domingo, 21 de fevereiro de 2016

Subsistema Intrínseco de Estabilização

Finalizando a série dos subsistemas, com aquele que poderia ser considerado o primeiro e mais fundamental deles: o Subsistema Intrínseco de Estabilização.

Aos que não leram os artigos anteriores:
Subsistema Longitudinal Profundo.

Subsistema Oblíquo Anterior.
Subsistema Lateral.
- Subsistema Oblíquo Posterior.

Link do artigo original: Intrinsic Stabilization Subsystem





Subsistema Intrínseco de Estabilização

Brent Brookbush


O Subsistema Intrínseco de Estabilização é composto por:
  • Transverso Abdominal
  • Multífido 
  • Assoalho Pélvico (Levantador anal, Coccígeno e fáscia associada)
  • Diafragma 
  • Fáscia Toracolombar
  • Rotadores, Interespinhais, Intertransversais


  • Nota: Os rotadores, interespinhais e intertransversais não são tradicionalmente vistos como parte do Subsistema Intrínseco de Estabilização. No entanto, é afirmação minha de que eles deveriam fazer parte deste grupo. Baseado nas minhas considerações de anatomia e função (especialmente seu papel na propriocepção, senso de posicionamento articular e estabilização intersegmental), adicionar estes músculos ao subsistema adiciona congruência ao nosso entendimento de sinergias musculares, comportamento motor e modelos preditivos de problemas de movimento. 


Função (resumida):

  O Subsistema Intrínseco de Estabilização aumenta a pressão intra-abdominal, tensão na fáscia toracolombar, rigidez segmental entre as vértebras, rigidez da articulação sacroilíaca e o alinhamento segmental (6). Isto resulta em uma estabilização otimizada do complexo lombopélvico/quadril, aumentando a transferência de força entre as extremidades superior e inferior e a função de todos os outros subsistemas:



O Subsistema Intrínseco de Estabilização e seus vários nomes: 

  Esse grupo de músculos têm sido chamado de "estabilizadores intrínsecos", "músculos intrínsecos do núcleo", "estabilizadores locais", "estabilizadores profundos", "cinturão interno", e meu apelido favorito: "Transverso abdominal e seus amigos". A ideia de adicionar esta sinergia muscular aos "Subsistemas do Núcleo" é uma ideia original - em essência, eu que inventei (N.T: O termo "núcleo" é uma adaptação livre da palavra em língua inglêsa "core").

  Esta não é uma tentativa de criar uma nova linguagem, ao contrário, é minha tentativa de integrar conhecimento. Em minha busca por congruência (N.T: Artigo: Search for Congruence) eu percebi que vendo esta sinergia como um dos Subsistemas do Núcleo, eu poderia integrar as ideias de Richardson et. al., Stuart McGill, Liebenson et. al. e Vleeming com o modelo de disfunções do movimento humano baseado no trabalho de Vladimir Janda, Shirley Sahrmann, Mike Clark e o meu próprio (1-9).

  Com os músculos adicionais que sugeri nesta série de artigos sobre os Subsistemas do Núcleo, todos músculos desta região central do corpo estão representados e sua função integrada considerada.  

  • Este subsistema representa o intrínseco, enquanto que os músculos globais do núcleo são representados por todos os outros subsistemas. Em virtude dos Subsistemas do Núcleo dividirem a musculatura global em grupos funcionais, seu comprimento relativo e atividade podem ser considerados na relação com disfunções posturais. Isto por sua vez, tem um impacto significativo na seleção de exercícios para reabilitação, condicionamento físico e aumento do desempenho.


Artrocinemática Funcional:

  Devido à curva lordótica e formato da vértebra lombar em uma coluna normal e saudável - forças de compressão e extensão irão incluir um vetor que resulta em uma translação anterior das vértebras lombares (forças de cisalhamento anterior). Os eretores da coluna (espinais, iliocostais, longuíssimos), latíssimo do dorso, quadrado lombar e ilíaco-psoas são motores importantes e também estabilizadores do núcleo, mas como extensores e produtores de forças de compressão eles contribuem para as forças de cisalhamento anterior nas vértebras lombares.
Músculos que produzem uma força que causa uma anteriorização das vértebras lombares 
Direção da força de cisalhamento anterior

Quando funciona de maneira ideal, o Subsistema Intrínseco de Estabilização aumenta a pressão no peritônio (similar à espremer um balão), criando uma força posterior contra a superfície anterior da coluna lombar.
Direção da força que combate o cisalhamento anterior


  Além da contribuição a esta pressão intra-abdominal aumentada, o transverso abdominal contribui para aumentar a rigidez da fáscia toracolombar, contribuindo para a estabilidade lateral da coluna lombar e o aumento das forças de compressão entre o sacro e o ílio, resultando em maior estabilidade da articulação sacroilíaca (6).

