burton advoga o uso do FMS - Functional Movement Screen para esta finalidade, mas caso se utilizem de outra ferramenta não vejo problemas, desde que se tenha um parâmetro e uma ferramenta para avaliar movimento). Este passo inicial é necessário e altamente recomendável quando se for prescrever técnicas de PNF e métodos de treinamento funcional. Isto fornece um discernimento a respeito da área que se apresenta mais disfuncional, assim como um rápido retorno de informação a fim de determinar se a técnica usada obteve um efeito positivo.

O PNF tem sido há anos parte importante de técnicas terapêuticas. Mais recentemente, o foco em atividades funcionais permitiu que as técnicas de PNF se tornem uma parte integral deste tipo de programação de exercícios. PNF pode e deve ser incorporado em qualquer espécie de treinamento funcional, onde o sistema neuromuscular esteja causando disfunções em movimentos fundamentais. Estas técnicas devem fornecer mais efetividade no sistema de progressões da programação do treinamento.


Bibliografia Citada no Texto:
1. Voss, D.E., Ionta, M.K., Myers, B.J. Proprioceptive Neuromuscular Facilitation: Patterns and Techniques 3ª ed. 1985.

2. Cook, G. Baseline Sports Fitness Testing. In: Foran, B. High Performance Sports Conditioning. Human Kinetics. 2001: Pág. 19-47.

3. Saliba, V., Johnson, G., Wardlaw, C. Proprioceptive Neuromuscular Facilitation. In: Basmanjian, J. Nyberg, R. Rational Manual Therapies. 1993.

4. Prentice, W. E., Voight, M. I. Techniques in Musculoeskeletal Rehabilitation. 2001.

5. Cook, G., Fields, K. Functional Training for the Torso. Strength and Conditioning Journal. 19:2; 14-19. 1997.


Usei de alguns auxílios, além da contribuição do amigo Leandro Giacometti, para não falar asneira nos comentários (ou ao menos tentar), aí está.

Bibliografia Pesquisada para os Comentários:

- Tratado de Fisiologia Médica: Guyton e Hall 11ª ed. 2006.

- PNF. Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva: Um Guia Ilustrado. Susan Adler, Dominiek Beckers, Math Buck 2ª ed. 2007.

- Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva: Manual do Curso Básico - Níveis 1 e 2. International Proprioceptive Neuromuscular Facilitation Association - IPNFA. 2013.

2 comentários:

  1. Marcus, eu teria algumas ponderações, mas acho que talvez fosse melhor ver o artigo original antes. Você poderia enviá-lo? Abraço, Ivon

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    1. Certo, pode deixar que te mando Ivon. Estou lhe devendo uma visita lá no CEFD, vamos marcar.
      Grande abraço

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