segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Curso de Treinamento Funcional: UCS - Caxias do Sul

Curso de Treinamento Funcional: Módulo 1

Neste último final de semana (dias 27 e 28 de agosto) tive a grande honra de ser convidado pelo professor Alexandre “Xandão” Ortiz de Porto Alegre para ministrar um curso abordando conceitos e práticas sob uma perspectiva funcional do treinamento físico. Além de quem vos fala e do próprio Xandão o professor Eduardo Cadore de Porto Alegre também foi um dos ministrantes.

Esse curso foi concebido graças à iniciativa dos professores Eduardo Ramos e Ivan Wilian Giazzon, através do Laboratório do Movimento Humano (LMH) da Universidade de Caxias do Sul – UCS.

Creio que o saldo foi positivo e espero que os participantes possam começar a integrar os conceitos e práticas apresentadas a seu cotidiano, contribuindo para o sucesso de seus programas de treinamento.

Alguns dos conteúdos abordados foram:

- Histórico do movimento humano
- Movimentos Primários
- Funções Articulares (The Joint by Joint Theory)
- Biomecânica Básica: eficiência do movimento humano
- Noções da Avaliação Funcional do Movimento (Functional Movement Screen - FMS)
- Elaboração do Treinamento:
- Auto Liberação Miofascial
- Preparação de Movimento
- Treinamento de Força

Aqui estão alguns pequenos vídeos da parte prática do curso:

VÍDEO 1 - Prática Progressões de Estabilidade para Parede Posterior (variações de pontes):


VÍDEO 2 - Prática Progressões de Estabilidade para Parede Posterior (variações de pontes):


VÍDEO 3 – Estabilidade para Parede Anterior (prancha frontal):


VÍDEO 4 – Progressão de Estabilidade para Parede Anterior (prancha frontal na bola):


VÍDEO 5 – Progressão de Estabilidade para Parede Anterior (prancha frontal na bola c/ pé elevado):


VÍDEO 6 – Progressões de Puxar na Vertical (variações de face pulls c/ elástico):


VÍDEO 7 – Progressões de Puxar na Horizontal (variações de remadas c/ elástico):


VÍDEO 8 – Progressões de Puxar na Horizontal (remada inclinada c/ kettlebell – base simétrica):


VÍDEO 9 – Progressões de Puxar na Horizontal (remada inclinada c/ kettlebell – base assimétrica):


VÍDEO 10 – Progressões de Puxar na Horizontal (remada no TRX):

Aqui cabe uma correção. Quando digo anilhas ao final do vídeo, queria dizer caneleiras.

VÍDEO 11 – Progressões Dominante de Quadril Bilateral (levantamento terra com barra):


VÍDEO 12 – Progressões Dominante de Quadril Unilateral (levantamento terra unilateral - alcançando):


Depois publico algumas fotos do evento.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Expansão da Abordagem Articulação por Articulação - Parte 3

Aqui vai a última parte deste artigo do Cook. Notem que ele vai um pouco além de falar somente da abordagem, e na parte final coloca uns pensamentos bem interessantes sobre a forma como agem os fisioterapeutas. Acho que meus amigos fisioterapeutas podem comentar melhor o caso.
Abraço a todos.

Expansão da Abordagem Articulação por Articulação – Parte 3
Gray Cook


Retirado do livro: Movement: Functional Movement Systems - Screening, Assessment and Corrective Strategies (N.T: Livro lançado em agosto de 2010, ainda sem tradução em português).

Costelas, vértebras e um monte de músculos e fáscia cruzam a parte da frente e de trás do tórax causando rigidez torácica. Não temos uma grande mobilidade inerente nesta região, mas precisamos de toda que pudermos ter. No entanto, a rigidez não á apenas algo de que precisamos nos livrar. Existe rigidez ali por algum motivo. Mecanismos biológicos que funcionam muito bem na infância, desenvolverão rigidez seguida à uma lesão ou uma mecânica repetitiva ruim ao longo do tempo. Se o corpo não se estabiliza corretamente, ele vai descobrir outra forma de obter estabilidade: isto é chamado de rigidez.

