Neste artigo ele dá informações a respeito de algo de que sempre ouvimos falar, mas que é muito mais profundo do que nos ensinaram nos bancos acadêmicos - A Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva - FNP. Ou como é mais frequentemente chamada: PNF, do original em inglês Proprioceptive Neuromuscular Facilitation.
Também tive o prazer de fazer os 2 primeiros módulos do curso de formação em PNF com a presidente da Associação Internacional de PNF Rebecca Butler e com o instrutor assistente Leandro Giacometti (os dois foram fora de série) e pude entender um pouco mais a fundo essa valiosa ferramenta.
Decidi dividir essa adaptação em 2 partes afim de facilitar a leitura dos amigos, deixei para a 2ª parte a descrição das técnicas de PNF e de algumas de suas diagonais.
Espero que apreciem.
Grande abraço a todos.
Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva:
- O Fundamento do Treinamento Funcional -
Lee Burton
O treinamento funcional tem sido utilizado como parte do aumento da performance e do condicionamento físico há anos. Parece ter se tornado mais popular no final dos anos 80 e início dos anos 90, quando evoluimos dos equipamentos tradicionais de eixo fixo para movimentos e habilidades fundamentais. Indivíduos como Gary Gray e Vern Gambetta parecem ter sido quem lideraram essa mudança de pensamento em como deveríamos estar treinando nossos atletas e clientes. Como ocorre em toda mudança de pensamento, existe alguma controvérsia em como treinamento funcional é definido, no entanto, a fundação deveria ser baseada em melhora do movimento em geral. Para que o corpo funcione apropriadamente deveria haver coerência entre os sistemas muscular, articular e neural.
Quando olhamos o treinamento de movimentos, temos que ter uma apreciação dos fundamentos que criam movimento. É importante que alguns dos princípios básicos sejam incorporados no treinamento como um todo afim de ganhar e manter uma mecânica apropriada de movimentos. O foco do treinamento funcional é melhorar o movimento e movimentos apropriados são baseados no equilíbrio entre mobilidade e estabilidade. Este equilíbrio requer uma comunicação proprioceptiva eficiente entre articulações e músculos (N.T: os famosos proprioceptores são órgãos sensoriais que estão constantemente abastecendo o sistema nervoso central com informações a respeito da posição do corpo, ângulos articulares, grau de estiramento e tensão muscular e uma infinidade de outras coisas mais). Se não há esse equilíbrio entre mobilidade e estabilidade os padrões de movimento serão disfuncionais. As disfunções podem muitas vezes serem relacionadas com a ruptura do sistema neuromuscular (N.T: Creio que aqui o autor se refere em ruptura em termos de uma comunicação ineficiente entre os proprioceptores e o sistema nervoso central). Melhorar todo esse sistema deveria então criar movimentos mais efetivos. Com a finalidade de melhorar a efetividade do sistema neuromuscular em coordenar movimento, deveriam ser utilizados conceitos da Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva - FNP -.(N.T: Muitas vezes vemos a sigla PNF que vem do nome original em inglês: Proprioceptive Neuromuscular Facilitation, nesse texto também utilizarei a sigla PNF já que muitos dos cursos dados aqui no Brasil sobre o tema, também se utilizam da sigla do nome original em inglês).
As técnicas de PNF estão por aí desde o final dos anos 30 e início dos anos 40, quando um médico neurologista chamado Herman Kabat começou a utilizar técnicas proprioceptivas em indivíduos mais jovens com paralisia cerebral e outras condições neurológicas. Ele descobriu que ao estimular segmentos distais, os proprioceptores de segmentos mais proximais tornavam-se estimulados. O propósito era criar e melhorar movimento em áreas onde o sistema neurológico tinha sido comprometido. Suas técnicas eram baseadas nos princípios de irradiação de Sherrington, inervação recíproca e inibição¹. Estes princípios descrevem ações rítmicas e reflexivas que levam à movimentos coordenados.
PNF usa o sistema proprioceptivo para facilitar ou inibir a contração muscular. Uma das pioneiras no uso dessas técnicas, Dorothy Voss, definiu isto como um método de promover ou acelerar a resposta do mecanismo neuromuscular através da estimulação dos proprioceptores¹. Os músculos precisam trabalhar sinergisticamente afim do movimento ocorrer. Isto requer que os músculos tenham a habilidade reflexa de contrair e relaxar com a finalidade de desempenhar movimentos básicos. Movimentos fundamentais como agachar, dar uma passada (N.T: do original em inglês "Lunge", o que aqui no Brasil chamamos de afundo, avanço, etc.) são padrões do PNF que dependem da habilidade do corpo de criar e controlar mobilidade e estabilidade de maneira efetiva. Quando estes movimentos se tornam disfuncionais, frequentemente isto pode ser rastreado a uma ruptura no sistema proprioceptivo do corpo, levando os músculos a tornarem-se inibidos ou facilitados em determinados momentos. Isto acaba causando uma incapacidade de criar o equilíbrio entre mobilidade e estabilidade, melhorar este equilíbrio é a base do treinamento funcional.
