Na mesma levada do
artigo sobre diferentes tipos de piso para corrida (aos que não leram, aqui
vai: Demandas da Corrida em Diferentes
Superfícies), achei este sobre diferentes tipos de calçados bem
interessante, já que traz um olhar aprofundado sobre este tema que pode ser
confuso e sobre o qual as pessoas invariavelmente nos perguntam.
A autora, uma podóloga novaiorquina chamada Emily Splichal, tem um site bem interessante chamado Evidence Based Fitness Academy, vale aquela conferida, especialmente para aqueles que buscam mais informações sobre o pé.
A autora, uma podóloga novaiorquina chamada Emily Splichal, tem um site bem interessante chamado Evidence Based Fitness Academy, vale aquela conferida, especialmente para aqueles que buscam mais informações sobre o pé.
Aos que desejam ler no
original aí vai o link: Choosing The Right Footwear for
Fitness and Performance.
Escolhendo o Calçado Correto para Performance e Condicionamento
Físico - Parte 1
Emily Splichal
A ciência e inovação dos
calçados é uma das áreas mais mal compreendidas da performance e do
condicionamento físico. A internet está cheia de artigos a respeito do melhor
calçado, o melhor tênis minimalista ou o calçado perfeito - e isso pode fazer
com que se torne difícil saber a quem escutar.
Em um artigo prévio, "Keeping Your Feet Healthy" (N.T: Mantendo seus Pés Saudáveis), Ron Jones forneceu um guia geral para selecionar os calçados.
Neste artigo, Emily Splichal, uma podóloga de Nova Iorque, examina a inovação dos calçados e dá recomendações mais específicas para pessoas de diferentes esportes em diferentes situações.
No artigo a seguir você irá aprender:
- Como a ciência dos calçados tem se modificado ao longo dos anos e para onde aponta o futuro.
- O impacto dessas inovações na performance e condicionamento físico.
- Tendências populares no condicionamento físico, corridas e performance esportiva e o impacto nas inovações dos calçados.
- Dicas sobre o calçado mais apropriado para seus clientes e atletas, baseado no tipo de pé, histórico de lesão e demandas do esporte.
- Palmilhas sob medida versus palmilhas sem prescrição e os benefícios que podem oferecer aos clientes.
Calçados - Passado,
Presente e Futuro
Algumas das marcas mais famosas têm uma longa história. A Converse iniciou em 1917 (N.T: Os leitores um pouco mais velhos vão lembrar do popular tênis Cons Converse nos anos 90), Adidas e Puma iniciaram no final dos anos 40.
No entanto, quando analisamos a inovação atual da indústria dos calçados, veremos que a maior parte disso iniciou-se nos anos 70, então é onde iniciaremos.
A popularidade alcançada pela corrida nos anos 70 levou a mudanças enormes na indústria dos calçados |
Os anos 70 foram um período importante para a inovação da indústria calçadista em virtude da grande explosão da corrida. O aumento da popularidade da corrida como atividade, levou a uma grande demanda por melhores tênis de corrida e encorajou as grandes marcas a investirem em inovação
Quando iniciaram as pesquisas nos anos 70, a Nike tomou a frente. Eles gastaram uma enorme quantidade de recursos pesquisando maneiras de reduzir a força de impacto e o risco de lesões por esforço repetitivo usando o conceito de amortecimento. Isto trouxe enormes mudanças na indústria, já que mais companhias passaram a adicionar amortecimento extra à seus calçados como um atrativo de vendas adicional.
Então chegou o movimento dos "pés descalços" nos anos 90, quando pesquisadores como o Dr. Steven Robbins e Dr. Benno Nigg desafiaram o papel de andar de pés descalços nas lesões por esforço repetido (N.T: Overuse em inglês, um termo que também usamos no Brasil). Através de pesquisas, eles começaram a analisar como o amortecimento dos tênis alteravam a maneira como o corpo reage às forças de impacto. E que ao invés de prevenir lesões na corrida, o amortecimento pode contribuir com elas.