Se você encontrar tensão nos isquiotibiais ou na coluna torácica e você acabou de fazer uma auto liberação miofascial, você pode mudar a mobilidade, mas verá a rigidez retornar no dia seguinte. Esforços de mobilidade sem reinstalar estabilidade em algum outro lugar, simplesmente não duram. Aqueles isquiotibiais estão tensos por algum motivo. Aquela coluna torácica está rígida por alguma razão.

Auto Liberação Miofascial Isquiotibiais:


Auto Liberação Miofascial Coluna Torácica:


Se você não preencheu alguns desses novos movimentos com integridade muscular reflexa e controle motor, você terá um problema. Normalmente veremos isquiotibiais tensos em pessoas que não estendem bem o quadril. Elas não usam bem os glúteos, então os pobres isquiotibiais recebem trabalho dobrado. Tornando-se sobrecarregados. Um músculo fadigado e um músculo tenso se parecem muito.
É tudo proteção.

A maioria dos problemas na coluna torácica ocorrem em pessoas que ainda não tem amplitude de movimento completa, estabilidade no core e força muscular. Podemos ver uma coluna torácica rígida em pessoas que podem fazer uma prancha lateral ou uma prancha frontal por uma hora, mas que não tem uma grande estabilidade no core através de uma rotação completa do ombro no swing do golfe. Esta pode ser uma rigidez desenvolvida como proteção. Quando subimos até a coluna torácica, gostaríamos de ter mobilidade.

Prancha Lateral:


Prancha Frontal:


Golfe Swing:


Na região escapulotorácica, existe somente uma ligação óssea da escápula ao esqueleto axial (gradil costal ou vértebras) e que está na articulação esternoclavicular. Este é o lugar onde a extremidade superior da clavícula e o esterno se encontram. A articulação acromioclavicular (AC) e a articulação esternoclavicular estão em cada extremidade da clavícula, conectando a cintura escapular ao resto do corpo.

Mas aquela pobre escápula está flutuando no gradil costal, sustentada no lugar principalmente por músculos e por duas articulações que não são muito maiores do que as articulações do dedo indicador.


Essa área escapulotorácica precisa de estabilidade. Isso significa que não temos de nos livrar de alguns pontos gatilho no trapézio superior antes? Não. Mas frequentemente esta escápula está presa na posição errada. Pensamos que ela está estável, mas ao invés disso ela não é móvel. Isso não significa que ela é estável onde deveria ser. Às vezes temos que soltar esta escápula para torná-la mais estável. Fazemos auto liberação miofascial na parte superior das costas, fazemos um pouco de alongamento para o músculo redondo maior, metemos uma bolinha de tênis na região da axila, alongamos isso e resetamos a escápula. Em seguida, a treinamos para uma autêntica estabilidade, mas somente quando a mobilidade é aceitável.

Pontos Gatilho – Trapézio Superior:


Mais uma vez, nós vemos trapézios tensos, e pensamos que a última coisa que precisamos fazer nestes ombros é adicionar estabilidade, pensando que ao invés disso precisamos fazer um trabalho de mobilidade. Talvez você traga a escápula de volta ao lugar a que ela pertence, mas se você quer ver se ela é estável, olha a pessoa realizando um levantamento terra e veja se pode ser mantida a mesma posição escapular durante o movimento. Não? Então o indivíduo não tem estabilidade. O levantamento terra representa uma tração, e pranchas frontais e flexões de braço (apoios) representam compressões. Um ombro estável precisa ser capaz de gerenciar ambas as situações.

Na articulação glenoumeral buscamos mobilidade. Mas certamente você pode pensar em uma pessoa com o ombro deslocado. Uma vez que pense isso pode pensar que todo mundo precisa estabilizar a articulação glenoumeral, mas se você realmente medir a amplitude de movimento da articulação, pode começar a pensar de maneira diferente.

No passado, trabalhamos o treinamento do ombro focando no manguito rotador e tentávamos fortalecê-lo. Então ao nos tornarmos melhores percebemos que o ombro precisava de uma base estável. Esta base era a escápula.

Músculos do Manguito Rotador:


Como tornar a escápula estável se a coluna torácica é rígida? A escápula pode estar se movendo incorretamente ou movendo-se demais quando os ombros não se movem direito. Eu vi muitos golfistas tentarem isto. Eles não tem mobilidade na coluna torácica de modo a ter um bom giro do ombro no swing do golfe, eles protraem um ombro, retraem o outro e parece que estão girando a coluna torácica. Não estão. Estão só desestabilizando ambos os ombros.