 Ainda, os músculos intersegmentais da coluna (rotadores, interespinhais e intertransversais) mandam informação proprioceptiva de volta ao Sistema Nervoso Central e mantém o micro alinhamento das vértebras lombares, com a ajuda da contração dos multífidos. Estes músculos também contribuem para aumentar a rigidez lombar. 
  Se o Subsistema Intrínseco de Estabilização não funciona de maneira ideal para diminuir a força de translação anterior, então as forças criadas durante o movimento podem resultar em uma subluxação anterior, força excessiva nas estruturas passivas, dor, disfunção e lesão (estiramentos, discos herniados, dano na cápsula articular, compressão dos nervos, degeneração artríticas, etc.).


Função Integrada:

  Estudos mostram o recrutamento sinérgico dos multífidos lombares ao ser feita a ativação do transverso abdominal (N.T: Fazendo a manobra de "encolher a barriga". O que em língua inglesa chamam de "drawing in") em preparação para o movimento dos membros. Ainda, mudanças similares em atividade muscular têm sido notadas no assoalho pélvico e diafragma relacionadas à carga levantada (6). Acredita-se que a função otimizada destes músculos são parte do mecanismo antecipatório (N.T: Feedforward em inglês) que aumenta a estabilidade da coluna, incluindo: eficiência aumentada das forças geradas pelos estabilizadores globais (os outros subsistemas do núcleo) para resistir à cargas externas.

  O recrutamento sinérgico destes músculos aumenta a pressão intra-abdominal, a tensão na fáscia toracolombar, rigidez segmental entre as vértebras, rigidez da articulação sacroilíaca e aumenta o alinhamento segmental (6). Isto resulta em estabilização otimizada do Complexo Lombopélvico-Quadril, aumentando a transferência de força entre as extremidades superior e inferior e a função de todos os outros subsistemas.

  É importante notar que este subsistema, por si só, não é responsável por qualquer movimento. A sua ativação irá resultar na diminuição da circunferência abdominal, a manobra de "encolher a barriga" (N.T: Drawing In) e estabilidade aumentada do Complexo Lombopélvico-Quadril, mas nenhuma ação articular visível. O recrutamento ideal do Subsistema Intrínseco é essencial para o bom desempenho de todos os outros subsistemas.



Comportamento nas Disfunções Posturais (Comportamento Motor):

(N.T: Como descrito nos capítulos anteriores desta série dos subsistemas, o autor descreve o que ele chama de "Disfunções Posturais" dividindo-as em: Disfunções do Complexo Lombopélvico-Quadril, Articulação Sacroilíaca, Membro Superior e da Parte Inferior da Perna. Nesse artigo ele dá uma visão geral desse sistema de classificação das disfunções posturais: Introduction to Postural Dysfunction and Movement Impairment).

  Da mesma forma que o Subsistema Oblíquo Posterior, o Subsistema Intrínseco é comumente hipoativo. Embora este subsistema obviamente desempenhe seu maior papel em Disfunções do Complexo Lombopélvico-Quadril e da Articulação Sacroilíaca, a hiperatividade do latíssimo do dorso e do subsistema oblíquo anterior em Disfunções do Membro Superior inevitavelmente irá levar à uma dominância dos músculos globais do núcleo e à inibição do Subsistema Intrínseco de Estabilização.  

 O Subsistema Intrínseco desempenha seu papel menos significativo nas Disfunções da Parte Inferior da Perna. Embora haja potencial para que ocorra hipoatividade do subsistema intrínseco ao ocorrerem alterações na atividade e comprimento muscular dos seguintes músculos: Tensor da fáscia lata, bíceps femoral, semitendíneo e semimembranáceo, adutores e glúteo máximo; com uma mudança resultante no posicionamento pélvico, outras musculaturas têm maior prioridade nestas disfunções (da parte inferior da perna).

 Comumente, a sub-atividade do subsistema intrínseco vem em par com a dominância sinergística dos subsistemas oblíquo anterior e longitudinal profundo.

A dominância do Subsistema Longitudinal profundo pode resultar em:
- Joelhos para dentro.
- Joelhos para fora.
- Pés rodados para fora.
- Distribuição assimétrica de peso durante a avaliação do agachamento com os braços acima da cabeça (N.T: Overhead squat).

Enquanto que a dominância do Subsistema Oblíquo Anterior pode resultar em:
- Cifose torácica excessiva.
- Flexão da coluna.
- Excessiva inclinação do corpo à frente.

  O mais óbvio sinal de disfunção nesse subsistema é a distensão abdominal, uma falha no transverso abdominal para manter a tonicidade muscular e a estabilização do complexo lombopélvico-quadril durante as diversas atividades a que o corpo é submetido. 


Subsistemas, Disfunção Postural e Seleção de Exercícios Integrados:

  Os resumos abaixo são destinados à uma referência rápida, na prática, e não ilustram todos os possíveis cenários.
(N.T: Os quadros abaixo são os mesmo apresentados nos artigos anteriores sobre os subsistemas).