Este período do meio dos anos 90 até a metade dos anos 2000 tornou-se um ponto vital na inovação dos calçados e teve um profundo impacto na ciência. Vemos isso no design dos calçados minimalistas de hoje em dia.
O foco na inovação dos calçados ainda é na prevenção de lesões e provavelmente permanecerá assim no futuro próximo. O que podemos esperar ver são modelos mais inteligentes e específicos às modalidades esportivas, já que os calçados minimalistas continuam a crescer no mundo dos esportes com designs especificamente adaptados às demandas dos diferentes esportes e situações.
O Impacto dos Tênis
no Condicionamento Físico e Desempenho
Qual o propósito do calçado? Porque nossos atletas e clientes usam tênis? Se fazer as atividades descalço tem tantas vantagens, por que todos nós não fazemos nossos treinos e atividades esportivas descalços?
Embora o treinamento descalço tenha nos ensinado bastante e tenha muitas vantagens, até mesmo pesquisadores pró-treino descalço irão admitir que os calçados ainda têm suas vantagens.
Calçados ajudam a proteger a sola do pé de diferentes superfícies e detritos - importante não somente para segurança, mas também para performance. A última coisa que queremos em uma competição é ter uma jogada crucial estragada por um caco de vidro ou uma superfície quente.
Calçados também assistem com controle biomecânico, especificamente para ajudar a corrigir uma pronação excessiva e isso pode ajudar a diminuir o risco de lesão. Iremos explorar este propósito mais adiante quando discutirmos entorses de tornozelo.
Calçados também podem aumentar o desempenho. O calçado correto pode na realidade melhorar a performance atlética, e isto torna-se um fator muito importante para atletas.
Vejamos os últimos dois com mais detalhes.
Pode um calçado com movimento controlado, ou qualquer calçado, controlar a biomecânica? Os fabricantes frequentemente adicionam um suporte medial no calçado - um material mais denso no lado medial do calcanhar - e isto irá bloquear a eversão da articulação subtalar.
Este é o conceito de biomecânica controlada, mas isto funciona?
Como as pesquisas e a tecnologia têm avançado, estudos têm mostrado que calçados com movimento controlado não são capazes de bloquear a eversão até um grau necessário para certos corredores.
O controle biomecânico somente do calçado, não irá resultar em um grau de controle requerido por corredor que prona o pé em demasia (N.T: Como mostrado na figura acima). Provavelmente ainda se verificariam lesões relacionadas à pronação como síndrome de estresse medial tibial (N.T Ou como chamam popularmente: "canelite") e "joelho do corredor" (síndrome da dor patelofemoral).
O que um corredor que prona excessivamente provavelmente precise, é uma palmilha em conjunto com um calçado neutro. Esta combinação irá fornecer o controle biomecânico necessário. A mudança para um padrão de contato com o solo usando o meio do pé também irá ajudar a diminuir a quantidade de pronação ao aumentar a flexão plantar do tornozelo.
Sapatilhas com travas são uma inovação na ciência dos calçados que melhora a performance, especialmente em velocistas. Colocar travas em calçados de corrida definitivamente aumenta a performance nas corridas de velocidade.
As chuteiras com travas também aumentam a performance atlética no futebol e no futebol americano.
Frequentemente tenho pacientes no meu consultório que me perguntam a respeito de algum tênis com um bom amortecedor.
As vezes são corredores treinando para alguma maratona que sentem que precisam de um tênis que ajude a amortecer impacto.
No entanto, as pesquisas têm mostrado que maior amortecimento no calçado pode ser prejudicial para o corredor. Na realidade as forças de impacto aumentam a medida que mais amortecimento é colocado no calçado. Um pouco contra intuitivo, sim, mas verdadeiro.
Aqui está como isso acontece: No impacto, o amortecedor sai para fora e aumenta o tempo de contato com o solo. Essa quantidade de tempo de contato aumentada é o que aumenta o risco de lesão.
Outra desvantagem do amortecimento nos tênis é o movimento aumentado na articulação subtalar. O amortecedor promove a aterrissagem em uma superfície instável, o que cria instabilidade dessa articulação, e isso possivelmente aumenta o risco de lesão em certos corredores e atletas.