Um problema que muitos profissionais estão enfrentando atualmente é o de que indivíduos ativos estão perdendo a habilidade de desempenhar movimentos fundamentais básicos. Movimentos fundamentais como agachar, dar uma passada ou alcançar tem se tornado menos eficientes devido a hábitos ruins, treinamento inadequado e/ou lesões (N.T: Creio que com esse "e/ou" o Lee Burton faz uma relação entre o treino inadequado e o aumento do risco de lesões), fazendo com que os músculos posturais e motores primários tornem-se menos efetivos em desempenhar suas tarefas. Estes problemas tem levado indivíduos a criarem compensações, com o sacrifício de mobilidade e/ou estabilidade afim de completar um movimento ou tarefa.
Por exemplo, uma pessoa com limitações de mobilidade nos quadris irá sacrificar estabilidade na coluna lombar afim de conseguir agachar profundamente ou fazer um avanço. É importante que esses padrões compensatórios sejam resolvidos antes de direcionar o foco ao treino de força ou potência.
É importante que antes de prescrever técnicas de PNF se tenha uma apreciação de que suas técnicas são projetadas para corrigir movimentos fundamentais. Ao analisarmos movimentos fundamentais antes, podemos ter um parâmetro para determinar que movimento é mais disfuncional. A "Análise de Movimentos Funcionais" (N.T: Uma adaptação para o português de Functional Movement Screen, o já bem conhecido FMS) é uma ferramenta que pode ser utilizada para fornecer uma compreensão de qual padrão de movimento é mais deficiente². Uma vez que a deficiência tenha sido identificada, o próximo passo é determinar se é resultado de uma disfunção de mobilidade ou estabilidade. Isto irá permitir uma maneira mais efetiva de implementar e de fazer progressões das técnicas de PNF. Se os movimentos fundamentais não melhorarem, então as técnicas escolhidas podem não ser as mais benéficas (N.T: Ou o padrão escolhido para correção não é o que deveria ser abordado em primeiro lugar. Dentro da filosofia do FMS existe uma hierarquia a ser respeitada no momento de analisar qual padrão deveria ser corrigido em primeiro lugar, isto no caso de se identificarem mais de um padrão a ser corrigido, claro). Indicações ao uso do PNF dependem grandemente do resultado desejado. Muitas vezes o PNF é usado para aumentar flexibilidade, força e coordenação quando existem deficiências nestas respectivas áreas. Acredita-se que a educação e o reforço de repetidos padrões de PNF aumenta a coordenação enquanto promove estabilidade articular e controle motor³. Esta mesma filosofia deveria ser incorporada durante o treinamento funcional afim de influenciar efetivamente a melhora do controle motor.
Existem princípios comuns que deveriam ser utilizados quando forem desempenhadas técnicas de PNF.
O primeiro é ter um completo entendimento dos objetivos que se está tentando alcançar com a técnica. Portanto, é importante definir um parâmetro de movimento para que se possa determinar qual técnica é a melhor opção para resolver a disfunção (N.T: Obviamente o parâmetro de movimento que o autor advoga é o FMS - Functional Movement Screen). Segundo, dicas verbais e visuais são cruciais para produzir a resposta neuromuscular apropriada durante a atividade. O profissional do exercício deve se colocar na posição mais efetiva para que possa usar um posicionamento que lhe permita ter uma mecânica eficiente na aplicação das técnicas. Por último, os segmentos distais devem ser facilitados primeiro para permitir que ocorra uma irradiação apropriada através do corpo, que é um dos conceitos mais fundamentais do PNF.
PNF é dividido em 2 áreas, técnicas de fortalecimento e alongamento e padronização. O objetivo final é melhorar padrões de movimento, então a progressão de alongamentos e fortalecimentos básicos para padrões é muito importante. Estabelecer mobilidade adequada de um músculo e uma articulação deve ocorrer antes de fortalecer um movimento e/ou padrão afim de criar uma facilitação neuromuscular efetiva. Assegurar-se de que a mobilidade é suficiente irá permitir uma transição mais eficiente para o treinamento funcional. Se a mobilidade não está estabelecida, poderão surgir compensações durante o treino funcional. No entanto, certas técnicas de fortalecimento são recomendadas sob condições terapêuticas afim de sustentar e influenciar a contração muscular.
O método PNF é projetado para ter a máxima resistência através da amplitude de movimento dos padrões primitivos. A articulação inicia na sua amplitude de movimento mais forte e prossegue até a mais fraca. PNF incorpora padrões de movimento em massa que são diagonais e espirais por natureza e que frequentemente cruzam a linha média do corpo. Tarefas cotidianas e habilidades atléticas, desde pegar uma garrafa de água até chutar e arremessar se utilizam naturalmente de movimentos espirais e diagonais.
Dentro de mais uns dias já ponho no ar a segunda parte para os amigos.
Bibliografia Citada no Texto:
1. Voss, D.E., Ionta,M.K., Myers, B.J. Proprioceptive Neuromuscular Facilitation: Patterns and Techniques 3ª ed. 1985.
2. Cook, G. Baseline Sports Fitness Testing. In: B. Foran. High Performance Sports Conditioning. Human Kinetics. 2001: Pág. 19-47.
3. Saliba, V., Johnson, G., Wardlaw, C. Proprioceptive Neuromuscular Facilitation. In: Basmanjian, J. Nyberg, R. Rational Manual Therapies. 1993.
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