quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Mobilidade do Hálux - Parte 2

Continuando com o artigo, escrito pela Emily Splichal, sobre mobilidade do hálux. Nesta segunda parte o foco é em cima de avaliações da área. 

Aos que não leram a parte 1: Mobilidade do Hálux - Parte 1.





Mobilidade do Hálux: A Peça Vital para Longevidade do Movimento (Parte 2 - Avaliações Funcionais)

Emily Splichal


Nessa segunda parte vamos rever algumas técnicas de avaliação funcional para o hálux, para assegurar que estamos avaliando acuradamente e efetivamente a sua dorsiflexão. 

Se lembrarmos da parte 1, enfatizamos a interconexão entre mobilidade do hálux, estabilidade do primeiro raio e posicionamento da articulação subtalar. Lembrem-se desta interconexão à medida que formos analisando as técnicas de avaliação. Se não leram a primeira parte, recomendo que o façam antes de proceder na leitura desta parte 2.



Avaliação de Cadeia Aberta x Cadeia Fechada

Quando consideramos a dorsiflexão do hálux, sempre procuramos fazer avaliações de cadeia aberta e fechada. A razão é que em uma avaliação de cadeia aberta, teremos uma ideia da integridade articular e somos capazes de verificar qualquer crepitação articular ou alterações artríticas que podem estar presentes. Enquanto que em avaliações em cadeia fechada estamos avaliando a estabilidade funcional do pé, para ver se ela permite a dorsiflexão máxima do hálux. Uma não deveria ser feita sem a outra.



Passo 1 - Aparência Geral da Primeira Articulação Metatarsofalângica

Sembre comece olhando para a aparência da articulação, sem a descarga de peso.  

Existe algum joanete? Dependendo do tamanho do joanete pode ser afetada a integridade articular, assim como alterar o posicionamento do final da fase de apoio do pé no solo durante o ciclo da marcha.

Existe algum esporão na parte dorsal do pé? Na presença de artrite e de uma função articular alterada, o corpo começa a criar esporões ou osteófitos ao longo do aspecto dorsal da articulação.

Estes são vistos mais facilmente em um exame de raio-x, mas muitas vezes podemos vê-los e palpá-los ao longo da linha articular dorsal. Dependendo do grau dos osteófitos, eles podem começar a limitar a dorsiflexão do hálux durante o final da fase de apoio do pé no solo durante o ciclo da marcha.



Passo 2 - Integridade Articular


A seguir, você pode avaliar a saúde da articulação para determinar se qualquer mudança artrítica está presente. Ao mover o dedo para cima e para baixo, não somente estamos avaliando a mobilidade, mas olhando para a presença de crepitação, ou "osso com osso".

Neste passo, também se pode determinar se existe limitação na dorsiflexão em cadeia cinética aberta. Se existe alguma limitação em cadeia aberta, com certeza haverá limitação em cadeia fechada.




Passo 3 - Carga no Primeiro Metatarso

No passo 2 estamos simplesmente avaliando a integridade articular, mas não temos uma representação acurada da dorsiflexão do hálux.

Se você olhar para a figura do passo 2 (logo acima), verá que enquanto estou dorsifletindo o hálux a cabeça do primeiro metatarso faz uma grande flexão plantar. Este grau de flexão plantar não é possível quando se está de pé, já que seria bloqueada pelo solo quando caminhamos. Isso significa que a avaliação do passo 2 não se transfere para a dorsiflexão em cadeia fechada.


Para ter uma representação mais acurada da mobilidade em cadeia fechada, temos que colocar uma carga na cabeça do primeiro metatarso, como estou fazendo na figura à esquerda (N.T: Empurrando com o dedo). Isto imita o que acontece com o pé no solo, em cadeia cinética fechada. Agora faça a dorsiflexão do hálux para determinar sua mobilidade.




Passo 4 - Avaliação da Elevação do Calcanhar

Agora com o cliente em pé, começaremos a comparar os achados anteriores com a função em cadeia cinética fechada. A primeira avaliação é a elevação do calcanhar.

Não somente é uma grande avaliação para determinar a habilidade do pé de travar e tornar-se uma alavanca rígida - mas também nos permite analisar a alavanca do antepé do cliente.

Quando o cliente fica na ponta dos pés, analise a altura que ele é capaz de atingir - assim como a capacidade de permanecer sobre as cabeças dos 5 metatarsos das articulações metatarsofalângicas (N.T: Articulação entre as cabeças dos metatarsos e as falanges proximais. Também aparece a nomenclatura de metatarsofalangeanas).  

Na figura acima, eu gostaria de ver o cliente ficar um pouco mais medial, sobre o hálux, durante a elevação do calcanhar (N.T: Na foto podemos ver que existe uma descarga de peso mais lateral). Este achado da avaliação será comparado com a avaliação da marcha e a posição da fase final da fase de apoio na marcha (abaixo).