Se quiserem reduzir o risco de lesão, evitem calçados com absorção de impacto com grandes amortecedores. Escolha menos amortecimento para que o tempo de contato com o solo seja o menor possível (www,dremilysplichal.com).
Consideremos agora calçados para diferentes esportes e atividades. O foco nas diferenças dos calçados irão assisti-lo em guiar seus clientes e atletas para o calçado mais apropriado para cada esporte e atividade.
A lesão mais comum que vemos no basquete é a torção lateral do tornozelo (N.T: Lesão por inversão excessiva do tornozelo). Estas lesões ocorrem tipicamente quando o atleta está aterrissando após um salto.
Para minimizar a chance de isto ocorrer, os atletas deveriam usar tênis de cano alto ou cano baixo? O tênis de cano alto é capaz de prevenir a inversão excessiva da articulação do tornozelo?
Sim, tênis de cano alto restringem o movimento excessivo do tornozelo e reduzem o risco de entorses de tornozelo.
Com o suporte de pesquisa, eu encorajo treinadores de jogadores de basquete para fazer a parte de condicionamento físico com tênis de cano baixo e solado mínimo (N.T: O termo que ela usa é "minimal shoe" ou calçado mínimo numa tradução literal. Se refere aos tênis de cano baixo e sola bem fina, ou o que chamam de calçado minimalista), mas os treinamentos específicos e jogos devem ser com tênis de cano alto. Eles são muito melhores em restringir o movimento do tornozelo do que a combinação de órtese e tênis de cano baixo e solado mínimo.
Tente manter os jogadores usando cano alto para os jogos, mesmo que eles queiram desafiar o conceito de cano alto e usar um calçado minimalista no treinamento
O futuro dos tênis de basquete são calçados baseados nos minimalistas. Você começara a ver uma diminuição na "queda calcanhar - dedos" nos tênis de basquete (N.T: O termo em inglês é heel-toe drop. É a diferença de altura no solado do tênis na área do calcanhar e dos dedos. Como na figura abaixo. Ela irá se referir a isso durante todo o artigo).
Eles continuarão a ter um suporte do cano alto para o tornozelo, mas você começara a ver designs com uma sola e uma base que permite liberdade de movimento no pé e maior entrada de informações proprioceptivas a partir do solo. Isso irá ajudar a diminuir o tempo de reação e fornecer maior estabilidade e controle.
Corrida
O enorme interesse pela corrida nos anos 70 foi um ponto crucial na pesquisa e inovação dos calçados, e este interesse continua até hoje. O mercado de tênis de corrida ainda é o maior da categoria de calçados esportivos. Portanto é importante discutir este tópico.
No entanto, não podemos discutir calçados de corrida sem mencionar padrões de contato com o solo, uma vez que eles impactam a eficiência da corrida e risco de lesões.
De acordo com um estudo de Hasegawa de 2007, 75% dos corredores aterrissam com o tradicional contato do calcanhar, 24% com o meio do pé. O 1% restante tem o primeiro contato com o solo com a parte anterior do pé.
Como se pode ver, a maioria dos corredores têm um padrão de contato com o calcanhar. Considerando as forças de impacto e o risco de lesão - e essa é a razão pela qual as pessoas consideram mudanças nos calçados - pessoas que têm o contato com o solo iniciando no calcanhar exibem forças de reação com o solo de 3 a 4x o peso corporal.
Corredores que têm um padrão de contato com o solo com o meio do pé, experenciam o mesmo pico de forças de impacto, mas existem algumas diferenças importantes.
A curva de impacto do contato com o calcanhar, grava o pico das forças de reação com o solo através do tempo, experenciando dois picos. Existe um pico de impacto inicial quando o calcanhar atinge o solo seguido por um "pico ativo". A queda no pico inicial acontece quando o corredor prona o pé e absorve e armazena energia a partir das forças de impacto. O segundo pico ocorre quando o corredor se prepara para empurrar o solo a partir de uma postura unilateral na próxima fase do ciclo da marcha.
