Há pouco tempo estava assistindo uma excelente série de dvds chamada: The Certified Kettlebell-Functional Movement Specialist (CK-FMS) Home Study Course, e nas perguntas finais do curso um cidadão perguntou a Gray Cook quais recursos (de livros, dvds) ele recomendaria. A primeira resposta, sem vacilar 1 segundo, foi: "Estude o desenvolvimento motor".
Então vamos ao artigo.
Abraço a todos.
Cinesiologia Desenvolvimental e Avaliação dos Clientes
- Patrick Ward -
Doutores como Janda, Vojta, Lewit e Kolar (N.T: Para saber mais sobre estes profissionais da reabilitação VEJA: Escola de Reabilitação de Praga e os conceitos fundamentais sobre os quais foi criado um método chamado DNS - Dynamic Neuromuscular Stabilization) fizeram grandes progressos na aplicação do conceito do desenvolvimento infantil na reabilitação física de adultos. Adicionalmente, Gray Cook e Lee Burton pegaram alguns desses conceitos e aplicaram em sua criação: O FMS.
Abaixo estão algumas anotações da cinesiologia desenvolvimental e o que elas significam para a concepção do programa de treinamento para nossos clientes.
Reflexos Infantis:
Reflexos são movimentos que ocorrem automaticamente (como piscar). Enquanto alguns de nossos reflexos ocorrem por toda nossa vida, alguns estão presentes somente quando somos bebês. Estes são conhecidos como reflexos infantis. Existem 3 tipos de reflexos infantis: primitivos, posturais e locomotores.
Reflexos Primitivos – Lidam com a produção de uma resposta involuntária a um estímulo específico na criança. Um exemplo disso seria colocar o dedo na palma da mão de uma criança; o bebê reflexivamente agarra e aperta o dedo. Outros exemplos de reflexos primitivos são:
→ Reflexo de Sucção (mamar) – Produzido ao tocar no rosto do bebê na região abaixo ou acima do lábio.
→ Reflexo Tônico Assimétrico do Pescoço – Produzido quando a cabeça é virada para um lado, causando a extensão da perna e do braço desse mesmo lado (ipsilateral).
→ Reflexo de Sobressalto – Produzido quando tocamos o abdômen ou tentamos assustar o bebê, causando uma flexão nos braços e pernas (N.T: Proteção)
→ Reflexo de Babinski (reflexo plantar) – Produzido quando afagamos a parte inferior do pé (no sentido calcanhar – dedos), causando uma extensão dos dedos.
Reflexos Posturais – Permitem que a criança adapte automaticamente sua postura às mudanças do ambiente. També são referidos como reflexos antigravitacionais, com exceção do Reflexo de Correção de Rotação (que ocorre em uma posição supinada), os outros reflexos nesta categoria pertencem ao bebê que está sendo apoiado na posição ereta, sentado ou sendo baixado no solo; e como os reflexos dos bebês os preparam para diferentes situações nestas posturas. Alguns exemplos de reflexos posturais são:
→ Reflexo de Correção da Rotação – Na posição supinada, se a criança vira suas pernas e sua pelve em direção a um lado, o tronco e a cabeça irão seguir a rotação. Da mesma forma, se a cabeça gira em direção a um lado, o corpo segue a cabeça nesta rotação. Isso ocorre em torno de 4 meses de idade.
→ Reflexo de Correção do Labirinto – Quando a criança é apoiada em posição vertical, se você inclinar a criança ela instintivamente irá mover a cabeça para manter a posição vertical.
→ Reflexo de Paraquedista – Enquanto mantém a criança na posição vertical, se você baixá-la em direção ao solo suas pernas irão estender de maneira reflexa preparando-se para aterrissagem. Se você inclinar o bebê para frente, de lado ou para trás, seus braços estenderão reflexivamente.
Reflexos Locomotores – Como o nome diz, estes reflexos tem a ver com o nosso movimento. Existem 3 reflexos que compõem esta categoria: engatinhar, caminhar e nadar (Lembra daquelas mães diabólicas que você vê jogando seus bebês na piscina para aulas de natação? Acontece que .... os bebês sabiam nadar!).
