Aqui vai a última parte deste artigo do Cook. Notem que ele vai um pouco além de falar somente da abordagem, e na parte final coloca uns pensamentos bem interessantes sobre a forma como agem os fisioterapeutas. Acho que meus amigos fisioterapeutas podem comentar melhor o caso.
Abraço a todos.
Expansão da Abordagem Articulação por Articulação – Parte 3
Gray Cook
Retirado do livro: Movement: Functional Movement Systems - Screening, Assessment and Corrective Strategies (N.T: Livro lançado em agosto de 2010, ainda sem tradução em português).
Costelas, vértebras e um monte de músculos e fáscia cruzam a parte da frente e de trás do tórax causando rigidez torácica. Não temos uma grande mobilidade inerente nesta região, mas precisamos de toda que pudermos ter. No entanto, a rigidez não á apenas algo de que precisamos nos livrar. Existe rigidez ali por algum motivo. Mecanismos biológicos que funcionam muito bem na infância, desenvolverão rigidez seguida à uma lesão ou uma mecânica repetitiva ruim ao longo do tempo. Se o corpo não se estabiliza corretamente, ele vai descobrir outra forma de obter estabilidade: isto é chamado de rigidez.
Se você encontrar tensão nos isquiotibiais ou na coluna torácica e você acabou de fazer uma auto liberação miofascial, você pode mudar a mobilidade, mas verá a rigidez retornar no dia seguinte. Esforços de mobilidade sem reinstalar estabilidade em algum outro lugar, simplesmente não duram. Aqueles isquiotibiais estão tensos por algum motivo. Aquela coluna torácica está rígida por alguma razão.
Auto Liberação Miofascial Isquiotibiais:
Auto Liberação Miofascial Coluna Torácica:
Se você não preencheu alguns desses novos movimentos com integridade muscular reflexa e controle motor, você terá um problema. Normalmente veremos isquiotibiais tensos em pessoas que não estendem bem o quadril. Elas não usam bem os glúteos, então os pobres isquiotibiais recebem trabalho dobrado. Tornando-se sobrecarregados. Um músculo fadigado e um músculo tenso se parecem muito.
É tudo proteção.
A maioria dos problemas na coluna torácica ocorrem em pessoas que ainda não tem amplitude de movimento completa, estabilidade no core e força muscular. Podemos ver uma coluna torácica rígida em pessoas que podem fazer uma prancha lateral ou uma prancha frontal por uma hora, mas que não tem uma grande estabilidade no core através de uma rotação completa do ombro no swing do golfe. Esta pode ser uma rigidez desenvolvida como proteção. Quando subimos até a coluna torácica, gostaríamos de ter mobilidade.
Prancha Lateral:
Prancha Frontal:
Golfe Swing:
Na região escapulotorácica, existe somente uma ligação óssea da escápula ao esqueleto axial (gradil costal ou vértebras) e que está na articulação esternoclavicular. Este é o lugar onde a extremidade superior da clavícula e o esterno se encontram. A articulação acromioclavicular (AC) e a articulação esternoclavicular estão em cada extremidade da clavícula, conectando a cintura escapular ao resto do corpo.
Mas aquela pobre escápula está flutuando no gradil costal, sustentada no lugar principalmente por músculos e por duas articulações que não são muito maiores do que as articulações do dedo indicador.
Essa área escapulotorácica precisa de estabilidade. Isso significa que não temos de nos livrar de alguns pontos gatilho no trapézio superior antes? Não. Mas frequentemente esta escápula está presa na posição errada. Pensamos que ela está estável, mas ao invés disso ela não é móvel. Isso não significa que ela é estável onde deveria ser. Às vezes temos que soltar esta escápula para torná-la mais estável. Fazemos auto liberação miofascial na parte superior das costas, fazemos um pouco de alongamento para o músculo redondo maior, metemos uma bolinha de tênis na região da axila, alongamos isso e resetamos a escápula. Em seguida, a treinamos para uma autêntica estabilidade, mas somente quando a mobilidade é aceitável.