Aqueles que por outro lado atingem o solo com o meio do pé, espalham as forças de impacto ao longo de uma maior quantidade de tempo. Ao invés de 2 picos agudos como no padrão de contato com o calcanhar, o padrão de contato com o meio do pé aparece como um gráfico em forma de sino. Este sino representa uma transição muito mais suave e com menos choque ao corpo a cada contato com o solo.
Uma vez que esses padrões de contato são tão diferentes, precisamos combinar o calçado com o padrão de contato correspondente. Aí é que os corredores ficam confusos.
O tênis de corrida tradicional
Como mencionado anteriormente, o tênis tradicional de corrida foi criado durante a explosão de popularidade da corrida nos anos 70. Ele tinha uma almofada grossa na parte de trás do pé, seguida por uma sola dura no meio que se estendia até o sulco dos dedos. O sulco dos dedos permitia empurrar o solo para a fase de propulsão da marcha.
O calçado tradicional também tinha um lado medial mais duro ao redor da parte de trás do pé para controlar a pronação. Ele também tinha uma queda calcanhar-dedos de, na média, entre 12 e 14 milímetros. Isso foi projetado inicialmente em tênis tradicionais de corrida, porque se pensava que isso diminuía o estresse no tendão calcâneo.
A queda calcanhar-dedos beneficia os que pronam excessivamente porque cria uma ligeira flexão plantar; a articulação subtalar vai em inversão e o resto do pé supina. Se você coloca o pé nesta posição supinada enquanto atravessa o ciclo da marcha, a quantidade de pronação do pé é diminuída.
No caso do corredor que prona excessivamente, alguma queda calcanhar-dedos é na realidade vantajoso e irá diminuir o risco de lesões relacionadas à pronação, tais como síndrome de estresse medial tibial (canelite) ou joelho do corredor (síndrome de dor patelofemoral).
O tênis de corrida minimalista
Existem 3 subcategorias de tênis de corrida minimalistas: calçado estilo descalço, verdadeiro calçado minimalista e calçado de transição ou neutro.
O calçado estilo descalço, imita estar sem calçado algum e oferece nada mais do proteção à sola do pé. Não existe nenhum controle biomecânico. Não existe arco ou suporte para o pé. Os calçados Xero ou as sandálias Huarache são exemplos de calçados no estilo descalço.
O segundo tipo é o verdadeiro calçado minimalista. A altura entre o calcanhar e os dedos (N.T: A queda calcanhar-dedos, citada anteriormente) é entre 0 e 3 milímetros. Essencialmente não existe queda neste tipo de calçado. O verdadeiro calçado minimalista também não oferece suporte no arco plantar - nenhum controle biomecânico. Exemplos são o New Balance Minimus, tênis de corrida SKORA, Zero Barefoots e Vibram FiveFingers.
O último tipo de calçado minimalista é de transição ou neutro. Ele tem uma queda calcanhar-dedos maior do que os outros dois, mas não ao extremo como um tênis de corrida tradicional. Tênis de transição ou neutros tem cerca de 4 a 8 milímetro de queda. Não têm suporte para o arco. O Nike Free é um exemplo deste tipo de calçado. O Nike Free têm pontos de queda a partir de 5 para 3 para 0 milímetros para ajudar numa transição lenta para o atleta.
Tênis acolchoados sem queda calcanhar-dedos
Existem agora tênis acolchoados (com amortecedor) com nenhuma queda calcanhar-dedos no mercado. São adequados para clientes e atletas que não conseguem ficar sem amortecedor no calçado. Ele permite manter o amortecimento, mas traz o benefício de manter o tênis sem a queda calcanhar-dedos.
A Hoka é um popular tênis deste tipo e a New Balance tem o Fresh Foam.
Dado toda informação a respeito do propósito e design dos calçados e estilo de corrida, qual calçado é mais apropriado para os seus clientes e atletas? Como se determina o que seria melhor para eles?
