sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Princípios do Movimento - Número 5

Mais um capítulo da série, para aqueles que não leram os capítulos anteriores, aí estão os links:
- Capítulo 1
- Capítulo 2
- Capítulo 3
- Capítulo 4

Princípios do Movimento #5
Gray Cook

PRINCÍPIO 5: Exercícios corretivos não deveriam ser uma reprodução de saída de informações. Ao invés disso, eles deveriam representar oportunidades desafiadoras para gerenciar erros em um nível funcional, quase no limite da habilidade. 
(N.T: o termo usado no original em inglês é Output que eu traduzirei como saída de informações, assim como o termo input será traduzido como entrada de informações, referindo-se a entrada de informações sensoriais - Input - e a resposta motora ou saída de informações - output -)

Avanços tecnológicos na ciência do exercício e do movimento que negligenciam parâmetros de padrões funcionais de movimento, ignoram as leis naturais que governam o sistema de aprendizado motor e produzem nossas percepções e comportamentos. Este é o processo que inicialmente produz estes padrões. Algumas práticas convencionais reproduzem resultados apropriados de movimento, sem no entanto estabelecer uma entrada apropriada de informações sensoriais. Eles tentam abordar o comportamento sem abordar a percepção.

É comum ver cientistas do movimento identificar a melhor técnica para um exercício ou um movimento do esporte. Para criar um critério aceitável, eles mapeiam a sequência de movimentos que produzem de maneira consistente uma grande performance. Técnicos e preparadores físicos tentam imitar aqueles movimentos, e estes movimentos tornam-se exercícios (N.T: Referindo-se aos exercícios educativos usados no aprendizado de habilidades esportivas). Estes exercícios são reciclados e modificados. Eles são aplicados sobre disfunções e então tornam-se protocolos. Após alguns anos, ninguém mais questiona sua lógica.

Isto não significa que ponho em descrédito os exercícios de aprendizado de técnicas desportivas. Isto aponta apenas para o fato de que estes exercícios são aplicados desconsiderando outros aspectos do movimento e da performance. A parte irônica da estória é que indivíduos pertencentes à elite esportiva, que produzem uma sequência de movimentos quase perfeita, tanto que se torna norma, na realidade não usam ou praticam estes exercícios.

Colocando de maneira diferente, a análise da técnica superior que produziu exercícios educativos não produz a técnica superior. Como poderia? O melhor alcança a excelência sem acesso a estes exercícios, porque estes exercícios são construídos em cima de informações da saída (de informações: resposta motora) e não sobre a entrada (de informações sensoriais).

Exercícios extravagantes são frequentemente desenvolvidos por meio da observação do resultado final de um movimento, performance ou habilidade e não em cima dos fundamentos e da prática profunda que produz resultados superiores em primeiro lugar. Temos de ser cuidadosos em cada nível do aprendizado motor para não praticar reproduções de resultados. O que pode produz uma imitação muito boa, mas não produz comportamentos autênticos do movimento.

O desafio do qual estou falando reduz a necessidade de um monte de retorno de informação visual, verbal ou um monte de instruções (N.T: o termo "retorno de informação" foi a minha tradução para feedback). Se você visa o problema corretivo de alguém e oferece o exercício certo no tempo certo, este exercício deve ser desafiador, mas não tão difícil a ponto de fazer com que o indivíduo não seja bem sucedido na maior parte do tempo.

Vamos usar alguns exemplos como os que estão no livro (N.T: Gray refere-se a seu último livro: "Movement"). Se existe um problema de estabilidade no quadril em um dos lados, eu posso colocar o indivíduo em uma base meio-ajoelhada. Existem algumas razões para isso.
Base meio-ajoelhada

Primeiro, removendo o pé, tornozelo e  o joelho da mistura, ajuda a focar apenas no quadril e no core. Reduzindo a altura corporal reduz-se a quantidade de reação do equilíbrio. Colocando um joelho no chão e um pé a frente, a pessoa é colocada numa posição que isola um único lado.                                      


Basicamente, eu consigo focalizar meu microscópio em alguns problemas de estabilidade do core. Também consigo a resposta que é dada em uma base meio-ajoelhada muito estreita, ao outro lado, sabendo que o corpo humano deveria ser simétrico na maioria dos casos.