Pontos Gatilho – Trapézio Superior:
Mais uma vez, nós vemos trapézios tensos, e pensamos que a última coisa que precisamos fazer nestes ombros é adicionar estabilidade, pensando que ao invés disso precisamos fazer um trabalho de mobilidade. Talvez você traga a escápula de volta ao lugar a que ela pertence, mas se você quer ver se ela é estável, olha a pessoa realizando um levantamento terra e veja se pode ser mantida a mesma posição escapular durante o movimento. Não? Então o indivíduo não tem estabilidade. O levantamento terra representa uma tração, e pranchas frontais e flexões de braço (apoios) representam compressões. Um ombro estável precisa ser capaz de gerenciar ambas as situações.
Na articulação glenoumeral buscamos mobilidade. Mas certamente você pode pensar em uma pessoa com o ombro deslocado. Uma vez que pense isso pode pensar que todo mundo precisa estabilizar a articulação glenoumeral, mas se você realmente medir a amplitude de movimento da articulação, pode começar a pensar de maneira diferente.
No passado, trabalhamos o treinamento do ombro focando no manguito rotador e tentávamos fortalecê-lo. Então ao nos tornarmos melhores percebemos que o ombro precisava de uma base estável. Esta base era a escápula.
Músculos do Manguito Rotador:
Como tornar a escápula estável se a coluna torácica é rígida? A escápula pode estar se movendo incorretamente ou movendo-se demais quando os ombros não se movem direito. Eu vi muitos golfistas tentarem isto. Eles não tem mobilidade na coluna torácica de modo a ter um bom giro do ombro no swing do golfe, eles protraem um ombro, retraem o outro e parece que estão girando a coluna torácica. Não estão. Estão só desestabilizando ambos os ombros.
Podemos levar isso alguns passos adiante. Passada a articulação glenoumeral, estamos de volta à coluna torácica, subimos até o meio do pescoço, da sétima até a segunda vértebra cervical talvez. A maioria das pessoas necessita de mais estabilidade lá. Elas precisam de sua curvatura de volta, e elas precisam de uma boa estabilidade.
A maior parte das pessoas nesta era do computador, na era do automóvel, tem rigidez na região suboccipital, as articulações entre a base do crânio e a 2ª vértebra cervical (C2). É por isso que muitas pessoas quando cerram as mandíbulas não consegue encostar o queixo no peito, ou fazer 45º de rotação sem usar o resto do pescoço. Estão com a região suboccipital muito tensa de muitos hábitos posturais ruins e de tensão na área. Elas sobrecarregam os componentes mediais do pescoço que são onde normalmente vemos alterações degenerativas.
Onde mais vemos alterações degenerativas na coluna? Na região média do pescoço e na coluna lombar, áreas que precisam de mais estabilidade. Uma vez que estas áreas tornam-se degeneradas, elas tornam-se rígidas. Muitas pessoas não entendem que rigidez no corpo é uma tentativa de parar a frouxidão.
Normalmente vemos um pouco de degeneração nos joelhos. Isso não significa que não temos isso nos quadris e tornozelos, mas nos joelhos isto parece ter se agravado. Esta é uma área que provavelmente poderia ter mais estabilidade e melhor alinhamento, melhor tudo.
Podemos seguir até o cotovelo e as mãos, mas são regiões complicadas pois temos lesões a considerar. O cotovelo é mais de uma articulação também; há um monte de coisas acontecendo lá também. Quando chegamos nas mãos, com todas as tarefas manipulativas que as pessoas fazem, uma das primeiras coisas que eu sempre olho é a extensão e flexão completa do punho. Sem isso, toda a mecânica da cadeia acima se torna comprometida: cotovelo, ombro, escápula, coluna torácica e pescoço.
Em nosso DVD Secrets of the Shoulder (N.T: Sem versão em português), Brett Jones e eu discutimos todos os neurônios no cérebro dedicados ao braço todo, escápula e até mesma a perna do mesmo lado.