Para corredores que pisam primeiro com o calcanhar
Com este tipo de corredor, a primeira coisa a se considerar é o histórico de lesões. Esta pessoa prona demais o pé? Tem consultado uma podóloga? Usa palmilhas nos calçados?
Se a resposta a alguma destas questões for sim, eu sempre oriento as pessoas a usarem tênis da New Balance. New Balance é, pelo design, um calçado ligeiramente mais largo. Tem bom controle e permite que uma palmilha caiba perfeitamente.
Temos de considerar o formato do pé. Se alguém tem um pé muito estreito, duas marcas a se considerar são a Mizuno (estreito) e Nike (ainda mais estreito).
A Saucony também tem um tênis um pouco mais largo, para o cliente com o antepé (N.T: Parte anterior do pé) mais largo. Se o corredor tem um antepé mais largo e um calcanhar estreito, confira os tênis da New Balance.
E se alguém é dedicado a uma certa marca e a tem usado por anos? Se o cliente nunca se machucou e tem usado a mesma marca por muitos anos, eu normalmente sugiro que continue a usá-la.
Para corredores que pisam com o meio do pé
Se o seu cliente é deste tipo ou está iniciando a adotar um padrão de contato do meio do pé com o solo, primeiro examine o histórico de lesões. Se existe algum histórico de problemas com o tendão calcâneo, como tendinite do calcâneo ou um estiramento da panturrilha, qualquer limitação na mobilidade do tornozelo ou histórico de fraturas de estresse, você precisa saber disso antes de determinar que calçado minimalista escolher.
Se existe algum histórico de problemas no tendão calcâneo, planeje uma transição gradual de uma queda calcanhar-dedos de 12 milímetros até zero.
Se a pessoa tem uma mobilidade de tornozelo limitada e tem tentado melhorá-la, ela precisa usar um calçado minimalista que tenha uma queda calcanhar-dedos um pouco maior, eu indicaria uma marca que tivesse de 8 a 5 milímetros de queda. O Nike 5.0 seria um bom começo. Faça com que fique com este e se ela decidir permanecer, deixe que permaneça. Não é obrigatório que troquem para um calçado sem queda calcanhar-dedos. Pode continuar usando um com queda de 5 milímetros e mesmo assim conseguir ter um contato com o solo com o meio do pé.
Quando considerar calçados que caibam em pessoas com o antepé mais largo, primeiro considere qualquer joanete, deformação nos dedos dos pés (N.T: O termo que ela usa é o que os americanos chamam de "hammertoes" "dedos de martelo" em uma tradução literal. São aquelas pessoas que têm os dedos curvados para baixo, como garras). Nesse caso é melhor não usar calçados como o Vibram FiveFingers, uma vez que os dedos não vão caber nos bolsos individuais para os dedos que este calçado tem.
O novo New Balance Minimus tem uma parte anterior bem larga assim como o Vivo Barefoot; ambos são boas escolhas por aqueles que procuram um tênis mais largo.
Se a pessoa tem um antepé bem estreito, o Nike Hyperfeel é uma boa escolha, já que é um tênis bem estreito.
Na próxima parte a autora considera o tipo de calçado adequado para outros tipos de atividade como CrossFit e Cross Training....
Calçados também podem aumentar o desempenho. O calçado correto pode na realidade melhorar a performance atlética, e isto torna-se um fator muito importante para atletas.
Vejamos os últimos dois com mais detalhes.
Controle Biomecânico
Pode um calçado com movimento controlado, ou qualquer calçado, controlar a biomecânica? Os fabricantes frequentemente adicionam um suporte medial no calçado - um material mais denso no lado medial do calcanhar - e isto irá bloquear a eversão da articulação subtalar.
Eversão da articulação subtalar |
Este é o conceito de biomecânica controlada, mas isto funciona?
Como as pesquisas e a tecnologia têm avançado, estudos têm mostrado que calçados com movimento controlado não são capazes de bloquear a eversão até um grau necessário para certos corredores.