Agora, nós não somos perfeitamente simétricos, mas existe uma regra dos 10% que funciona muito bem para força, amplitude de movimento e para padrões de movimento funcionais. Embora não vejamos simetria perfeita, se alguém é capaz de demonstrar equilíbrio e até mesmo realizar algumas atividades enquanto se encontra em uma base ajoelhada em um lado, e não consegue nem ao menos se equilibrar quando troca o lado, bem, existe uma grande assimetria.

A primeira coisa que eu tento demonstrar através da minha análise e da minha avaliação é que existem algumas posições onde meus clientes, atletas e pacientes dirão:
- Oh meu Deus, de onde veio isso? Não consigo fazer isso desse lado.

Eu os desafio: - Agora vamos ver se você consegue fazer isso.
Claro que tentar fazer força ao realizar um movimento natural, só piora as coisas. Eu digo:
- Relaxe, respire. Preste atenção ao que está acontecendo.
Pode ser que eles se sintam bem desajeitados, mas contanto que eles não caiam no chão, bem, são estímulos que estão sendo dados.

Este estímulo que previne a queda, está provavelmente causando mais programação motora positiva, no entanto, administrar estes pequenos erros justo no máximo de habilidade disponível está causando mais programação motora do que cegamente tentar reproduzir a ponte mais perfeita do mundo (N.T: Gray refere-se ao exercício, ponte ou supine bridge no inglês).
 
Eu disse isso algumas vezes em meu livro:
- Estratégia corretiva não se trata de performance, aplicável a qualquer outra pessoa presente na academia. É uma troca muito íntima entre o técnico ou treinador que prepara as situações e o cliente/atleta/paciente que necessita ser beneficiado com isso. 

Em outras palavras: - Eu criei o desafio. Supere este desafio.

Eu tenho dosado o desafio para que este não resulte excessivo ou que não estresse o suficiente, impedindo de causar uma oportunidade de aprendizado motor. Assim que o indivíduo superar o desafio, devemos ir adiante ou reservar mais tempo para que o mesmo seja superado. O tempo extra sob tensão, carga e stress irá ensinar o indivíduo.

Frequentemente não somos suficientemente pacientes. Se levar 2 meses para que alguém consiga alcançar uma base meio ajoelhada apropriada, então levará 2 meses. Desculpem-me, mas não posso acelerar o processo. Se alguém leva 2 minutos, então eu planejo uma progressão e transformo essa base meio ajoelhada em alguma outra coisa.
Estratégia corretiva frequentemente não parece tão "academicamente" bem feita vista de fora quanto é naturalmente correta vista de dentro.

N.T:

Aqui um vídeo do Gray Cook falando a respeito do princípio apresentado:

Gray Cook: Edge of Ability Concept

Breve o capítulo 6.
Grande abraço a todos.

2 comentários:

  1. Grande Marcus ! Mto obrigado mesmo por tao esclarecedor espaco, aprendo pra caramba aqui cara! Qto aos exercicios com base meio ajelhado, se eu fizer por exemplo um face pull biLateral em uma proxima serie terei q alternar essa base ? pode parecer estupido tal questionamento, mas sei que muita gnt tem a mesma duvida valeu....

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  2. Bem, falando por mim, eu sempre procuro alternar a base de suporte sim, e já aconteceu de o simples fato de ter alterado a base o movimento mudar, mesmo que no caso o movimento seja o face pull ao qual te referiste. Mas como???? Se o exercício não era para o braço???? Assim é como pensamos normalmente, pore´m mesmo que quem esteja se movimentando (dinâmico) sejam os membros superiores a base (estático) precisa ser considerado.
    Penso que a alternância de bases seja mais uma maneira de considerarmos a assimetria na execução dos movimentos.
    Grande pergunta e eu só levei alguns meses para responder e peço desculpas por isso.
    Abraço.

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