Pela primeira vez faço uma adaptação de um artigo publicado em periódico, esse já é bem antigo, mas contém informações que podem ainda hoje servir de guia na elaboração de programas de treinamento de força. O autor, o canadense Charles Poliquin, tem bastante experiência na preparação física de atletas de diversas modalidades.
O título original é: Variety on Strength Training.
Boa leitura aos amigos.
O título original é: Variety on Strength Training.
Boa leitura aos amigos.
Charles
Poliquin
Introdução
Variedade
é um fator crítico em otimizar a resposta do treinamento de força, já que isto
ajuda a evitar a estagnação fisiológica e psicológica causada por colocar muita
ênfase na especialização. A experiência prática indica que a adaptação do corpo
humano aos estresses do treinamento pode deteriorar rapidamente dentro de
somente duas semanas de exposição à uma carga constante (16,23). Infelizmente,
poucos treinadores percebem que a fim de otimizar os benefícios de um programa
de treino de força, as cargas de treinamento precisam variar periodicamente
e/ou devem ser progressivamente aumentadas. Como resultado, muitos programas
produzem resultados menores do que o ideal. Este artigo irá discutir vários
métodos para construir variedade em programas de treinamento para aumentar sua
efetividade.
Fontes
de Variação
Existe um bom número de métodos para incorporar variedade em programas de treinamento
de força, em um contexto de curto e longo prazo. O programa de treinamento pode
ser modificado através de um ou de muitos dos seguintes fatores:
- A magnitude das cargas de treinamento;
- O tipo e a velocidade de contração muscular;
- O tipo de exercício desempenhado.
- A magnitude das cargas de treinamento;
- O tipo e a velocidade de contração muscular;
- O tipo de exercício desempenhado.
Variação
das cargas de treinamento
A
alteração das cargas de treinamento em termos de volume e intensidade é de
crítica importância para o sucesso de qualquer programa de treinamento de força
(5). A carga de treinamento pode ser manipulada através da modificação do
volume e intensidade. O volume pode ser controlado através da variação da freqüência
de treino ou a quantidade de trabalho desempenhado dentro de um determinado
período. Fases de alto volume (acumulação - carga extensiva), alta intensidade
(intensificação - carga intensiva) e de descarga (N.T: Unloading em inglês),
deveriam ser moduladas dentro do programa, para acomodar o princípio da supercompensação
(N.T: Em termos simples e bem resumidos: restauração do sistema após um período de sobrecarga).
Existem visões diferentes do comprimento exato
das fases de carga e descarga (N.T: "Descarga entra aqui como tradução de "unload", fase onde as cargas de trabalho são diminuídas para proporcionar uma recuperação. Pode ser traduzido como fase de recuperação). Uma abordagem sugere 3 semanas de carga, seguidas por 1 semana de descarga
(18) (ver figura 1). Outro método de periodização é baseado na premissa de que
a maior sobrecarga (N.T: Overload) ocorre durante a terceira semana, quando o
atleta está mais fadigado. A última abordagem portanto, consiste de um período
menor de carga (duas semanas) seguido por uma semana de descarga (figura 2).
Ambos métodos de periodização cabem no ciclo adaptativo do atleta
particularmente bem, em oposição à sobrecarga linear da programação.
Variação
do tipo de contração
Várias
combinações de treinamento: concêntrico, excêntrico e isométrico, têm demonstrado
promover taxas de ganho de força maiores quando comparadas à somente
contrações concêntricas (22). O treinador da equipe nacional soviética de
levantamento de peso olímpico A.K. Worobojow (32) recomenda a seguinte ênfase
proporcional a ser dada aos diferentes tipos de contração:
→ 70% concêntrica, 20% excêntrica, 10% isométrica.
(N.T: À época de publicação do artigo, ainda existia a União Soviética).