O que tudo isto significa no treinamento de adultos?
À medida que nos desenvolvemos, estes movimentos reflexos começam a se tornar mais refinados, coordenados e complexos, levando a movimentos específicos que produziremos mais tarde – caminhar, correr, saltar, alcançar, agarrar, etc...
Contudo, o desenvolvimento destas habilidades não acontece magicamente. Aprender a controlar o corpo e desenvolver estas habilidades compõem nossos marcos no desenvolvimento motor. Cada uma dessas etapas marca uma virada em nosso desenvolvimento e existe uma progressão que esses marcos seguem. Em termos simples, temos que ser capazes de levantar nossa cabeça e suportá-la, rolar, rastejar e engatinhar, nos sustentar na posição ereta, caminhar com assistência e então andar sem suporte.
Podemos traçar muitos paralelos entre marcos motores e o Functional Movement Screen – FMS e ainda entre a maneira que desenvolvemos progressões no treinamento de nossos clientes
O FMS e a Avaliação de Padrões de Movimento Primitivos.
O FMS analisa sete padrões básicos de movimento e estes padrões são então classificados em uma escala de 1 a 3 de acordo com a qualidade de movimento produzida, a pontuação 0 significa que o cliente experenciou dor durante o movimento. Os 7 testes são:
1. Overhead Deep Squat
2. Hurdle Step
3. Inline Lunge
4. Shoulder Mobility
5. Active Straight Leg Raise
6. Trunk Stability Push Up
7. Rotary Stability
À primeira vista, parece uma série de testes de movimento (e são mesmo). Os primeiros 3 testes parecem grandes padrões globais e basicamente avaliam quão bem as articulações do corpo, tanto as de mobilidade quanto de estabilidade, jogam umas com as outras. Os testes 4 e 5 podem ambos ser considerados testes de mobilidade, já que avaliam o tipo de amplitude de movimento que conseguimos através de áreas específicas de nosso corpo. Por último os dois testes restantes, são testes de estabilidade, que analisam o quão bem conseguimos nos estabilizar.
Se eu reorganizar a ordem dos testes para representar nossos marcos motores, de repente o FMS pareceria muito diferente:
1. Active Straight Leg Raise
2. Shoulder Mobility
3. Rotary Stability
4. Trunk Stability Push Up
5. Overhead Deep Squat
6. Hurdle Step
7. Inline Lunge
Os testes agora estão na ordem que representa o nosso desenvolvimento motor.
O primeiro teste, Active Straight Leg Raise, representa o movimento espontâneo de chutar na posição supinada que demonstramos quando bebês. Quando deitados de costas, os bebês elevam suas pernas e as chutam para frente e para trás. Além disso, em tenra idade, bebês deitam de costas e brincam com seus dedos, o que incorpora flexão do quadril (Active Straight Leg Raise) e movimento do ombro/braço (Shoulder Mobility). Além disso, o teste Shoulder Mobility analisa não só a mobilidade do ombro, mas o funcionamento apropriado da coluna torácica, já que limitações na extensão da coluna torácica levarão com certeza a um baixo score no teste.
Padrões de rastejar e engatinhar, são as primeiras formas que os bebês usam para se mover. Rastejar é a primeira tentativa da criança de engatinhar e pode ser visto como engatinhar, exceto que o bebê está se movendo mais próximo do solo – barriga no solo – parecido com o rastejar do soldado em combate. Engatinhar é a progressão de rastejar, onde a criança está se movendo sobre as mãos e os joelhos. Antes de a criança adquirir a posição de rastejar ou de engatinhar, ela precisa ser capaz de rolar. O teste Rotary Stability, não somente avalia a estabilidade em 4 apoios, mas também testa a estabilidade rotacional individual, que seria necessária para executar um rolamento da posição supinada (barriga para cima) para a posição pronada (barriga para baixo), que é parte de nossos reflexos infantis. O Trunk Stability Push Up, é a representação da criança empurrando-se em preparação para a postura ereta na posição vertical.
O Overhead Deep Squat representaria a habilidade da criança ficar de pé sem auxílio. Como uma continuação dos 2 testes anteriores, alinha-se com nossos marcos motores já que a criança primeiro rola e engatinha (Rotary stability), então empurra-se sobre o sofá (trunk stability push up) e finalmente faz a transição para a postura em pé (Overhead Deep Squat).
