quarta-feira, 6 de abril de 2016

Sequência Neurodesenvolvimental

Artigo do site da Editora On Target Publications, não está claro o autor, por isso vai o nome da editora no espaço destinado a este, embora eu suspeite que o artigo é do Gray Cook pelo estilo de conteúdo. Como não tenho certeza deixei o nome da editora mesmo.

Como de costume, inseri algumas notas e figuras que não estavam no artigo original, aos que quiserem lê-lo em inglês, aí vai o link:
Why is the Neurodevelopmental Sequence Important to Trainers





Porque a Sequência Neurodesenvolvimental é Importante para os Treinadores

On Target Publications


A sequência neurodesenvolvimental é a progressão normal do desenvolvimento motor que as crianças seguem à medida que crescem e desenvolvem a habilidade de rolar, engatinhar, ficar em pé, caminhar e muito mais.

A mesma sequência fornece um guia aos profissionais da reabilitação, uma progressão lógica de posturas e estratégias de movimento a seguir.

Infelizmente, muitos profissionais da reabilitação frequentemente colocam as pessoas de pé sem primeiro fazer com que elas dominem as posturas e estratégias de movimento de etapas desenvolvimentais mais básicas. Muitos profissionais do mercado não estão conscientes da sequência normal. Uma melhor consciência definitivamente iria ajudá-los com progressões/regressões de exercícios corretivos. 

Uma vez que essas posturas desenvolvimentais mais básicas fornecem a necessária força, estabilidade e coordenação para posturas mais desafiadoras, pular essas etapas no processo de reabilitação do movimento pode deixar os clientes sem a fundação necessária para que sejam bem sucedidos em níveis mais altos. A eficiência do movimento é diminuída e eles estão em um risco maior de lesão. 

Quer se trabalhe com atletas ou com o público em geral, ambos necessitam construir movimentos complexos a partir de uma base geral de movimento. Para isso os profissionais devem entender e aplicar a sequência neurodesenvolvimental.
(N.T: Quem, ao menos até onde sei, foram os pioneiros no estudo da sequência desenvolvimental, e desenvolveram todo um trabalho de reabilitação em primeiro momento e depois uma aplicação no exercício físico, foram os caras da Escola de Praga. Através de uma série de nomes ilustres da escola checa como Vladimir Janda, um de seus alunos chamado Pavel Kolar desenvolveu um conceito chamado: Dynamic Neuromuscular Stabilization - DNS. No DNS eles usam essa sequência para reabilitar e também para inserção no treinamento).



Gray Cook Discute os Erros que os Profissionais Cometem na Prescrição de Exercícios (Extraído do DVD: Essentials of Coaching and Training Functional Continuums DVD)


O que é Progressão?


A Sequência Neurodesenvolvimental
Os bebês chegam ao mundo com mobilidade irrestrita e seguem naturalmente e previsivelmente uma progressão de padrões de movimento (marcos desenvolvimentais ou marcos motores). Começam com o ganho de controle da cabeça e pescoço e progressivamente progridem para o rolamento, se arrastar, engatinhar, base ajoelhada, agachar, ficar em pé, dar um passo, caminhar, escalar e correr. 

Cada padrão de movimento serve como um degrau, ajudando a construir uma postura correta, equilíbrio, mobilidade, estabilidade e alinhamento para permitir que eles se movam para o próximo nível.

Estes padrões de movimentos básicos fornecem a fundação para habilidades de mais alto nível e deveriam ser examinados quando se busca reabilitar ou restaurar padrões de movimento faltosos.


Na maior parte das vezes, o bebê inicia a vida em uma posição supinada (N.T: De barriga para cima), suportado por um braço de adulto. Esta é uma posição baseada em flexão, de um nível (de exigência) extremamente baixo.

Por volta das 6 semanas, o bebê começa a desenvolver a habilidade de manter a cabeça ereta quando é sustentado em uma posição vertical.


Em seguida vem a posição pronada (de barriga para baixo). É uma posição baseada em extensão, permitindo ao bebê desenvolver estratégias de extensão para ser capaz de levantar a cabeça e pescoço.