Podemos levar isso alguns passos adiante. Passada a articulação glenoumeral, estamos de volta à coluna torácica, subimos até o meio do pescoço, da sétima até a segunda vértebra cervical talvez. A maioria das pessoas necessita de mais estabilidade lá. Elas precisam de sua curvatura de volta, e elas precisam de uma boa estabilidade.

A maior parte das pessoas nesta era do computador, na era do automóvel, tem rigidez na região suboccipital, as articulações entre a base do crânio e a 2ª vértebra cervical (C2). É por isso que muitas pessoas quando cerram as mandíbulas não consegue encostar o queixo no peito, ou fazer 45º de rotação sem usar o resto do pescoço. Estão com a região suboccipital muito tensa de muitos hábitos posturais ruins e de tensão na área. Elas sobrecarregam os componentes mediais do pescoço que são onde normalmente vemos alterações degenerativas.

Onde mais vemos alterações degenerativas na coluna? Na região média do pescoço e na coluna lombar, áreas que precisam de mais estabilidade. Uma vez que estas áreas tornam-se degeneradas, elas tornam-se rígidas. Muitas pessoas não entendem que rigidez no corpo é uma tentativa de parar a frouxidão.

Normalmente vemos um pouco de degeneração nos joelhos. Isso não significa que não temos isso nos quadris e tornozelos, mas nos joelhos isto parece ter se agravado. Esta é uma área que provavelmente poderia ter mais estabilidade e melhor alinhamento, melhor tudo.

Podemos seguir até o cotovelo e as mãos, mas são regiões complicadas pois temos lesões a considerar. O cotovelo é mais de uma articulação também; há um monte de coisas acontecendo lá também. Quando chegamos nas mãos, com todas as tarefas manipulativas que as pessoas fazem, uma das primeiras coisas que eu sempre olho é a extensão e flexão completa do punho. Sem isso, toda a mecânica da cadeia acima se torna comprometida: cotovelo, ombro, escápula, coluna torácica e pescoço.

Em nosso DVD Secrets of the Shoulder (N.T: Sem versão em português), Brett Jones e eu discutimos todos os neurônios no cérebro dedicados ao braço todo, escápula e até mesma a perna do mesmo lado.

Existe uma grande quantidade de área cerebral dedicada ao gerenciamento efetivo da mão. Quando existem restrições, compensações e problemas na mão, uma pessoa praticamente contorce o corpo inteiro para se adaptar a isso.

Por isso que a informação sensorial é muito importante, por isso que a informação do pé é muito importante, por isso que a informação da mão é muito importante, sem isso uma pessoa sacrificará outras partes do corpo. Por isso temos de certificar-nos de obter um bom panorama geral da pegada, da passada, da marcha e a maneira como o pé se conecta, e da forma como a visão interage com isso tudo.

O propósito do conceito articulação por articulação é perceber generalidades. É mobilidade empilhada sobre estabilidade, empilhada sobre mobilidade. Os exemplos estão aí para fazer você pensar: acima e abaixo da área em que está trabalhando e das coisas pelas quais está procurando. Por isso, em certo sentido, a abordagem articulação por articulação é simplesmente outra forma de fazer as pessoas avaliarem padrões completos de movimento fora do FMS (N.T: Functional Movement Screen, algo como análise de movimento funcional, um teste ou análise de movimentos inventado por Gray Cook que já tornou-se célebre no mundo inteiro).

Uma vez que tenha isso, se decidir ir até o fim de sua vida sem usar o FMS, isso não me aborrecerá nem um pouco. Ele é simplesmente uma ferramenta. Desde que você obtenha a perspectiva, ótimo. O que acontece, porém, é que esta ferramenta define uma base grande e algumas vezes nos protege de nossa subjetividade. Um médico pode ser realmente bom em diagnosticar fraturas, mas ainda gostaríamos que ele fizesse um
raio-X.

É muito fácil sem um raio-X ter cerca de 85% de precisão em diagnosticar uma fratura, e qualquer um que fez medicina esportiva por muito tempo tem uma percepção de um entorse ou uma fratura. Mas você sempre quer ter o raio-X.