O controle biomecânico somente do calçado, não irá resultar em um grau de controle requerido por corredor que prona o pé em demasia (N.T: Como mostrado na figura acima). Provavelmente ainda se verificariam lesões relacionadas à pronação como síndrome de estresse medial tibial (N.T Ou como chamam popularmente: "canelite") e "joelho do corredor" (síndrome da dor patelofemoral).
O que um corredor que prona excessivamente provavelmente precise, é uma palmilha em conjunto com um calçado neutro. Esta combinação irá fornecer o controle biomecânico necessário. A mudança para um padrão de contato com o solo usando o meio do pé também irá ajudar a diminuir a quantidade de pronação ao aumentar a flexão plantar do tornozelo.
Performance
Sapatilhas com travas são uma inovação na ciência dos calçados que melhora a performance, especialmente em velocistas. Colocar travas em calçados de corrida definitivamente aumenta a performance nas corridas de velocidade.
As chuteiras com travas também aumentam a performance atlética no futebol e no futebol americano.
Corredores deveriam comprar tênis com amortecedores para prevenir lesões?
Frequentemente tenho pacientes no meu consultório que me perguntam a respeito de algum tênis com um bom amortecedor.
As vezes são corredores treinando para alguma maratona que sentem que precisam de um tênis que ajude a amortecer impacto.
No entanto, as pesquisas têm mostrado que maior amortecimento no calçado pode ser prejudicial para o corredor. Na realidade as forças de impacto aumentam a medida que mais amortecimento é colocado no calçado. Um pouco contra intuitivo, sim, mas verdadeiro.
Aqui está como isso acontece: No impacto, o amortecedor sai para fora e aumenta o tempo de contato com o solo. Essa quantidade de tempo de contato aumentada é o que aumenta o risco de lesão.
Outra desvantagem do amortecimento nos tênis é o movimento aumentado na articulação subtalar. O amortecedor promove a aterrissagem em uma superfície instável, o que cria instabilidade dessa articulação, e isso possivelmente aumenta o risco de lesão em certos corredores e atletas.
Se quiserem reduzir o risco de lesão, evitem calçados com absorção de impacto com grandes amortecedores. Escolha menos amortecimento para que o tempo de contato com o solo seja o menor possível (www,dremilysplichal.com).
Calçados para diferentes esportes e atividades
Consideremos agora calçados para diferentes esportes e atividades. O foco nas diferenças dos calçados irão assisti-lo em guiar seus clientes e atletas para o calçado mais apropriado para cada esporte e atividade.
Basquete
A lesão mais comum que vemos no basquete é a torção lateral do tornozelo (N.T: Lesão por inversão excessiva do tornozelo). Estas lesões ocorrem tipicamente quando o atleta está aterrissando após um salto.
Para minimizar a chance de isto ocorrer, os atletas deveriam usar tênis de cano alto ou cano baixo? O tênis de cano alto é capaz de prevenir a inversão excessiva da articulação do tornozelo?
Um exemplo de tênis de cano alto - O Nike Hyperdunk (Nike.com) |
Sim, tênis de cano alto restringem o movimento excessivo do tornozelo e reduzem o risco de entorses de tornozelo.
Com o suporte de pesquisa, eu encorajo treinadores de jogadores de basquete para fazer a parte de condicionamento físico com tênis de cano baixo e solado mínimo (N.T: O termo que ela usa é "minimal shoe" ou calçado mínimo numa tradução literal. Se refere aos tênis de cano baixo e sola bem fina, ou o que chamam de calçado minimalista), mas os treinamentos específicos e jogos devem ser com tênis de cano alto. Eles são muito melhores em restringir o movimento do tornozelo do que a combinação de órtese e tênis de cano baixo e solado mínimo.
Tente manter os jogadores usando cano alto para os jogos, mesmo que eles queiram desafiar o conceito de cano alto e usar um calçado minimalista no treinamento
O futuro dos tênis de basquete são calçados baseados nos minimalistas. Você começara a ver uma diminuição na "queda calcanhar - dedos" nos tênis de basquete (N.T: O termo em inglês é heel-toe drop. É a diferença de altura no solado do tênis na área do calcanhar e dos dedos. Como na figura abaixo. Ela irá se referir a isso durante todo o artigo).
