quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Estudos de Caso de Chuck Wolf

Continuando com as publicações inspiradas no Summit do Movimento.

Dessa vez apresento alguns estudos de caso de Chuck Wolf, preparador físico que possui seu centro de treinamento em Orlando - Flórida, Chuck é uma grande figura, dos apresentadores do Summit do Movimento de 2013 foi dele que ficamos mais próximos, desse tipo que bate papo contigo na mesa do café da manhã do hotel.
Delegação do RS (e alguns enxertos hehehe) com o Chuck "Lobo" (em pé no centro da foto)

Resolvi pegar uns estudos de caso na página da empresa dele, Human Motion Associates, e apresentar aos amigos para que conheçam um pouco mais seu trabalho, creio que irão apreciar.
Apesar dos 3 casos apresentados serem diferentes, há algo em comum: O fato de termos de pensar sempre em termos globais e não somente locais, geralmente os locais de dor e/ou disfunção são consequências e não causas.

Outro fator comum que chama a atenção é o fato do Cuck sempre analisar o pé e o complexo do tornozelo em busca de possíveis causas e relações, lembro que ao ouvir as suas palestras no Summit de 2013 os conhecimentos dele em relação a esta área do corpo se sobressaiam, realmente ele manja e muito disso.

Como de costume inseri algumas figuras extras nos textos com a finalidade de facilitar a compreensão, bem como as tradicionais notas do tradutor.
Grande abraço aos amigos.


Estudo de Caso #1
Eu tive um caso interessante esta semana envolvendo um atleta de beisebol da 1ª divisão com um pós-operatório de 12 semanas de uma reconstrução do ligamento cruzado anterior do joelho direito.
Ligamento Cruzado Anterior (LCA)

Ele já está de volta ao beisebol, arremessando, rebatendo e fazendo corridas lineares. Sua queixa primária é de encurtamento/rigidez no trato iliotibial, panturrilha, flexor do quadril, joelho e oblíquos, sendo que alongamentos não lhe oferecem um alívio completo.
Banda ou Trato Iliotibial


Se você tem familiaridade com minhas ideias, você sabe onde eu fui olhar primeiro...o pé e o complexo do tornozelo.

Tenho visto pela minha experiência na clínica e a partir de um ponto de vista pessoal, que estas regiões frequentemente se tornam bastante tensas após uma lesão no joelho, cirurgia ou colocação de prótese (N.T: Em casos de osteoartrose avançada de joelho, a colocação de uma prótese é imperativa a fim de aliviar a dor).

Lembro-me muito bem quando desenvolvi um antepé varo, rigidez de flexor de quadril, trato iliotibial e complexo glúteo. Desconforto na coluna lombar, falta de mobilidade na coluna torácica e rigidez da cintura escapular...tudo isso após uma cirurgia de colocação de prótese no joelho.
Antepé Varo

Na época, eu sentia que possuía uma flexão do joelho adequada, mas faltava o deslizamento posterior durante a flexão do joelho, os mesmos problemas que este jogador de beisebol estava enfrentando.
(N.T: No caso de uma flexão da tíbia sobre o fêmur, isto é, uma flexão em cadeia cinética aberta, a tíbia rola e desliza para trás. Já no caso de uma flexão em cadeia cinética fechada, como ao descer em um agachamento: flexão fêmur sobre a tíbia. O fêmur rola para trás e desliza para frente. Neumann, D.A. Cinesiologia do Aparelho Musculoesquelético, 2005).

Eu chequei sua dorsiflexão de tornozelo, abdução do antepé, eversão da articulação subtalar e rotação interna da tíbia, todas com limitação de mobilidade.
Articulação Subtalar

Quando ele fazia um simples agachamento unilateral, com amplitude limitada, seu calcanhar direito (do mesmo lado da lesão no joelho) se elevava do solo logo no início do movimento, justamente devido a essa falta de mobilidade em todo complexo, afetando todo o mecanismo de carga da extremidade inferior, no tornozelo e no quadril (N.T: Nas articulações acima e abaixo do local de lesão primário, o joelho). Isto irá criar uma distribuição de carga abaixo do esperado no complexo glúteo, especialmente no lado do joelho lesionado.