Eu tenho uma perspectiva muito boa de como uma pessoa se move, mas eu quero revisitar a base porque se eu melhorar o movimento de alguma maneira, não quero ter apenas minha informação subjetiva para dizer isso.

Muitas vezes vemos pessoas com foco na estabilidade do core. Eles martelam a prancha lateral, eles martelam outro exercício qualquer. A estabilidade no core é melhor, não discutirei isso. Mas agora que você levantou o trapézio superior, tirou o pescoço fora do alinhamento, o quadril basicamente não move; nada melhor do que isto feito antes da prancha lateral. A prancha lateral ativa o core, não conserta o quadril, o ombro e o pescoço.

Isso é o que? Um passo a frente e dois passos para trás? Esse é o problema quando entramos na abordagem cinesiológica. Encontramos um erro de movimento e queremos corrigi-lo. Mapeamos os músculos motores primários naquela área. Os exercitamos concentricamente, e pensamos que fizemos alguma coisa. Não fizemos.

Honestamente, nós deixamos muita coisa de lado em se tratando de reabilitação, não podemos atirar pedras em ninguém na preparação física. O fator de risco número um para uma futura lesão é uma lesão passada. Isso praticamente significa que existe um monte de quiropraxistas, fisioterapeutas e treinadores liberando as pessoas, ou dando-lhes um atestado de saúde quando os pacientes dizem que se sentem bem. Isso é ótimo, fico feliz que elas se sintam bem.

Se o médico libera um jogador da NFL (N.T: National Football League, é a liga profissional de futebol americano), o preparador físico pode concordar que o problema médico está resolvido. No entanto, estar bem e estar pronto para jogar são 2 coisas diferentes. O FMS e outro teste funcional qualquer, demonstram fatores de risco, e os melhores preparadores físicos olham esses fatores de risco constantemente. O cara pode ter um avanço (lunge) assimétrico. Ele está livre de dor; ninguém está discutindo isso. Mas nós como clínicos da área musculoesquelética estamos liberando pessoas que se sentem bem, mas que ainda se movem de maneira ruim. Os mandamos de volta a seus personal trainers, de volta a seus preparadores físicos, de volta a seus instrutores de ioga.

Agora temos a indústria do fitness inteira tentando lidar com problemas que deveriam ter sido resolvidos na situação de reabilitação ou ao menos previstos, significando que os clínicos precisam estar preparados para ter outra conversa com o paciente:

“O convênio não vai me pagar se eu tratá-lo mais, você não tem dor nas costas e se sente bem, mas você não agacha bem. Quando faz um avanço com o lado esquerdo, ele parece ótimo. Quando faz com o lado direito ele torna-se muito instável. Eu quero você ligado à um treinador que consiga isso. Aqui está o negócio.”
“Você têm que estar com seu padrão de movimento, no avanço, simétrico e ter seu padrão de movimento no agachamento, de volta. Eu sei que você quer perder peso e voltar para a academia, mas você precisa se mover bem antes de se mover mais. Eu sei que você quer estar bem condicionado novamente. Eu sei que você quer jogar golfe na primavera. Estes são os meios mais rápidos para se chegar lá”.


Isso é o que eu falo nas nossas oficinas de treinamento quando as pessoas trabalham juntas. O fator de risco número 1 para uma lesão é uma lesão prévia. Isso é um insulto a qualquer um que esteja tratando lesões, porque isso significa que estamos deixando fatores de risco de lado. Isso não significa que temos que corrigir todos esses problemas, mas podemos usar nossa rede de contatos profissionais para dar opções aos nossos pacientes.

Quando descascarmos a cebola, adivinhe onde os fatores de risco estarão? Não é na força muscular. Nem sequer flexibilidade. Não são assimetrias de mobilidade ou estabilidade.
Assimetrias de movimento.

Quebre estes padrões. Descubra o que esta causando isso: restrição na dorsiflexão, mecânica ruim da coluna, o que quer que seja. Conserte isso, mas cheque novamente o padrão de movimento. Se o padrão de movimento não mudou, você pensou que tinha consertado, mas não o fez. Continue trabalhando, continue aprimorando. Quando o padrão de movimento mudar, você fez seu trabalho.