Heel = calcanhar; Toe = dedo |
Corrida
O enorme interesse pela corrida nos anos 70 foi um ponto crucial na pesquisa e inovação dos calçados, e este interesse continua até hoje. O mercado de tênis de corrida ainda é o maior da categoria de calçados esportivos. Portanto é importante discutir este tópico.
No entanto, não podemos discutir calçados de corrida sem mencionar padrões de contato com o solo, uma vez que eles impactam a eficiência da corrida e risco de lesões.
De acordo com um estudo de Hasegawa de 2007, 75% dos corredores aterrissam com o tradicional contato do calcanhar, 24% com o meio do pé. O 1% restante tem o primeiro contato com o solo com a parte anterior do pé.
Como se pode ver, a maioria dos corredores têm um padrão de contato com o calcanhar. Considerando as forças de impacto e o risco de lesão - e essa é a razão pela qual as pessoas consideram mudanças nos calçados - pessoas que têm o contato com o solo iniciando no calcanhar exibem forças de reação com o solo de 3 a 4x o peso corporal.
Corredores que têm um padrão de contato com o solo com o meio do pé, experenciam o mesmo pico de forças de impacto, mas existem algumas diferenças importantes.
A curva de impacto do contato com o calcanhar, grava o pico das forças de reação com o solo através do tempo, experenciando dois picos. Existe um pico de impacto inicial quando o calcanhar atinge o solo seguido por um "pico ativo". A queda no pico inicial acontece quando o corredor prona o pé e absorve e armazena energia a partir das forças de impacto. O segundo pico ocorre quando o corredor se prepara para empurrar o solo a partir de uma postura unilateral na próxima fase do ciclo da marcha.
Aqueles que por outro lado atingem o solo com o meio do pé, espalham as forças de impacto ao longo de uma maior quantidade de tempo. Ao invés de 2 picos agudos como no padrão de contato com o calcanhar, o padrão de contato com o meio do pé aparece como um gráfico em forma de sino. Este sino representa uma transição muito mais suave e com menos choque ao corpo a cada contato com o solo.
Uma vez que esses padrões de contato são tão diferentes, precisamos combinar o calçado com o padrão de contato correspondente. Aí é que os corredores ficam confusos.
O tênis de corrida tradicional
Como mencionado anteriormente, o tênis tradicional de corrida foi criado durante a explosão de popularidade da corrida nos anos 70. Ele tinha uma almofada grossa na parte de trás do pé, seguida por uma sola dura no meio que se estendia até o sulco dos dedos. O sulco dos dedos permitia empurrar o solo para a fase de propulsão da marcha.
O calçado tradicional também tinha um lado medial mais duro ao redor da parte de trás do pé para controlar a pronação. Ele também tinha uma queda calcanhar-dedos de, na média, entre 12 e 14 milímetros. Isso foi projetado inicialmente em tênis tradicionais de corrida, porque se pensava que isso diminuía o estresse no tendão calcâneo.
A queda calcanhar-dedos beneficia os que pronam excessivamente porque cria uma ligeira flexão plantar; a articulação subtalar vai em inversão e o resto do pé supina. Se você coloca o pé nesta posição supinada enquanto atravessa o ciclo da marcha, a quantidade de pronação do pé é diminuída.
No caso do corredor que prona excessivamente, alguma queda calcanhar-dedos é na realidade vantajoso e irá diminuir o risco de lesões relacionadas à pronação, tais como síndrome de estresse medial tibial (canelite) ou joelho do corredor (síndrome de dor patelofemoral).
O tênis de corrida minimalista
Existem 3 subcategorias de tênis de corrida minimalistas: calçado estilo descalço, verdadeiro calçado minimalista e calçado de transição ou neutro.
O calçado estilo descalço, imita estar sem calçado algum e oferece nada mais do proteção à sola do pé. Não existe nenhum controle biomecânico. Não existe arco ou suporte para o pé. Os calçados Xero ou as sandálias Huarache são exemplos de calçados no estilo descalço.