O aumento da popularidade do treinamento excêntrico é devido primariamente à maiores ganhos de força e hipertrofia (14,15), que resulta das maiores tensões musculares acompanhando estímulos que caracterizam contrações excêntricas (31).
→ 70% concêntrica, 20% excêntrica, 10% isométrica.
(N.T: À época de publicação do artigo, ainda existia a União Soviética).
O aumento da popularidade do treinamento excêntrico é devido primariamente à maiores ganhos de força e hipertrofia (14,15), que resulta das maiores tensões musculares acompanhando estímulos que caracterizam contrações excêntricas (31).
A
precisa determinação da ênfase relativa de cada forma de treino, deveria ser
baseada sobre a consideração da específica natureza do esporte em questão. O
treinamento isométrico pode ser indicado, por exemplo, para dominar certos
movimentos na ginástica olímpica, como o crucifixo (N.T: Iron Cross em inglês)
ou a alavanca frontal de braço (N.T: One arm lever em inglês) nas argolas. Por
outro lado, uma maior ênfase no treinamento excêntrico seria apropriado para
ginastas que estão tendo dificuldades de “cravar” uma aterrissagem na
finalização da série ou para atletas que competem em esportes que envolvem
aterrissagem, como os saltos em esquis ou salto em distância. Finalmente, as
demandas de outros esportes que requerem primariamente contrações concêntricas
(como a natação) podem também influenciar a importância relativa deste tipo de
treinamento no programa.
Variação
na velocidade de contração
As adaptações musculares tendem a ser aceleradas se as
cargas de treinamento são variadas na velocidade de movimento, em oposição a
manter um ritmo constante (3). Ganhos de força máxima são produzidos através de
movimentos lentos no treino de força (1,6), por várias razões. A primeira se
refere à relação existente entre a velocidade de contração e a tensão muscular
resultante. Como mostrado na Figura 3, movimentos lentos são associados com o
desenvolvimento de altas tensões, em oposição a tensões mais baixas
desenvolvidas durante movimentos de altas velocidades. Isto quer dizer que
quanto maior a velocidade do movimento, menor será a correspondente tensão
muscular desenvolvida. Em segundo lugar, o movimento com altas cargas em baixas
velocidades evita a possibilidade do atleta tirar vantagem do impulso (N.T:
Momentum) criado durante as repetições, portanto aumentando o estresse nos
músculos. Por último, a desaceleração do movimento (Ex.: De 3 a 10 segundos
para fase concêntrica e excêntrica) aumenta a duração do estímulo aplicado, para
induzir um aumento mais rápido de força.
Muitos esportes,
como aqueles envolvendo a habilidade em golpear, são caracterizados por
movimentos explosivos. É importante considerar as implicações do treinamento de
alta velocidade quando prescrever programas de força específicos ao esporte.
Enquanto tal treino aumenta a potência muscular ou velocidade-força (N.T:
Speed-strength em inglês), não irá produzir no entanto, ganhos em força máxima, devido
às tensões musculares mais baixas e os correspondentes níveis de estímulos mais
baixos observados em contrações musculares rápidas. Por último, tal tipo de
treinamento precisa ser antecedido por uma base sólida de força máxima, a fim de
limitar o risco de lesões.
Os países do bloco da Europa Oriental tipicamente usam
tempos de execução de lentos (30º por segundo) a moderados (60º por segundo)
durante os estágios iniciais do treinamento de força (13,19). O programa
deveria, portanto, progredir de tempos de execução de moderados a lentos nas fases
iniciais do calendário de treinos do atleta, seguido por uma gradual aceleração
dos movimentos quando a temporada competitiva se aproxima.