Controle Motor:

Controle motor é a capacidade de equilíbrio e movimento através do espaço e amplitude de movimento. As pessoas chamam isso de estabilidade; iremos chamar de controle motor. Não é força. Você pode manter o equilíbrio sobre um pé? Pode controlar um agachamento profundo? Pode fazer um avanço com uma base de apoio estreita sem perder o equilíbrio?

Assimetrias e controle motor são duas coisas ocultas que não são abordadas na reabilitação. Gostaria que toda a comunidade do fitness aprendesse com os erros que cometemos. Apenas porque uma pessoa se sente bem, não significa dizer que ela não está em risco de uma lesão, e isso também não significa que essa pessoa está indo ao matodouro com o programa de exercícios que você planejou.
Seus clientes estão tentando se mover ao redor das coisas ao invés de se mover através das coisas.

A abordagem articulação por articulação é um excelente modelo para levar você de volta ao pensamento de que a cinesiologia vai salvar o dia. Isso faz você considerar as articulações acima e abaixo, mas se você quer outra forma de verificar, olhe para o padrão de movimento completo.

Movimento; uma vez que o obtemos através da mecânica correta, ainda resta uma individualidade comportamental que permanece amplamente não acessada. Realmente, quando treinamos pessoas e estamos trabalhando em treinamento funcional, estamos trabalhando em condicionamento, treinando ou mudando o comportamento do movimento. Para levar a abordagem articulação por articulação um pouco mais fundo, não foque apenas no segmento em que você pensa que encontrou um problema.

Perceba isto: Até que esteja tudo claro acima ou abaixo, não pode ser um problema singular.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Expansão da Abordagem Articulação por Articulação - Parte 2

Continuando o artigo extraído do último livro do Gray Cook. Observando que as figuras colocadas nos textos são por minha conta para facilitar o entendimento (não existem no artigo original).
Abraço aos leitores.

Expansão da Abordagem Articulação por Articulação – Parte 2
Gray Cook


Retirado do livro: Movement: Functional Movement Systems - Screening, Assessment and Corrective Strategies (N.T: Livro lançado em agosto de 2010, ainda sem tradução em português).

Revisando as articulações

Eu frequentemente inicio a discussão no pé, onde eu me submeto a Todd Wright e Gary Gray. Eles tem uma grande perspectiva e discussão com respeito ao pé. As pessoas sempre tentam me puxar para uma discussão: de cima para baixo ou de baixo para cima, mas eu não estou comprometido com uma ou outra maneira. Os problemas podem vir de qualquer lugar e serem corrigidos por qualquer abordagem. A grande questão é o que você vê.

Aqui está um exemplo.

Vamos dizer que façamos uma análise do movimento e percebamos que os padrões de elevação da perna (Active straight-leg raise), mobilidade do ombro, estabilidade do tronco e estabilidade rotacional são ótimos, mas em pé, o agachamento, o passo sobre a barreira (hurdle step) e o avanço (lunge) são ruins. Você precisa considerar o pé. Por isto as coisas estavam indo tão bem até que o pé foi solicitado à dar sua contribuição. O que não implica um problema no pé; simplesmente sugere que os comportamentos e percepções são comprometidos quando o pé toca o solo.

Elevação Ativa da Perna (Straight Leg Raise)

Passo Sobre a Barreira (Hurdle Step) e Avanço (lunge)



Aqui está o que eu quero que as pessoas saibam: O cérebro e suas vias de informação trabalham de 2 formas. Não apenas mandamos informação até a medula espinhal e de lá até as mãos e os pés. Estamos também enviando informações através das mãos e dos pés.

Se os pés são frouxos(sloppy) e a pegada é ruim, o indivíduo não só provavelmente não irá ativar os músculos certos, como nem mesmo irá enviar a informação sensorial correta. Deixe-me dizer novamente. Se existe algum comprometimento de mobilidade ou estabilidade entre o pé e o cérebro, é como estar em pé sobre duas mangueiras de jardim querendo saber onde está toda água. O caminho da informação é dividido em duas maneiras... para cima e para baixo.

O pé já não é um órgão sensorial, pois qualquer informação que o pé possa coletar em seu alinhamento normal foi comprometida. O pé tem que pronar ainda mais por causa de um tornozelo rígido, ou talvez o pé tenha que ser muito ativado através dos flexores plantares por culpa de um joelho frouxo.