O Amuri Z-trek da Xero Shoes (XeroShoes.com) |
O segundo tipo é o verdadeiro calçado minimalista. A altura entre o calcanhar e os dedos (N.T: A queda calcanhar-dedos, citada anteriormente) é entre 0 e 3 milímetros. Essencialmente não existe queda neste tipo de calçado. O verdadeiro calçado minimalista também não oferece suporte no arco plantar - nenhum controle biomecânico. Exemplos são o New Balance Minimus, tênis de corrida SKORA, Zero Barefoots e Vibram FiveFingers.
New Balance Minimus (NewBalance.com) |
Tênis acolchoados sem queda calcanhar-dedos
Existem agora tênis acolchoados (com amortecedor) com nenhuma queda calcanhar-dedos no mercado. São adequados para clientes e atletas que não conseguem ficar sem amortecedor no calçado. Ele permite manter o amortecimento, mas traz o benefício de manter o tênis sem a queda calcanhar-dedos.
A Hoka é um popular tênis deste tipo e a New Balance tem o Fresh Foam.
Hoka Clifton 2 (HokaOneOne.com) |
Que calçado escolher?
Dado toda informação a respeito do propósito e design dos calçados e estilo de corrida, qual calçado é mais apropriado para os seus clientes e atletas? Como se determina o que seria melhor para eles?
Para corredores que pisam primeiro com o calcanhar
Com este tipo de corredor, a primeira coisa a se considerar é o histórico de lesões. Esta pessoa prona demais o pé? Tem consultado uma podóloga? Usa palmilhas nos calçados?
Se a resposta a alguma destas questões for sim, eu sempre oriento as pessoas a usarem tênis da New Balance. New Balance é, pelo design, um calçado ligeiramente mais largo. Tem bom controle e permite que uma palmilha caiba perfeitamente.
Temos de considerar o formato do pé. Se alguém tem um pé muito estreito, duas marcas a se considerar são a Mizuno (estreito) e Nike (ainda mais estreito).
A Saucony também tem um tênis um pouco mais largo, para o cliente com o antepé (N.T: Parte anterior do pé) mais largo. Se o corredor tem um antepé mais largo e um calcanhar estreito, confira os tênis da New Balance.
E se alguém é dedicado a uma certa marca e a tem usado por anos? Se o cliente nunca se machucou e tem usado a mesma marca por muitos anos, eu normalmente sugiro que continue a usá-la.
Para corredores que pisam com o meio do pé
Se o seu cliente é deste tipo ou está iniciando a adotar um padrão de contato do meio do pé com o solo, primeiro examine o histórico de lesões. Se existe algum histórico de problemas com o tendão calcâneo, como tendinite do calcâneo ou um estiramento da panturrilha, qualquer limitação na mobilidade do tornozelo ou histórico de fraturas de estresse, você precisa saber disso antes de determinar que calçado minimalista escolher.
Se existe algum histórico de problemas no tendão calcâneo, planeje uma transição gradual de uma queda calcanhar-dedos de 12 milímetros até zero.
Se a pessoa tem uma mobilidade de tornozelo limitada e tem tentado melhorá-la, ela precisa usar um calçado minimalista que tenha uma queda calcanhar-dedos um pouco maior, eu indicaria uma marca que tivesse de 8 a 5 milímetros de queda. O Nike 5.0 seria um bom começo. Faça com que fique com este e se ela decidir permanecer, deixe que permaneça. Não é obrigatório que troquem para um calçado sem queda calcanhar-dedos. Pode continuar usando um com queda de 5 milímetros e mesmo assim conseguir ter um contato com o solo com o meio do pé.
Nike 5.0 (Nike.com) |
Vibram FiveFingers (Vibram.com) |
Se a pessoa tem um antepé bem estreito, o Nike Hyperfeel é uma boa escolha, já que é um tênis bem estreito.
Na próxima parte a autora considera o tipo de calçado adequado para outros tipos de atividade como CrossFit e Cross Training....
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