sábado, 30 de outubro de 2010

Usando o FMS com Equipes - Parte Final

Usando o FMS com Equipes – Parte 3.
Mike Boyle


Abaixo estão alguns exemplos simples de problemas de equipes encontrados nas análises e como os resolvemos. Apenas lembre-se, sem Gray Cook e o FMS eu não teria tido essas idéias.

Exemplo do Hóquei:

Problema: 18 atletas de 20 avaliados receberam um escore de 2 no hurdle step.
Hurdle Step - escore 2


Isto indicava claramente um padrão disfuncional de flexão do quadril. Isto nos levou a olhar com mais cuidado a função do psoas e do ilíaco. Nossos jogadores jogavam em constante flexão do quadril e os flexores eram inibidos ou ineficientes em pé.

Solução: Trabalhar na flexão do quadril de cima para baixo e de baixo para cima, ou neste caso, adicionamos exercícios de ativação da flexão do quadril ao nosso aquecimento e exercícios de força de flexão do quadril no final das nossas sessões de treinamentos.


Exemplo do Futebol Americano:

Problema: Abundância de escores 2 no Deep Squat. Em nosso caso o problema parecia girar em torno de mobilidade do tornozelo.

Solução: Adicionar exercícios de mobilidade de tornozelo e quadril ao nosso aquecimento.

Estes são dois exemplos de problemas simples e soluções igualmente simples. A beleza do sistema de Gray é que você não precisa analisar demais, simplesmente ataque o padrão que está pior.


Estudos de Caso

Abaixo estão 2 exemplos distintos de como os resultados do Functional Movement Screen levam a soluções que mudam a carreira de atletas profissionais. Em todos os 2 casos abaixo o atleta tinha experenciado lesões que outros profissionais da medicina esportiva tiveram dificuldade em explicar.

Caso 1
Sujeito: Jogador da NBA
Problema: Estiramento do oblíquo abdominal
Achado Chave: Escore de zero no In Line Lunge na perna direita

Um escore de zero é dado se um atleta não consegue fazer o movimento porque sente dor e obviamente este é o maior sinal de aviso. Neste caso o atleta foi incapaz de flexionar adequadamente o pé posicionado a frente (direito) o suficiente para fazer o In Line Lunge com a perna direita a frente. (N.T: Nesta imagem o indivíduo está com a esquerda à frente).

Quando questionado a respeito do problema o atleta revelou um caso grave de entorse do dedão do pé, que ele não tinha mencionado anteriormente já que ele sentiu que não estava relacionado com seu problema abdominal. No entanto, a história foi significativa já que o atleta revelou que tinha inclusive alterado o seu padrão de marcha como resultado do dedão dolorido. A alteração foi caminhar com o lado de fora do pé com os quadris rodados externamente. O resultado foi uma perda significativa de mobilidade do quadril com o tempo. A falta de mobilidade do quadril colocou uma sobrecarga maior na musculatura do core e resultou em um estiramento do oblíquo abdominal. Quadris em rotação externa trocam a mobilidade dos quadris por mobilidade da coluna lombar. Movimentos na lombar que deveriam ter ocorrido nos quadris estavam agora colocando tensão excessiva no core, acabou resultando em um estiramento nos oblíquos. Sem termos feito o FMS podíamos nunca ter descoberto o entorse no dedão ou a mudança no padrão da marcha. A análise nos levou diretamente ao problema.


Caso 2
Sujeito: Jogador da NFL
Problema: Estiramentos crônicos dos isquiotibiais
Achado Chave: Escore 1 no Rotary Stability e 3 no Rotary Mobility

Este atleta estava em uma situação de potencial final de carreira após sofrer estiramentos nos isquiotibiais nas suas 2 últimas temporadas, resultando em um tempo significativo fora de jogo.

O novo FMS não tem mais o teste de mobilidade rotacional (N.T: Rotary Mobility. Analisa a mobilidade torácica), no entanto eu frequentemente faço o teste quando eu tenho um indivíduo que tem queixas de dores lombares. Eu tenho denominado a combinação de estabilidade rotacional ruim (N.T: Rotary Stability) e excessiva mobilidade rotacional como “a tempestade perfeita” da dor lombar. Atletas que possuem grande mobilidade, mas não possuem o controle dessa mobilidade são os que correm maior risco. Em uma conversa posterior com este atleta, o enredo engrossou. Desde que ingressou na NFL (N.T: a liga de futebol americano profissional) o atleta parou com a maior parte de seu treinamento de força. Isto foi devido a numerosos estiramentos nas costas sofridos com um programa de treinamento de força universitário “convencional”.

A realidade é que um atleta como este, nunca deveria ter tido a sua coluna sobrecarregada na universidade. No entanto, parar como o treinamento de força
não era a resposta e agora tinha colocado o atleta em uma posição difícil.