Pé Pronado:


A outra razão pela qual temos de “limpar” este padrão; não é apenas uma via sensorial descendente; é uma via sensorial ascendente também. O pé se manterá achatado para conseguir mandar informação sensorial tanto quanto possível, porque o cérebro sabe que há um problema. Ele está esperando que mais informação irá ajudar. Se você tem um posicionamento ruim de ombros em movimentos de puxar ou empurrar, você vai fazer coisas com sua pegada que não são tão autênticas quanto poderiam ser.

Vamos voltar para o pé. O pé precisa ser móvel, mas ele é criado para ser inerentemente móvel. Observe quantos ossos, quantas articulações estão no pé. Existe movimento em toda parte a menos que haja artrite. O papel muscular neste pé deveria ser o de estabilidade, é por isso que existem todos aqueles músculos intrínsecos. Estes músculos que habitam o interior do pé, dentro do arco do pé.














Então, temos o tornozelo. É um osso, articulação estável. Você nunca verá muitas pessoas com uma dorsiflexão ou uma flexão plantar exagerada. Mas por ocorrerem entorses ou luxações por inversão ou eversão elas pensam que devemos treiná-lo para estabilidade.

Na maioria das vezes o paciente com o tornozelo torcido também terá restrição na dorsiflexão, a menos que tenha pisado em falso ou tenha sido uma lesão por trauma. Existe uma grande prevalência de dorsiflexão restrita em pessoas que apresentam problemas de joelho, seja ligamento cruzado anterior ou ligamento colateral medial.

Quando o cliente consegue agachar até a coxa ficar paralela ao solo, frequentemente deixamos de fora os últimos 10º de dorsiflexão, pensando que isto não é grande coisa. Queremos que o pé seja estável, mas isso não significa que o pé tenha de ser rígido. Queremos um pé móvel que seja instantaneamente estável e empurre o solo, mas também que seja relaxado o suficiente para acomodar uma grande amplitude de movimento.

O pé tem de ser adaptável, mas também tem de ser instantaneamente estável. O tornozelo tem que ter liberdade de movimento. Não pode haver restrições no tornozelo. Ele também tem de ser estável, mas um dos maiores problemas que nós vemos é a falta de dorsiflexão. São nossos calçados? É a maneira que treinamos? É tudo isso. Os músculos que se inserem ao redor do tornozelo tem grande alavanca e força, mas a mobilidade fornece a maior função global para utilizar a força potencial e potência no tornozelo.


Precisamos desse reflexo inerente de estabilidade no pé. Precisamos ter o tornozelo “limpo” quando se trata de flexão plantar e dorsiflexão.

Os joelhos são simples articulações em dobradiça. Eles supostamente flexionam e estendem, e quando começam a rodar demais ou mover em valgo ou varo, começamos a ver problemas no joelho. Será que o joelho precisa ser móvel? Sim, mas uma vez que é móvel, ele precisa ser estável o suficiente para ficar no plano apropriado de movimento onde seus atributos funcionais são possíveis e práticos.


As articulações de rotação (N.T: de membros inferiores) são o tornozelo e o quadril. O tornozelo não é apenas uma dobradiça, e o quadril não move em apenas um plano. O joelho é uma articulação mais comum. O que queremos ver no joelho é que uma vez que temos mobilidade, precisamos de estabilidade.

Quais são os problemas mais comuns que encontramos no quadril? Podemos ver um quadril com frouxidão? Podemos ver um quadril com deslocamento? Sim. Mas em geral, vemos muito mais quadris que não tem mobilidade completa.

Problemas nos pés: As pessoas perdem sua estabilidade.

Problemas no tornozelo: As pessoas perdem sua mobilidade.

Problemas no joelho: As pessoas perdem sua estabilidade.

Problemas no quadril: As pessoas perdem sua mobilidade.

Agora estamos na coluna lombar: As pessoas perdem sua estabilidade.

Então, mais uma vez estes não são os 10 mandamentos, mas existem tendências comuns quando ocorrem lesões, treinamento ruim, dominância unilateral, falta ou excesso de treinamento. Estas são tendências comuns que ocorrem no corpo; não são absolutos.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Expansão da Abordagem Articulação por Articulação - Parte 1

Aqui vai um artigo escrito pelo fisioterapeuta norteamericano Gray Cook retirado de seu último livro. Ele faz alguns esclarecimentos com relação a abordagem de treinamento "Articulação por Articulação" que já tornou-se célebre na industria do fitness e da preparação física. Quem não sabe do que se trata, leia o artigo traduzido: Articulação por articulação. Ou a versão original em inglês: Joint by joint approach to training.