Existe uma grande quantidade de área cerebral dedicada ao gerenciamento efetivo da mão. Quando existem restrições, compensações e problemas na mão, uma pessoa praticamente contorce o corpo inteiro para se adaptar a isso.
Por isso que a informação sensorial é muito importante, por isso que a informação do pé é muito importante, por isso que a informação da mão é muito importante, sem isso uma pessoa sacrificará outras partes do corpo. Por isso temos de certificar-nos de obter um bom panorama geral da pegada, da passada, da marcha e a maneira como o pé se conecta, e da forma como a visão interage com isso tudo.
O propósito do conceito articulação por articulação é perceber generalidades. É mobilidade empilhada sobre estabilidade, empilhada sobre mobilidade. Os exemplos estão aí para fazer você pensar: acima e abaixo da área em que está trabalhando e das coisas pelas quais está procurando. Por isso, em certo sentido, a abordagem articulação por articulação é simplesmente outra forma de fazer as pessoas avaliarem padrões completos de movimento fora do FMS (N.T: Functional Movement Screen, algo como análise de movimento funcional, um teste ou análise de movimentos inventado por Gray Cook que já tornou-se célebre no mundo inteiro).
Uma vez que tenha isso, se decidir ir até o fim de sua vida sem usar o FMS, isso não me aborrecerá nem um pouco. Ele é simplesmente uma ferramenta. Desde que você obtenha a perspectiva, ótimo. O que acontece, porém, é que esta ferramenta define uma base grande e algumas vezes nos protege de nossa subjetividade. Um médico pode ser realmente bom em diagnosticar fraturas, mas ainda gostaríamos que ele fizesse um
raio-X.
É muito fácil sem um raio-X ter cerca de 85% de precisão em diagnosticar uma fratura, e qualquer um que fez medicina esportiva por muito tempo tem uma percepção de um entorse ou uma fratura. Mas você sempre quer ter o raio-X.
Eu tenho uma perspectiva muito boa de como uma pessoa se move, mas eu quero revisitar a base porque se eu melhorar o movimento de alguma maneira, não quero ter apenas minha informação subjetiva para dizer isso.
Muitas vezes vemos pessoas com foco na estabilidade do core. Eles martelam a prancha lateral, eles martelam outro exercício qualquer. A estabilidade no core é melhor, não discutirei isso. Mas agora que você levantou o trapézio superior, tirou o pescoço fora do alinhamento, o quadril basicamente não move; nada melhor do que isto feito antes da prancha lateral. A prancha lateral ativa o core, não conserta o quadril, o ombro e o pescoço.
Isso é o que? Um passo a frente e dois passos para trás? Esse é o problema quando entramos na abordagem cinesiológica. Encontramos um erro de movimento e queremos corrigi-lo. Mapeamos os músculos motores primários naquela área. Os exercitamos concentricamente, e pensamos que fizemos alguma coisa. Não fizemos.
Honestamente, nós deixamos muita coisa de lado em se tratando de reabilitação, não podemos atirar pedras em ninguém na preparação física. O fator de risco número um para uma futura lesão é uma lesão passada. Isso praticamente significa que existe um monte de quiropraxistas, fisioterapeutas e treinadores liberando as pessoas, ou dando-lhes um atestado de saúde quando os pacientes dizem que se sentem bem. Isso é ótimo, fico feliz que elas se sintam bem.
Se o médico libera um jogador da NFL (N.T: National Football League, é a liga profissional de futebol americano), o preparador físico pode concordar que o problema médico está resolvido. No entanto, estar bem e estar pronto para jogar são 2 coisas diferentes. O FMS e outro teste funcional qualquer, demonstram fatores de risco, e os melhores preparadores físicos olham esses fatores de risco constantemente. O cara pode ter um avanço (lunge) assimétrico. Ele está livre de dor; ninguém está discutindo isso. Mas nós como clínicos da área musculoesquelética estamos liberando pessoas que se sentem bem, mas que ainda se movem de maneira ruim. Os mandamos de volta a seus personal trainers, de volta a seus preparadores físicos, de volta a seus instrutores de ioga.