Solução: Um programa de treinamento de força unilateral, com o mínimo de sobrecarga na coluna, para desenvolver os glúteos. Tentavias prévias de reabilitação tinham sido com ênfase nos isquiotibiais. No entanto, problemas nos ísquios era um sintoma de glúteos fracos ou inativos. Na falta de força nos glúteos, os ísquios, não importa quão fortes eles sejam, irão falhar a todo o momento. Os isquiotibiais são extensores secundários do quadril. Este é um caso clássico do axioma de Shirley Sahrmann “quando há uma lesão muscular, procure por um sinergista fraco”. Um programa foi desenvolvido centrado ao redor de agachamentos unilaterais, pontes, e flexões de joelho no slide que manteve o atleta no topo da lista de receptores da NFL por 4 anos.
Agachamento Unilateral

Ponte


Flexão de Joelhos no Slide



Conclusão

Usar o FMS com equipes é tão simples como fazer a análise e olhar para as tendências. Olhe para as tendências e planeje um programa para a equipe, que corrija estas tendências.

Seus atletas podem agachar e fazer levantamentos olímpicos se você usar o FMS, apenas lembre-se de não ter o hábito de adicionar força em cima de disfunções.

O que você precisa fazer é combinar suas ferramentas favoritas com os achados do FMS. Olhe para os padrões problemáticos. Trabalhe para melhorar estes padrões no aquecimento ou dentro da sessão de treinamento ou, o que seria ideal, de ambos. Você também tem de perceber que os resultados do FMS em um cenário de equipes podem não permitir a você ajudar os atletas individualmente, mas os resultados claramente ajudarão o time.

Gray Cook resume isto dizendo:

“Alguns treinadores fogem do FMS porque eles sentem que perderão algum grau de sua autonomia. Sentem que tem de se submeter as sugestões e correções do FMS. Podem também ficarem preocupados que o FMS irá expor deficiências em seus programas de treinamento e sugerir mudanças no planejamento.

Todos nós detestamos ter nossa confiança atingida mas, nossa confiança raramente está relacionada a nosso nível de efetividade. O novo livro: Blunder - Why Smart People Make Bad Decisions de Zachary Shore demonstra como deixamos de nos expor ao retorno de informação positivo, consciente ou inconscientemente. Este livro é uma necessidade se você é responsável pela programação, ensino e analise de dados... Basicamente proteja seu cérebro do seu ego.


O papel do preparador físico é administrar riscos, refinar o movimento funcional e melhorar a performance. O FMS irá ajudar com os primeiros dois itens e influenciar o terceiro indiretamente. Deficiências de padrões de movimento estão relacionadas com risco de lesões e as análises oferecem uma visão do movimento com uma base de dados objetiva e reprodutível. Um preparador físico evitando uma ferramenta como o FMS é como um treinador de pista evitando um cronômetro. Se o treinador de pista não fica assustado com um cronômetro, um bom preparador físico não deveria ficar assustado com o FMS.

Mike Boyle é um bom exemplo. O FMS não mudou muito o que ele já fazia, apenas reforçou suas boas idéias. Mike produzia bom condicionamento físico com respeitáveis padrões de movimento. Isto em conjunto com grandes preparadores físicos e programas de treinamento sólidos, é provavelmente o segredo por trás dos baixos índices de lesões que Mike tem empilhado anos após ano. Nós não podemos ficar assustados com ferramentas objetivas, que medem uma variável que somos responsáveis por controlar. Você aprenderá de qualquer maneira. Isto reforçara seu programa ou oferecerá o melhor crescimento possível que você poderia ter”.



Além disso, Gray teve a gentileza de nos fornecer algumas recomendações finais:

- Não force o movimento quando a mobilidade e a estabilidade estão comprometidas.
- Não continue com uma programação que não produz padrões de movimento limpos.
- Não corra risco de lesão quando você pode testar seus atletas e clientes em menos de 10 minutos.
- Não deixe outros encontrarem seus erros – sempre verifique seu trabalho.
- Não faça testes de movimento junto com testes de performance – você perderá o elo mais fraco da cadeia.

Ponto de partida.
Não usar o FMS é o maior erro. Vá a um workshop e aprenda o teste. Você nunca mais será o mesmo treinador novamente, e eu prometo que isto é uma boa coisa.

2 comentários:

  1. Grande Marcus!
    Excelente matéria, teu blog é referência para quem quer ler artigos de qualidade.
    Um grande abraço!!!
    Armando Jr Largura

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  2. Parabens pelo blog Lima, eu tenho o livro do Boyle e ja havia lido os artigos, mas o fato de vc traduzi-los é uma contribuição inestimável para todos. Parabens!

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