Expansão da Abordagem Articulação por Articulação
Gray Cook


Retirado do livro: Movement: Functional Movement Systems - Screening, Assessment and Corrective Strategies (N.T: Livro lançado em agosto de 2010, ainda sem tradução em português).

A conversa original entre Mike Boyle e eu a respeito da abordagem de treinamento articulação por articulação foi mais com a relação a um processo de pensamento do que a respeito de fatos fisiológicos e absolutos. Isto foi tema de muita discussão, mas aqui esta a pérola: Nossos corpos modernos tem começado a desenvolver tendências. Aqueles de nós que são sedentários, assim como aqueles de nós que são ativos, parecem migrar para um grupo com problemas similares de mobilidade e estabilidade. Lógico que serão encontradas exceções, mas quanto mais você trabalhar na área do exercício e da reabilitação mais você verá estas tendências, padrões e problemas comuns.


Um resumo rápido seria assim:

1. O pé tem uma tendência à frouxidão (N.T: a palavra em inglês é sloppiness se alguém tem uma tradução melhor poste um comentário) e portanto poderia se beneficiar de maiores quantidades de estabilidade e controle motor. Podemos culpar calçados ruins, fraqueza nos pés e exercícios que negligenciam os pés, mas o ponto é que a maioria dos nossos pés poderiam ser mais estáveis.

2. O tornozelo tem uma tendência à rigidez e, portanto poderia se beneficiar de maiores quantidades de mobilidade e flexibilidade. Isto é particularmente evidente na tendência comum de limitação de dorsiflexão.

3. O joelho tem uma tendência à frouxidão e, portanto poderia se beneficiar de maiores quantidades de estabilidade e controle motor. Esta tendência geralmente antecede lesões nos joelhos e degenerações que na realidade faz com que eles se tornem rígidos.

4. O quadril tem uma tendência à rigidez e, portanto poderia se beneficiar de maiores quantidades de mobilidade e flexibilidade. Isto é particularmente evidente em testes de amplitude de movimento para extensão e rotação medial e lateral.

5. A região sacral e lombar tem uma tendência à frouxidão e, portanto poderia se beneficiar de maiores quantidades de estabilidade e controle motor. Esta região está situada em uma encruzilhada de stress mecânico, e a falta de controle motor é frequentemente substituída com rigidez generalizada como estratégia de sobrevivência.

6. A região torácica tem uma tendência à rigidez e, portanto poderia se beneficiar de maiores quantidades de mobilidade e flexibilidade. A arquitetura desta região é projetada para suporte, mas maus hábitos posturais podem promover rigidez.

7. A parte inferior e média da coluna cervical tem uma tendência à frouxidão e, portanto poderia se beneficiar de maiores quantidades de estabilidade e controle motor.

8. A região cervical superior tem uma tendência à rigidez e, portanto poderia se beneficiar de maiores quantidades de mobilidade e flexibilidade.

9. A região escapular tem uma tendência à frouxidão e, portanto poderia se beneficiar de maiores quantidades de estabilidade e controle motor. A substituição escapular representa este problema e é um tema comum na reabilitação do ombro.

10. A articulação do ombro tem uma tendência à rigidez e, portanto poderia se beneficiar de maiores quantidades de mobilidade e flexibilidade.

Observe como rigidez e frouxidão se alternam. Claro que traumas e problemas estruturais podem quebrar este ciclo, mas este é um fenômeno presente e observável, produzindo muitos problemas comuns de padrões de movimento. Este fenômeno também representa a regra na avaliação ortopédica de sempre avaliar as articulações acima e abaixo da área problemática. Não seria lógico esperar melhorar a estabilidade do joelho na presença de restrições na mobilidade do tornozelo e do quadril. Da mesma forma, seria inviável supor que uma recente melhora na mobilidade do quadril não voltaria à rigidez se não fosse criada uma melhora na estabilidade no joelho e na região lombar. Frouxidão crônica seria sempre a opção mais fácil de ser utilizada pelo corpo do que a nova mobilidade.