O Hurdle Step é o próximo na progressão, uma vez que representa na realidade, a passada e o quão bem conseguimos estabelecer uma postura unipodal. Após dar o primeiro passo, nós tipicamente caímos e nos seguramos nós mesmos e nos preparamos para ficar em pé novamente (Inline Lunge).
Avaliação do Rolar
Outra importante avaliação que pode ser usada no FMS é o padrão multi-segmental de rolar.
(N.T: Em inglês: multi segmental rolling pattern. Este é um movimento que pertence a outra avaliação dentro do sistema de trabalho de Gray Cook, chamada: SFMA – Selective Functional Movement Assessment. Não tão famoso quanto seu irmão FMS o SFMA é uma avaliação, ao contrário do FMS que é uma análise, usada por Gray Cook com finalidades diagnósticas quanto alguém sente dor no FMS ou é um indivíduo lesionado.)
Onde o cliente é convidado a rolar de supino para prono ou de prono para supino usando apenas a extremidade superior ou extremidade inferior. O padrão multi-segmental de rolar, é uma avaliação do rolar que diz respeito ao Reflexo de Correção da Rotação discutido acima. Este teste nos dá uma apreciação da mobilidade e estabilidade do cliente, já que as limitações de mobilidade levarão a uma tentativa de tirar estabilidade de algum lugar com a finalidade de completar o movimento, e satisfazer quem está aplicando o teste... Afinal você pediu-lhe para rolar! Basicamente eles vão tentar de qualquer maneira que puderem.
E Sobre o Exercício?
Nossas progressões de treinamento deveriam representar estes marcos motores, já que as pessoas deveriam dominar as posições mais primitivas antes de moverem-se para movimentos que requerem mais coordenação/habilidades. Essencialmente, queremos “preencher as lacunas” para que nosso cérebro possa dar ao corpo um bom retorno de informação (N.T: feedback), a respeito de como se mover de maneira apropriada – você fez isso uma vez quando era criança, e precisa apenas lembrar-se como fazer isto novamente!
O objetivo de exercícios corretivos, feitos a partir da análise dos dados do FMS deveria ter uma abordagem semelhante aos nossos marcos motores. Antes de tentar corrigir o agachamento, você poderia corrigir primeiro as coisas que vem antes dele, já que seriam consideradas “mais primitivas”.
Os exercícios que prescrevemos para nossos clientes podem seguir uma sequência parecida de progressão e regressão. Aqui está um exemplo desta sequência para um chop:
→ Base ajoelhada seria mais primitiva do que ½ ajoelhada, então poderíamos começar aqui.
→ Base ½ ajoelhada viria a seguir já que ela altera a base de suporte do cliente e faz com que ele se sinta menos estável.
→ Seguir-se-ia então um chop em pé com base simétrica.
→ A base simétrica seria seguida por uma base assimétrica com os pés em linha.
→ Finalmente poderíamos progredir para o chop em base unipodal.
Chop ½ ajoelhado
Chop em pé - base simétrica
(N.T: Esse último vídeo mostra algumas outras variações além do exercício em pé. As formas de execução e variações desses exercícios são bem grandes também).
Conclusão
De repente, o treinamento dos clientes parece diferente!
Isto não diz respeito à quais exercícios fazemos, mas o que estamos realmente obtendo quando os desempenhamos é que é importante. Ter progressões e regressões de exercícios que seguem a sequência desenvolvimental motora, pode ser uma maneira eficiente de ajudar seus clientes a obter o máximo de seu treinamento.
*Um agradecimento especial a Charlie Weingroff por editar este artigo*
Obrigado! Ajudou muito aqui na atividade!
ResponderExcluirQue bom que contribui em algo pra ti Lazaro.
ExcluirValeu mano, ajudou muito aqui
ResponderExcluirNo site www.fortius.com.br temos muito mais recursos sobre o assunto: Artigos, ebooks e cursos. Procure pela palavra chave de "DNS - Dynamic Neuromuscular Stabilization".
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