Atividades dos Subsistemas Baseado na Disfunção Postural:













     

Efeito no Exercício:







                                          

Resumo:











                           

Um Novo Membro do Subsistema Intrínseco:

  Na minha avaliação, os rotadores, interespinhais e intertransversais (músculos profundos da coluna) deveriam ser inclusos neste subsistema. Pesquisas têm mostrado maior densidade de receptores nos rotadores (fusos musculares), implicando que eles provavelmente agem como "órgãos proprioceptivos", para monitorar o alinhamento intervertebral (os intertransversais e interespinhais provavelmente desempenham um papel semelhante) (3). Já os multífidos são ideais para alterar o alinhamento intervertebral, devido ao seu maior tamanho e inervação segmental. Parece que os rotadores, interespinhais e intertransversais agem como "órgãos proprioceptivos" e podem estar intimamente ligados, através de um arco reflexo, com estes grandes estabilizadores segmentais (multífidos), desempenhando um papel em sua atividade muscular e tônus de repouso (6).

  Se isto é verdade, então qualquer mudança no comprimento dos rotadores, interespinhais e intertransversais iria resultar em um recrutamento sinérgico dos multífidos e transverso abdominal, alterações na tonicidade do assoalho pélvico e diafragma em relação à carga a ser levantada.


Seleção de Exercícios:

  Diferente de outros subsistemas, ao discutir o "comportamento" ideal do subsistema intrínseco, não nos limitaremos a descrever a melhor seleção de exercícios para o núcleo, para integração ou exercícios globais, já que nosso entendimento do subsistema intrínseco não nos ajuda a programar um treinamento resistido com pesos mais balanceado. Este subsistema é na realidade, a musculatura ativada quando desafiamos o transverso abdominal. Esta ativação pode ser feita como o primeiro exercício do "Suporte do Núcleo", sem impactar negativamente a ordem da seleção dos exercícios. 

Nota:
  A inabilidade do cliente em manter a ativação do subsistema intrínseco (com a manobra de encolher a barriga) durante qualquer exercício é um indicador usado comumente para que o exercício seja regredido. Ensinar esta manobra durante todos os exercícios é uma maneira efetiva de manter a atividade/força desse subsistema, já que a maioria das disfunções posturais têm sido resolvidas com sucesso uma vez que o cliente consiga completar a progressão de ativação do transverso abdominal. 

  Progressões mais avançadas de ativação do Subsistema Intrínseco incluiriam todas Progressões de Força do Núcleo (N.T: Core Strength Progressions). Tenha o cuidado de monitorar a habilidade dos clientes em manter a manobra de "encolher a barriga". Em essência, a ativação do transverso abdominal será substituída, assim que dominada, por exercícios mais desafiadores para o núcleo. 


Bibliografia:


  1. Dr. Mike Clark, Scott Lucette. NASM Essentials of Corrective Exercise Training. 2011.
  2. Craig Liebenson. Rehabilitation of the Spine: A Practitioner's Manual. 2007.
  3. Stuart McGill. Low Back Disorders: Second Edition. 2007.
  4.  Donald A. Neumann. Kinesiology of the Musculoskeletal System: Foundations of Rehabilitation - 2nd Edition. 2012.
  5. Philip Page, Clare Frank, Robert Lardner. Assessment and Treatment of Muscle Imbalance: The Janda Approach. 2010.
  6. Carolyn Richardson, Paul Hodges, Julie Hides. Therapeutic Exercise for Lombo Pelvic Stabilization - A Motor Control Approach for the Treatment and Prevention of Low Back Pain: 2nd Edition. 2004.
  7. Shirley Sahrmann. Diagnoses and Treatment of Movement Impairment Syndromes. 2002.
  8. Andry Vleeming, Vert Mooney, Stoeckart. Movement, Stability and Lumbopelvic Pain: Integration of Research and Therapy. 2007.
  9. Brent Brookbush. Postural Dysfunction and Movement Impairment.  

6 comentários:

  1. Otimo Marquitos!
    Parabéns mais uma vez!
    Abração, Krishna.

    ResponderExcluir
  2. Respostas
    1. Chico, tentando resumir de maneira simples. Os subsistemas podem ser entendidos como um grupo de músculos que trabalha como uma unidade para nos permitir realizar as tarefas que necessitamos que sejam realizadas. A noção de que os músculos trabalham de forma integrada não é nova, mas facilita o entendimento separá-los de certa forma em unidades, para estudarmos melhor seu funcionamento. Acredito que os subsistemas do núcleo (ou core em inglês) é uma dessas tentativas. Assim como conceito de Trilhos Anatômicos do Thomas Myers, onde ele identifica conexões fasciais, entre músculos, que formam uma unidade.

      Excluir
    2. Este comentário foi removido pelo autor.

      Excluir
  3. Estudoa atuais, como de McGill condenam a manobta de drawing in (encolher a barriga) e afirmam que pode levar a mais problemas de estabilidade da coluna. O que vc pensa sobre isso?

    ResponderExcluir