Analisando seu complexo pélvico, ele exibia uma anteversão pélvica, causada por rigidez no complexo dos flexores do quadril, incluindo o quadríceps e o sartório.
Anteriorização Pélvica

Isto causava uma inabilidade de colocar carga de maneira efetiva nos glúteos. Como os glúteos no seu lado direito eram fracos (N.T: Mesmo lado da lesão primária no joelho), as fibras encurtaram causando um aumento de comprimento da banda iliotibial e a sensação de rigidez. Na realidade, a banda iliotibial NÃO ESTAVA encurtada e rígida, mas alongada e tensa, ainda que a sensação fosse a mesma.

Alongamento não irá resolver esse problema, apenas tratar o sintoma. Mais tarde nesta semana, irei avaliar as estratégias que usarei para ajudar este jogador de beisebol.
A moral da estória é:

"Pense em termos globais, não apenas localmente, quando os sintomas se apresentarem".

Neste caso, o joelho e o quadril eram as vítimas, mas o pé e o complexo do tornozelo foram afetados e causaram um grande impacto em toda a biomecânica do membro inferior.


Estudo de Caso #2
Outro caso interessante esta semana, uma golfista destra veio me ver apresentando uma queixa de dor no pulso esquerdo, especialmente no ponto alto de seu backswing (N.T: Deixei o termo de golfe no nome original mesmo).
Tiger Woods - Ponto alto do Backswing
A amplitude de movimento na articulação radioulnar estava boa, e a do punho também. Uma análise do movimento da marcha revelou rigidez na sua escápula esquerda e quadril direito, reduzindo sua habilidade de produzir movimento adequado durante seu backswing.

A correlação é o Fator X Posterior (quadril e ombro opostos) reduzindo sua habilidade de rotação interna do quadril direito. (N.T: Chuck chama de Fator X Posterior a ligação entre o ombro e o quadril oposto via fáscia toracolombar, uma importante conexão de estabilização e transmissão de forças entre os membros superiores e inferiores. Muitos chamam essa conexão de subsistema oblíquo posterior).
Fator-X Posterior OU Subsistema oblíquo posterior

Isto causava uma rotação interna reduzida em sua cintura escapular direita, e seu punho (esquerdo) compensava essa falta de rotação interna da cintura escapular com um movimento extra a fim de obter o correto alinhamento do taco de golfe para a batida (N.T: Interessante analisar o posicionamento dos punhos do Tiger Woods na foto acima, os punhos estão alinhados com os antebraços).

Após mobilizar a escápula esquerda e a rotação interna do quadril direito (N.T: O Fator-X mencionado antes), seu movimento durante o backswing era maior e o punho esquerdo não doía mais.

A moral da estória:
"O movimento do quadril pode ter impacto no ombro do lado oposto no plano transverso".

Lembre-se, o local da lesão normalmente não é o problema, mas o sintoma. Olhe o movimento de maneira global, não de maneira local.


Estudo de Caso #3
A função do tornozelo é simples, mas incrivelmente complexa quando se pensa nas suas relações com o resto do corpo. Recentemente eu tive 2 clientes que se apresentaram na clínica: Um com dor lombar e a outra com dor no tendão patelar. Ambos tinham um histórico de lesão no tornozelo e tinham dorsiflexão limitada.

Considere as implicações desse "simples" movimento. Quando a dorsiflexão é limitada, o quadril do mesmo lado perde a extensão adequada. Isto pode reduzir o balanço do braço na flexão do ombro durante o ciclo da marcha, causando menos rotação torácica no lado oposto.
Ciclo da Marcha (Stance: apoio; Swing: balanço)

Não parece muito, no entanto, isso pode colocar mais stress na coluna lombar já que ela frequentemente compensa para produzir rotação durante o ciclo da marcha. Esse era o caso do cliente que se apresentou com dor lombar.

Quando o tornozelo foi mobilizado e a dorsiflexão adequada foi recuperada, adicionamos um alongamento integrado a fim de aumentar a extensão do quadril e a flexão do ombro, permitindo maior rotação no lado oposto (N.T: Rotação realizada pela coluna torácica, onde deve ser, diminuindo o excesso de rotação lombar).

Para a cliente com dor no tendão patelar, após restaurar a dorsiflexão adequada do tornozelo, ela foi capaz de estender adequadamente os quadris e reduzir a flexão exagerada dos joelhos durante o ciclo da marcha.

Assegure-se de que seus clientes tenham aproximadamente 40-45º de dorsiflexão do tornozelo durante o ciclo da marcha a fim de melhorar a função apropriada do corpo. Lembre-se, para que os glúteos sejam sobrecarregados de maneira adequada, é necessária a dorsiflexão do tornozelo. Se a dorsiflexão é limitada, a sobrecarga que os glúteos receberão não será a adequada.

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