A figura 4 (abaixo), ilustra os efeitos do treino de força
em velocidades altas versus baixas velocidades. O treinamento em velocidades
lentas aumenta a curva força-tempo, enquanto que o treino em altas velocidades
muda a curva para a esquerda (26). Isso significa dizer que o atleta deveria
treinar lentamente para desenvolver a máxima tensão durante as sessões de
exercícios e otimizar os ganhos de força, e então treinar explosivamente para promover melhoras na taxa de desenvolvimento de força (N.T: Relação entre a força e a velocidade com que podemos dispor dessa força. Na grande maioria dos esportes não temos tempo hábil de atingir o pico de contração, então é fundamental aplicar a maior quantidade de força no menor tempo possível).
É recomendado que seja desempenhado não mais do que 60
segundos por série quando treinar em baixa velocidade.
Por exemplo, se a velocidade do movimento é reduzida para 6 segundos para cada
porção concêntrica e excêntrica do levantamento, então não deveria ser
permitido mais do que 5 repetições por série:
- 5X (6 segundos concêntrico + 6 segundos excêntrico) = 60 segundos.
Variação
do exercício
O recrutamento de unidades motoras dentro de um músculo
aparenta ser fixo para um determinado movimento, mesmo que a velocidade de
contração varie (7). No entanto, no caso de mudança na posição (21) ou um
músculo multifuncional desempenhando diferentes movimentos (8,11), este arranjo
(N.T: No original ele escreve a palavra
“order” que tem várias traduções. Escolhi arranjo) de recrutamento pode ser
modificado.
A variação no arranjo de recrutamento relativo ao padrão
de movimento, pode parcialmente explicar a importância da especificidade do
treinamento discutida na literatura (25), emprestando algum suporte à noção de
longa data dos praticantes de treino de força de que o desenvolvimento completo
de um músculo ocorre quando ele é exercitado através de sua amplitude de
movimento completa (24). Portanto, a modificação dos tipos de exercício no
programa de treino (Ex Mudar de exercício com halteres para exercícios com
barras, ou incorporar diferentes padrões de movimento nos exercícios)
representa outro método prático de promover ganhos mais rápidos de força.
Variação
de curto e longo prazo
Variação de curto e longo prazo pode ser construída em um
programa de treinamento de força. A seção seguinte irá fornecer exemplos de
aplicações em ambos os contextos.
Variação
de longo prazo
A variação de longo prazo envolve a alternância de modos
dominantes de métodos de treinamento de um programa, através do curso de um
macrociclo, dentro de um plano anual ou plurianual. É então uma questão de
modificar a natureza dos exercícios. Introduzir um equipamento de treino
diferente ou progredir de um treino geral de força para um treino pliométrico,
esses são exemplos desta forma de variação. A progressão a seguir, recomendada
por Tschiene (28), recomendada para vários esportes, ilustra como um programa
pode variar através do curso de um ano.
Fase 1:
Nessa fase é colocada ênfase no desenvolvimento geral do atleta, o chamado
treinamento de força de base. Essa fase envolve o treinamento de força máxima,
velocidade-força (N.T Speed-strength) e resistência de força.
Fase 2: A
ênfase é no desenvolvimento da força máxima nos grupos específicos envolvidos
no esporte em particular; sem muita preocupação a respeito da especificidade, direção e velocidade do movimento.
Fase 3: O
treino de força é direcionado para as necessidades específicas do esporte em
questão. Neste estágio, é dado importância aos padrões de movimento específicos
observados no esporte, em termos de velocidade e direção.
Fase 4: O
treinamento pliométrico (17) deveria fazer parte da última fase do programa,
introduzido imediatamente antes do início da temporada e mantido durante o
calendário competitivo.
A figura 5. oferece um exemplo da progressão acima,
mostrando a variação dos modos de carga dominantes através do tempo, neste caso, para
melhorar a performance no salto vertical.