Quando Mike e eu discutimos pela primeira vez estas camadas de opostos, ele fez um ótimo trabalho desenvolvendo o tópico, para discutir uma abordagem mais abrangente para a concepção do programa de exercícios.

O ponto é que a abordagem articulação por articulação não são os 10 Mandamentos da Mobilidade e Estabilidade: Torne o tornozelo móvel. Torne o joelho estável. Torne o quadril móvel. Torne a coluna lombar estável. Nós iremos encontrar a cada momento uma pessoa que tem o tornozelo muito móvel ou que tem uma frouxidão no quadril. Usamos as palavras mobilidade ou estabilidade para implicar um segmento do corpo que poderia estar se movendo melhor ou ter mais controle. A questão toda é praticar com uma abordagem sistêmica para “desobstruir” as articulações acima e abaixo daquela que está com problemas.

Eu fui entrevistado sobre este assunto depois que ele se tornou popular, e muitos dos meus comentários a respeito da discussão sobre esta abordagem foram transcritos para você aqui:

→ Quando falamos do tornozelo, estamos falando a respeito da articulação do tornozelo, os inversores, os eversores, os dorsiflexores, os flexores plantares e todos os outros estabilizadores que controlam este tornozelo. Não estamos falando apenas a respeito da articulação, estamos falando a respeito do complexo. Da mesma forma com o joelho; quadril; a coluna lombar; coluna torácica, e assim sucessivamente por toda cadeia.

→ Quando estiver prestes a fazer um treinamento de estabilização do joelho ou estabilização lombar e toma a abordagem cinesiológica clássica de treinar todos os músculos ao redor do joelho ou todos os músculos ao redor do core, estará cometendo um erro em nove de dez oportunidades. Você está supondo que quando você treina o joelho, o quadril e o tornozelo estão contribuindo como deveriam, tanto quanto deveriam. Isso quase nunca acontece.

→ O mesmo acontece com a estabilidade lombar. Algumas das pessoas que produzem pesquisas com relação à estabilidade lombar hoje em dia são muito bem intencionadas com relação aos músculos que eles querem que ativemos e os músculos em que eles querem que foquemos nossos exercícios. Eu não tenho problemas com pesquisas ou sugestões com relação a estabilidade lombar. Tudo que peço é que os autores usem afirmações de qualidade na sua conversa sobre estabilização do core: Estas afirmações sobre estabilidade tem sido feitas supondo que se saiba como desobstruir os quadris a coluna torácica e outras regiões onde a mobilidade vai realmente comprometer a estabilidade. Estas regiões deveriam ser consideradas como razões potenciais para perda de estabilidade e comportamento de compensação.

→ Logicamente temos de nos certificar que estas áreas são móveis, pois se a os quadris e a coluna torácica não são móveis a estabilidade na coluna lombar que criarmos não é real. Nós desenvolvemos estabilidade e força suficientes fazendo pranchas laterais, mas nós não estabilizamos autenticamente em ambientes naturais. O ponto central na discussão “articulação por articulação” é garantir que estamos trabalhando no que pensamos que estamos trabalhando. A maioria de nós comete o erro assumindo frouxidão nos joelhos, rigidez no tornozelo, rigidez na coluna torácica sem considerar problemas potenciais acima e abaixo. Prancha Lateral



→ Qual seria a razão para a coluna torácica tornar-se rígida? Provavelmente exista uma falta de estabilidade em algum outro lugar. Frequentemente se não há estabilidade necessária do core a coluna torácica ficará rígida o que também funciona no sentido inverso. Se a coluna torácica é muito rígida a estabilidade do core será comprometida. Este não é o caso de encontrar o que veio primeiro: o ovo ou a galinha – é preciso ter ambos ou não será possível controlar nenhum.

A lição que se pode tirar da discussão articulação por articulação é esta: Ao invés de tentar memorizar como tudo isto supostamente funciona em um mundo perfeito, faça a si mesmo estas questões:
– Estou pronto para treinar mobilidade ou estabilidade neste segmento.
– Eu quero que este segmento se mova melhor ou eu quero que este segmento seja mais estável.
– Tenho realmente claro se as articulações acima e abaixo agravam o problema?

Extraído do apêndice 2 do novo livro de Gray Cook: Movement.