Passo 5 - Posição da Fase Final do Apoio na Marcha

A posição da fase final do apoio na marcha e a dorsiflexão do hálux são
provavelmente as avaliações mais importantes a serem feitas em relação ao hálux. Se o cliente tem uma boa dorsiflexão do hálux em todas as outras avaliações, mas não consegue realizar de maneira apropriada essa fase final do apoio na marcha, todas as outras avaliações se tornam irrelevantes (N.T: Está se referindo ao pé de trás, na foto ao lado).

Lembre-se, nosso objetivo é otimizar a função e não verificar se nossos clientes passam em avaliações estáticas.


Quando caminhamos, precisamos de no mínimo 30º de dorsiflexão do hálux. Se existe menos do que isso, ou a dorsiflexão não ocorre com a sincronia correta durante o ciclo da marcha, o resultado serão compensações. A mais comum que veremos ocorrer é os clientes assumirem o que é chamado de "LOW GEAR PUSH-OFF POSITION". (N.T: 
High Gear: seria uma posição onde o alinhamento está otimizado, permitindo um bom alinhamento, boa estabilidade do pé e a consequente eficiência aumentada ao empurrar o solo para se deslocar de maneira eficiente. 
Low Gear: ao contrário, seria uma posição onde aparecem compensações, não permitindo uma dorsiflexão do hálux, com a consequente falta de estabilidade do pé e ineficiência ao empurrar o solo para se deslocar. Na foto acima está um exemplo do que seria esta posição, o que ela chama de Low Gear. Podemos ver que o quadril de trás está em rotação externa e que não existe a dorsiflexão do hálux).

Essa posição parece com a imagem acima e é associada com um pé instável. Se você se lembra, durante a fase final de apoio na marcha precisamos da máxima rigidez do pé para permitir produção de potência. Na parte 3 desta série estaremos focando no LOW GEAR PUSH-OFF.



Passo 6 - Dedo sob o Hálux/Avaliação da Articulação Subtalar

Certamente eu poderia colocar um nome mais técnico nesta avaliação, mas acho que "dedo sob o hálux" é mais fácil de lembrar. Nesta avaliação eu gosto de demonstrar aos clientes e profissionais o impacto que a articulação subtalar tem na estabilidade do primeiro raio e na dorsiflexão do hálux. 

Na cliente acima, vimos através das diferentes avaliações que ela tem boa dorsiflexão em cadeia aberta com boa integridade articular (sem crepitação). Quando ela fica em pé e faz o teste de elevação do calcanhar, começamos a ver um desvio do peso corporal se afastando do hálux. Além disso, durante a marcha, ela assume uma "LOW GEAR PUSH-OFF POSITION" - tudo isso indicando um comprometimento da dorsiflexão funcional do hálux.

A próxima avaliação que faremos é para determinar se a limitação da dorsiflexão do hálux é direcionada pela falta de estabilidade do primeiro raio, para isso faremos o teste do dedo sob o hálux

Faça com que o cliente fique em pé em uma posição relaxada do calcanhar. No caso da nossa cliente, você pode ver que ela prona de leve o pé em uma posição destravada (N.T: Unlocked em inglês). Lembre-se que idealmente queremos avaliar a posição da articulação subtalar na visão posterior, não de frente como na foto à direita.


Quando o cliente está em uma posição com o pé "destrancado" e relaxado, avaliamos a dorsiflexão do hálux ao tentar colocar o dedo sob o hálux. Advirta o cliente para permanecer relaxado e não lutar contra ou tentar assisti-lo de nenhuma forma. 

Na figura logo acima, você pode ver que eu mal coloco meu dedo sob o dedão da cliente. Isto é uma quantidade insuficiente de dorsiflexão do hálux. Deveríamos ser capazes de colocar o dedo inteiro sob o dedão.

O que faremos a seguir é colocar o pé em uma posição neutra. Esta posição neutra da articulação subtalar irá fazer com que o primeiro raio adquira uma posição estável e faça com que o fibular longo trabalhe de maneira adequada, como parte da linha espiral, como vimos na parte 1 desta série (N.T: Ela aplica uma rotação externa na tíbia/fíbula, reposicionando a subtalar)

A partir daí, iremos reavaliar a dorsiflexão do hálux com o teste do dedo sob o hálux.


Você pode ver na figura à esquerda que ao estabilizar a articulação subtalar e o primeiro raio, houve uma grande melhora na dorsiflexão do hálux.

Esta avaliação começa a guiar minha abordagem com esta cliente.

Meu foco precisa resgatar a estabilidade e a função da articulação subtalar se eu quiser otimizar sua dorsiflexão do hálux durante movimentos em cadeia fechada.

Na parte 3 começaremos a explorar a programação mais efetiva para melhorar a dorsiflexão do hálux. Por favor, lembrem-se que as técnicas de avaliação são projetadas para provocar a reflexão. Elas não têm intenção de ser definitivas em diagnosticar disfunção no hálux. Uma avaliação completa incluiria imagens, como as proporcionadas por Raio-X, para que tenhamos uma verdadeira perspectiva da saúde da articulação.

Para antecipar a terceira parte desta série, assistam o vídeo abaixo sobre a discussão de HIGH GEAR X LOW GEAR PUSH-OFF POSITIONS.

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