Schimdtbleicher (27) sugere que os atletas alcançam seu
potencial mais rapidamente se forem empregados primeiro métodos que favoreçam o
desenvolvimento de massa muscular, seguido por um treinamento intensivo que
tenha foco no aumento da ativação de unidades motoras (aumentando o
recrutamento e a freqüência de disparo das unidades motoras). A abordagem
recomendada é alternar entre estágios de 2 semanas de duração, inicialmente
promovendo adaptação através do volume de treinamento (fase de acumulação) e
então através da intensidade do treinamento (fase de intensificação). Como
mostrado nos exemplos fornecidos pelas Tabelas 1 e 2. É importante notar a
relação inversa entre volume e intensidade. Quando a intensidade aumenta, o
volume decresce de acordo. De maneira inversa, se a intensidade é reduzida o
volume de treino aumenta.
Tabela 2. Um programa de 18 semanas para desenvolver força e potência do quadril e extensores do joelho em uma fase de preparação geral.
Variação de curto prazo
As cargas de treinamento podem ser prontamente variadas
dentro de um microciclo, através de qualquer um dos métodos discutidos
anteriormente neste artigo. A prescrição do exercício pode variar dentro de uma
sessão de treinamento, ou de uma sessão para outra, através da manipulação das
séries de exercícios.
A tabela 3 oferece um exemplo da variação que pode ser
construída em um microciclo, neste caso, é apresentado o treinamento dos
extensores do ombro de um atleta de luta livre, durante uma fase de intensificação.
Considerações a respeito da manipulação das séries
A determinação do número ideal de séries por exercício
ainda tem que ser completamente investigada. No entanto, as seguintes
considerações devem ser feitas quando definirmos as séries:
- Normalmente 1 a 2 séries são suficientes como estímulo de treinamento para iniciantes. Após 6 a 12 sessões, a carga de trabalho deveria ser aumentada, para acomodar a adaptação dos músculos. 3-6 séries ou mais.
- Os treinadores precisam levar em conta a individualidade da resposta dos atletas ao treinamento.
- Deve haver uma relação inversa entre o número de repetições e o número de séries. Geralmente, quando o número de repetições desempenhadas por séries diminui, o número de séries necessárias para sobrecarregar o músculo precisa aumentar.
- Pequenos grupos musculares (ex: bíceps) tendem a recuperar mais rápido do que maiores grupos musculares (ex: quadríceps), e, portanto podem suportar um maior número de séries.
- Músculos que normalmente não são submetidos a uma carga intensa em atividades diárias, como os adutores da coxa e os extensores/flexores do pescoço, respondem bem a uma pequena quantidade de séries.
- A sessão de exercícios deveria se restringir a 20-25 séries.
- Deve ser permitido um descanso suficiente entre séries para permitir a reposição dos fosfagênios do músculo (N.T: Outro nome do sistema de produção de energia anaeróbio alático, ou sistema ATP-CP. Uso da quebra da creatina fosfato na produção energética). Após algumas séries, os músculos podem se tornar fadigados ao ponto onde o número de repetições até a falha é reduzido.
Considerações relativas à elaboração do programa
Antes
de elaborar um programa de treinamento de força, várias questões deveriam ser
consideradas:
- Quais as quantidades e o tipo de manifestação de força são requeridos no seu esporte?
- Onde a maior parte da performance esportiva se encaixa na curva força-velocidade?
- Quais os grupos musculares mais solicitados durante a sua performance esportiva?
- Quais são os padrões de movimentos típicos, e as velocidades, que os atletas devem treinar?
- Qual
o calendário competitivo e qual será a duração relativa das várias fases de
treinamento?
- Como será trabalhada a variação no seu programa de treinamento?
Resumo
Existe
uma grande variedade de exercícios dentro do treino de força disponíveis para
treinadores e atletas, e vários métodos para assegurar variedade em um programa
de treinamento. Uma vez que a resposta ao treinamento é o resultado de uma
perturbação causada pelo estresse do treinamento, é importante que seja frequentemente
criado esse tipo de perturbação na rotina de treinos. Tal manipulação irá
resultar no estímulo do processo de supercompensação, mantendo o interesse do
atleta, evitando que fique entediado e que haja estagnação do progresso.
Referências
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