Ao redor de 8 semanas, o bebê desenvolve a habilidade de se levantar a partir da posição pronada. Ele desenvolve estabilidade e mobilidade na coluna cervical, região escapulotorácica e nos membros superiores. Ele aprende a estabilizar o tronco enquanto alcança objetos e aplica força através dos braços.

(N.T: O DNS, mencionado anteriormente, usa estes marcos motores, essa sequência desenvolvimental, para prescrever exercícios que integrem o sistema de estabilização intrínseco do tronco a fim de reabilitar os indivíduos e melhorar a função do aparelho locomotor em geral. Abaixo um quadro, modificado dos posters a venda no site do DNS, que mostra uma progressão de exercícios baseados nesses marcos de desenvolvimento motor, ou estágios de neurodesenvolvimento).

A Importância da respiração e o diafragma
A base de todas estratégias do movimento e a habilidade de movimento mais básica é a respiração.

O diafragma funciona primariamente como um órgão respiratório na criança recém nascida, mas por volta dos 4,5 meses o diafragma começa a desenvolver uma função postural, além da respiratória. Ele oferece estabilidade para a coluna e o núcleo (N.T: Núcleo, tradução livre de "core") possibilitando a capacidade de começar a se mover desenvolvimentalmente em posições que não oferecem um suporte completo (N.T: Como quando o bebê está deitado de barriga para cima ou para baixo. Posições que oferecem suporte completo, ou seja, muitos pontos de apoio)
(N.T: Para que este sistema de suporte postural funcione adequadamente, é necessário que o posicionamento do gradil costal, e consequentemente do diafragma, esteja alinhado com o assoalho pélvico, formando assim o que muitos chamam de "cilindro". Esse cilindro possibilita um sistema de estabilização AUTOMÁTICO eficiente através da regulagem da pressão intrabdominal e correta sequência de ativação neuromuscular: Necessária para estabilizar o tronco. Acredita-se que a chave, o gatilho para que este sistema funcione bem é a respiração natural e correta. Mais sobre esse sistema de estabilização automático, ou como chamam alguns: O "Subsistema Intrínseco de Estabilização" pode ser achado nesse texto adaptado nesse espaço: Subsistema Intrínseco de Estabilização).
Subsistema Intrínseco de Estabilização


Adaptação do material oficial do DNS - Correto e incorreto posicionamento do cilindro


Aqui um vídeo do DVD Mark Cheng: Prehab Rehab 101 sobre como usar um kettlebell leve para ensinar uma respiração diafragmática apropriada.


Rolamento
O rolamento começa tão cedo quanto 3 semanas, embora a maioria inicie a partir de 8 semanas. As crianças normalmente iniciam esse movimento de lado e terminam de barriga para cima ou iniciam de barriga para baixo e terminam de lado. Ao redor de 16 semanas, eles desenvolvem a força e estabilidade necessárias para começar o movimento de barriga para cima e terminar de lado. 

O rolamento inicia com a cabeça (N.T: Após o olho guiar o movimento, mais sobre o assunto em um artigo adaptado recentemente aqui: Movimento dos Olhos) e é frequentemente a primeira mudança na posição postural das crianças.

Quando se trata de adultos, o rolamento é uma estratégia de movimento que não é usada com frequência e quase sempre é deficiente. É uma ótima maneira de avaliar, assim como serve de técnica de intervenção para restaurar a sincronia do movimento entre as extremidades superiores, o tronco e as extremidades superiores.

O rolamento pode ser iniciado pelas extremidades inferiores ou superiores. O núcleo, que se encontra no meio da cadeia cinética tem de ser capaz de transmitir força de uma extremidade para outra.