Agora temos a indústria do fitness inteira tentando lidar com problemas que deveriam ter sido resolvidos na situação de reabilitação ou ao menos previstos, significando que os clínicos precisam estar preparados para ter outra conversa com o paciente:
“O convênio não vai me pagar se eu tratá-lo mais, você não tem dor nas costas e se sente bem, mas você não agacha bem. Quando faz um avanço com o lado esquerdo, ele parece ótimo. Quando faz com o lado direito ele torna-se muito instável. Eu quero você ligado à um treinador que consiga isso. Aqui está o negócio.”
“Você têm que estar com seu padrão de movimento, no avanço, simétrico e ter seu padrão de movimento no agachamento, de volta. Eu sei que você quer perder peso e voltar para a academia, mas você precisa se mover bem antes de se mover mais. Eu sei que você quer estar bem condicionado novamente. Eu sei que você quer jogar golfe na primavera. Estes são os meios mais rápidos para se chegar lá”.
Isso é o que eu falo nas nossas oficinas de treinamento quando as pessoas trabalham juntas. O fator de risco número 1 para uma lesão é uma lesão prévia. Isso é um insulto a qualquer um que esteja tratando lesões, porque isso significa que estamos deixando fatores de risco de lado. Isso não significa que temos que corrigir todos esses problemas, mas podemos usar nossa rede de contatos profissionais para dar opções aos nossos pacientes.
Quando descascarmos a cebola, adivinhe onde os fatores de risco estarão? Não é na força muscular. Nem sequer flexibilidade. Não são assimetrias de mobilidade ou estabilidade.
Assimetrias de movimento.
Quebre estes padrões. Descubra o que esta causando isso: restrição na dorsiflexão, mecânica ruim da coluna, o que quer que seja. Conserte isso, mas cheque novamente o padrão de movimento. Se o padrão de movimento não mudou, você pensou que tinha consertado, mas não o fez. Continue trabalhando, continue aprimorando. Quando o padrão de movimento mudar, você fez seu trabalho.
Controle Motor:
Controle motor é a capacidade de equilíbrio e movimento através do espaço e amplitude de movimento. As pessoas chamam isso de estabilidade; iremos chamar de controle motor. Não é força. Você pode manter o equilíbrio sobre um pé? Pode controlar um agachamento profundo? Pode fazer um avanço com uma base de apoio estreita sem perder o equilíbrio?
Assimetrias e controle motor são duas coisas ocultas que não são abordadas na reabilitação. Gostaria que toda a comunidade do fitness aprendesse com os erros que cometemos. Apenas porque uma pessoa se sente bem, não significa dizer que ela não está em risco de uma lesão, e isso também não significa que essa pessoa está indo ao matodouro com o programa de exercícios que você planejou.
Seus clientes estão tentando se mover ao redor das coisas ao invés de se mover através das coisas.
A abordagem articulação por articulação é um excelente modelo para levar você de volta ao pensamento de que a cinesiologia vai salvar o dia. Isso faz você considerar as articulações acima e abaixo, mas se você quer outra forma de verificar, olhe para o padrão de movimento completo.
Movimento; uma vez que o obtemos através da mecânica correta, ainda resta uma individualidade comportamental que permanece amplamente não acessada. Realmente, quando treinamos pessoas e estamos trabalhando em treinamento funcional, estamos trabalhando em condicionamento, treinando ou mudando o comportamento do movimento. Para levar a abordagem articulação por articulação um pouco mais fundo, não foque apenas no segmento em que você pensa que encontrou um problema.
Perceba isto: Até que esteja tudo claro acima ou abaixo, não pode ser um problema singular.
Mestre, concordo de novo ehheeh mas o fisio ainda tem um problema maior: ele nao sabe avaliar ! Por isso ela nao valoriza a lesao previa. Ele nao sabia q ela estava la!
ResponderExcluirabco