Se estamos usando o rolamento como uma avaliação ou técnica de intervenção, devemos prestar atenção nos pontos onde o movimento "trava", onde as pessoas simplesmente não conseguem se mover sem que comecem a compensar ou usar um "impulso". Pontos de travamento ocorrem onde a sequência ou o controle motor falham e o movimento não flui naturalmente. Normalmente isso não ocorre em virtude de músculos fracos ou inibidos, mas porque o padrão não funciona.
(N.T: Pelo que tenho experimentado ao usar o Método NKT, vejo que muitas vezes podemos sim, utilizar a estratégia de avaliar e corrigir os músculos fracos/inibidos dentro do padrão de movimento. Após analisarmos e corrigirmos os músculos individuais dentro do padrão de movimento podemos fazer a integração dos músculos falhos dentro desse padrão. Uma possível abordagem é:
Avaliar e trabalhar o todo - Avaliar e corrigir as partes - Integrar novamente ao todo. Resumindo, seria: Uma abordagem Global-Local-Global).

(N.T: Abaixo um vídeo antigo que eu já havia postado aqui em 2010, mas que não me canso de ver, sobre a jornada do rolar. Acompanhemos a Liv então...).


4 Apoios e Engatinhar
Pegar objetos de maneira ativa (N.T: E não como um reflexo. O chamado Reflexo de Babinski, quando o bebê realiza uma forte preensão manual quando é estimulado na palma da mão) ocorre em algum ponto entre 2 e 7 meses de idade. A criança se move para a posição sentada e de 4 apoios uma vez que desenvolve a estabilidade necessária nos quadris e pelve. A posição de 4 apoios então progride para o engatinhar ao redor de 7 meses.

A posição de 4 apoios é uma grande postura desenvolvimental para os adultos experenciarem. Temos aí entre 4 e 6 pontos de contato com o solo e temos removido o estímulo direto da barriga (quando pronado) e das costas (quando supinado).



Isso envolve um grande estímulo da descarga de peso corporal nas pernas e braços, consequentemente através da cintura escapular e cintura pélvica.

Nessa posição, podem ser iniciadas atividades em cadeia cinética fechada, como a mudança do peso corporal - ajudando a determinar onde se encontra a posição neutra da coluna.

Novas intervenções na correção do movimento podem ser usadas usando o engatinhar: Seja engatinhar rápido ou no lugar, ou usar um "passo" no lugar com as mãos e joelhos (como uma maneira de enfatizar a estabilidade ou os estabilizadores proximais da pelve, região escapulotorácica e da coluna).




A partir do engatinhar, as crianças passam para posturas de transição quando avançam mais próximas à posição em pé: Como a base ajoelhada e meio ajoelhada. Isto ocorre ao redor de 8 meses. 

A base ajoelhada fornece um desafio anterior-posterior ao núcleo e extremidades inferiores sem usar os pés, e é um valioso recurso na reabilitação. Acaba ajudando a melhorar a estabilidade e controle dinâmico do núcleo e da pelve.  


Gray e Dan John: Trabalhando na Base Ajoelhada


Que exercícios usar para trabalhar nos padrões desenvolvimentais?
No DVD: Prehab-Rehab 101 - The Groundwork Progressions, Mark Cheng explica 5 posições na sequência desenvolvimental:

  • Periscópio (Periscope)
  • Esfinge (Sphinx)
  • Engatinhar (Crawling)
  • Ajoelhado
  • Meio-ajoelhado

Estas 5 posições são mostradas em detalhes e as ferramentas para regredir e progredir estes exercícios são fornecidas para poderem ser usadas com os clientes, atletas ou pacientes. 

Mark inicia nas posições desenvolvimentais mais básicas e progride até posições de transição como a base meio ajoelhada, o precursor de ficar em pé, a base simétrica (N.T: Em pé, com um pé ao lado do outro), base assimétrica (N.T: Em pé, com um pé a frente e o outro atrás) e a postura unipodal (N.T: Em uma perna somente)


Aqui alguns clipes do DVD:
Mark Cheng - Movimento é Como Dinheiro

Dicas Táteis Simples para a Posição de Esfinge

Discussão a Respeito de Exercícios na Posição de Esfinge

Marcha Cruzada no Lugar

Base Ajoelhada


Exercício de Rotação em Base Meio Ajoelhada